A maior vaia do Maracanã
Leia a coluna de Tom Barros
Acontece em Fortaleza, Pindoretama, Aquiraz e Cascavel o Festival da Vaia, celebrando a palhaçaria e os saberes populares. Os espetáculos são gratuitos e visam a valorizar a arte do riso. Isso me levou a meditar sobre os efeitos das vaias. Há as voltadas para o riso (caso do Festival) e as que humilham e machucam.
No dia 13 de maio de 1959, aconteceu no Maracanã, no Rio de Janeiro, a maior vaia já dirigida a um ser humano. Atingiu um dos mais brilhantes jogadores brasileiros em todos os tempos: Júlio Botelho. Julinho, além de craque, era conhecido por ser um homem íntegro, excelente caráter. Um homem do bem.
O Brasil ia enfrentar a Inglaterra. A torcida carioca queria Garrincha. O serviço de som anunciou Julinho na ponta direita. Quando Julinho surgiu à boca do túnel, uma estrondosa vaia ecoou no Maracanã. Vaia, ininterrupta, de dois minutos. O veterano Nilton Santos aproximou-se de Julinho e deu-lhe aquela força.
Aos sete minutos de jogo, Julinho transformou as vaias em aplausos. Driblou os adversários e marcou um golaço. Dele também o passe para o gol de Henrique. Com a vitória brasileira (2 x 0), Julinho, ovacionado, deixou o campo.
Aplausos
Terminado o jogo, a mesma torcida, que o vaiara, ergueu-se para aplaudi-lo. A ovação durou mais que os dois minutos de vaia por ele recebidos ao entrar em campo. Um reconhecimento público que ficou nos anais da história. Você pode conferir na Internet. Basta colocar “Julinho, a maior vaia no Maracanã”. Tem no Youtube.
Craque
Julinho foi titular da Seleção Brasileira de 1954, na Suíça. Brilhou tanto que a Fiorentina o contratou. Lá foi ídolo e campeão italiano. Brilhou na Portuguesa e no Palmeiras, onde também ganhou títulos. Eu o vi jogar pelo Palmeiras no PV, na vitória (1 x 3) sobre o Fortaleza, primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil de 1960.
Convocação
Julinho foi convocado por Feola para a Copa de 1958 na Suécia. Na época, entendia-se que o privilégio tinha de ser dos que estavam atuando no Brasil. Julinho agradeceu a convocação, mas abdicou. Ético, entendeu que não seria justo tomar a vaga de quem estava o Brasil. Belo exemplo de caráter e dignidade.
Dignidade
Julinho foi um jogador de atitudes limpas e leais, dentro e fora de campo. A nobreza de seu gesto, renunciando a uma convocação para a Seleção Brasileira, visando a fazer justiça aos que estavam atuando no Brasil, já demonstrara a sua dignidade. Hoje em dia não se vê mais atitude assim.
Convocação II
Julinho foi convocado para a Copa de 1962, no Chile. Ele jogava no Palmeiras. Participou de toda a preparação. Às vésperas da viagem, sofreu uma distensão muscular. Seus companheiros queriam que ele fosse. Julinho, ético como era, mais uma vez abriu mão a favor de outro atleta em melhores condições. Dignidade pura.