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Levantar o título de campeão cearense. Se atualmente o torneio perdeu seu brilho e muitas vezes a motivação de ser conquistado pelos times atuais, nas décadas passadas, sagrar-se campeão estadual era o sonho de boa parte dos clubes e um dos objetivos das carreiras dos atletas que entravam em campo. Agora, imagine todo esse encantamento pelo título aliado a uma conquista de uma equipe tida como “pequena”. O resultado é uma comemoração com muito fervor. E quatro equipes tiveram essa sensação, nem que tenha sido por uma única vez. Orion, em 1930, Tramways, em 1940, Calouros do Ar, em 1955 e Gentilândia, em 1956, estão no seleto grupo de equipes vencedoras do Campeonato Cearense. Más administrações, fim de ciclos de jogadores, dificuldades financeiras e modernização do futebol são só alguns dos fatores que fizeram com que esses times não conseguissem avançar em títulos nas demais décadas à frente. LEIA MAIS . Times esquecidos . Nobreza que virou passado . O campeão completo Campeão em 1930, o Orion existiu por apenas três anos. Ele surgiu resultado de uma dissidência de alguns jogadores do Fortaleza da época e que resolveram criar seu próprio time. Segundo os pesquisadores, o movimento foi liderado pelos irmãos Moacir, Jandir, Juraci e Caranã. Nas cores alvinegras, o Orion começou a disputar partidas amistosas ainda em 1929. Formado por bons jogadores e entrosados, o Orion ganhou com facilidade o campeonato de 30, considerado um dos mais fracos, pois apenas quatro equipes disputaram o torneio. O sucesso alcançado pelo Orion fez com que o Fortaleza “repatriasse” parte dos atletas dissidentes em 1929 e retomasse as disputas em 1932. Os alvinegros ainda participaram do Estadual daquele ano, mas, desfigurados, e ainda sentindo-se prejudicados pela ADC (Associação dos Desportos do Ceará), acabaram pedindo desligamento da entidade, fechando as portas antes do fim da competição. Participação meteórica Como um flash. Assim pode se resumir a participação do Tramways no cenário do futebol cearense. Fundado por funcionários de uma empresa que era responsável pela eletricidade das linhas de ônibus e bonde em Fortaleza, a Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd., o Tramways conquistou o título de campeão cearense pouco mais de uma ano após ser fundado e com a mesma velocidade também encerrou sua atividades. Em 1939, participou pela primeira vez do Campeonato Cearense e terminou na última colocação. Porém, no seguinte, desbancou favoritos como Ceará e Fortaleza e ficou com o título estadual. Em 1941, voltou novamente para a última colocação e a direção da empresa resolveu encerrar as atividades alegando não ter condições financeiras para manter o time. Assim como o Tramway, outras equipes bancadas por empresas apareceram no cenário local. O time Usina Ceará, vice-campeão em 56,57,61 e 62, também teve vida curta no futebol. Melhor década A década de 50 pode ser definida como a melhor época do futebol cearense, quando o assunto é alternância entre os campeões. Em um período de 10 anos, cinco equipes se revezaram nas conquistas. Manter a hegemonia era uma árdua tarefa. E quem figurou e foi campeão nesse período foram os tradicionais Calouros do Ar e Gentilândia. Campeão em 1955, o time do Calouros do Ar foi fundado em janeiro de 1952 e teve um rápido destaque no cenário local. Criado com um nome para homenagear o conjunto musical da Base Aérea de Fortaleza e os aspirantes a oficiais aviadores que chegavam todos os anos à Base, a equipe chegou a derrotar o Botafogo (RJ), em amistoso no ano de 1954. Para conseguir o título de 55, o Tremendão da Aerolândia, como era carinhosamente chamado, teve que derrotar o Ferroviário no segundo turno e em um jogo desempate, após o Tubarão da Barra ter conquistado o primeiro turno. O clube disputou os campeonatos cearenses de 1953 a 1968 e 1970 a 1998, conquistando o 3º lugar em 1953, 1956, 1960 e 1968. Em 2004, após péssima participação no estadual da Segunda Divisão, o Calouros do Ar foi rebaixado para a Terceira Divisão Estadual, onde se encontra até o atual momento. Para o atual diretor de futebol do Calouros do Ar, Eudásio Barroso, a decadência do Calouros do Ar ao longo dos anos passa pela falta de apoio que equipes de menor porte recebem dos órgãos governamentais e dos empresários. “Não existe time pequeno, existe clube sem recurso. Virou uma questão discriminatória. Os grandes recebem sempre todo o dinheiro destinado ao futebol e isso vai tirando as condições do clubes menores de competir. Se essa realidade não for mudada, em dois anos não terá mais nenhum time de menor porte. É necessário fortalecer os times de forma geral”, desabafa. Clube dos Acadêmicos Vencedor do Estadual de 1956, o Gentilândia foi outro clube que escreveu seu nome na história do futebol cearense. Apelidado de “Clube dos Acadêmicos”, o Gentilândia revelou muitos jogadores que se destacaram no futebol local e nacional. Fundado em 1934, até chegar ao título, o time participou e desistiu várias vezes de disputar o estadual. Desentendimentos entre a direção da ADC e os dirigentes do clube, o Gentilândia passou a disputar apenas partidas amistosas não profissionais. Após passar anos apenas existindo como clube social, o Gentilândia retomou mais uma vez suas atividades em 1944. Buscando fortalecer suas categorias de base, voltou ao Estadual, desta vez organizado pela Federação Cearense de Desportos. Em 1956, o Gentilândia ganhou seu primeiro e único título de Campeão Cearense de Futebol. O ano foi o auge do “Clube dos Acadêmicos”, que, com uma vitória sobre o Ceará por 1 a 0, venceu o primeiro turno. Como não houve a disputa de um novo turno, o time foi declarado oficialmente campeão pela FCD. Os anos após a conquista de 56 foram marcados por sucessivas campanhas ruins e com um rebaixamento para segunda divisão do Estadual. Em 1968, o time resolveu suspender suas atividades. Mas para quem acompanhou o Gentilândia nos seus anos de vitória, a verdadeira derrocada da equipe começou quando, em 1956, a diretoria, empolgada com a conquista do Estadual, decidiu mudar o tradicional uniforme alvi-anil do time para o rubro-negro. A ideia era pegar carona na popularidade do Flamengo, do Rio de Janeiro. Não deu certo, o Gentilândia ficou descaracterizado e acabou perdendo sua essência.

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