Banco Master: setor financeiro diz que Banco Central age com independência

Essa atuação inclui a intervenção e, em casos extremos, a necessidade de liquidação na Instituição Financeira problemática e sem condições de seguir em suas atividades

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:05)
Legenda: Fachada do Banco Master, liquidado em setembro passado pelo Banco Central por práticas fraudulentas
Foto: Agência Brasil / Rovena Rosa
Esta página é patrocinada por:

Sem qualquer citação ao Banco Master, liquidado em setembro pelo Banco Central, a ABBC (Associação Brasileira de Bancos); a Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito; a Febraban (Federação Brasileira de Bancos); e a Zetta (Associação que representa empresas do setor financeiro e de meios de pagamentos) distribuíram ontem, sábado, 27, comunicado em que prestam apoio à atuação do Banco Central nessa questão. 

O comunicado foi divulgado três dias antes da acareação determinada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que juntará Daniel Vorcari, dono do Master, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton Aquino dos Santos. A acareação está marcada para a próxima terça-feira, dia 30, terça-feira.  

O mercado financeiro parece entender que essa acareação tem o objetivo de transferir para o Banco Central as responsabilidades pela situação de insolvência a que chegou o Banco Master. 

A íntegra da nota do Banco Central é a seguinte: 

“A presença de um regulador técnico e, sobretudo, independente do ponto de vista institucional e operacional, é um dos pilares mais importantes na construção de um sistema financeiro sólido e resiliente. As entidades signatárias reconhecem que o Banco Central do Brasil (BCB) vem exercendo esse papel, que inclui uma supervisão bancária atenta e independente, de forma exclusivamente técnica, prudente e vigilante. 

“A supervisão bancária atua de forma preventiva, assegurando que as instituições financeiras fiscalizadas trabalhem com níveis adequados de capital, liquidez e com políticas de risco compatíveis com o seu perfil de negócios. O número ínfimo de instituições com problemas de solvência e liquidez que observamos ao longo dos últimos anos, incluindo a crise financeira de 2008/2009 e a pandemia da Covid 19, mostra que o regulador tem sido muito bem-sucedido nesta tarefa. 

“A atividade financeira é um negócio de elevado risco e, mesmo sob supervisão, em determinadas situações e por diversas razões, algumas instituições financeiras podem enfrentar problemas de solvência que, a depender da sua gravidade, as impedem de seguir com sua atuação.  

“Nessas situações, o regulador tem o mandato legal e o dever inafastável de agir em prol da resiliência, estruturando regimes de resolução para proteger o sistema financeiro e minimizar o risco de contágio sistêmico.  Adicionalmente, garantir a credibilidade das instituições financeiras e dos reguladores é vital para um bom funcionamento do sistema financeiro. Sem essa credibilidade, não há como uma instituição financeira perpetuar seu funcionamento. 

“Essa atuação inclui a intervenção e, em casos extremos, a necessidade de liquidação na IF problemática e sem condições de seguir em suas atividades. Essa atuação é um pilar da regulação e da estabilidade financeira, isso em todas as jurisdições relevantes, reclamando que o regulador tenha independência técnica, autonomia e que suas decisões não sejam revisadas sob a ótica prudencial, da solvência e da disciplina de mercado. Do contrário, seria permitir que outros atores institucionais tenham a possibilidade de invalidar o mérito técnico dessas decisões, rompendo um dos alicerces fundamentais do funcionamento do nosso sistema financeiro, com graves impactos para o próprio funcionamento da economia brasileira e enfraquecimento da autoridade financeira. 

“Com a  simples hipótese de revisão ou eventual reversão das decisões técnicas do BCB, em especial daquelas que tocam o olhar do regulador para preservar a estabilidade financeira, entra-se num terreno sensível de instabilidade regulatória e operacional, gerando insegurança jurídica e comprometendo a previsibilidade das decisões e a confiança no funcionamento do mercado, além de impactos adversos em depositantes e investidores, especialmente em pessoas físicas, que possuem menor capacidade de absorver riscos de incertezas advindas de mudanças bruscas. 

“Nesse sentido, há uma premissa que permeia a atuação do regulador bancário em todos os países com um sistema financeiro regulado, que é conferir, com exclusividade, a atribuição de o regulador fazer o escrutínio prudencial e discricionário voltado para a solvência e a disciplina de mercado. É assim, desde sua criação, que tem agido com extremo zelo o Banco Central do Brasil. 

“Também se reconhece que o Poder Judiciário pode e deve analisar e sindicar os aspectos jurídico-legais da atuação dos reguladores, e o apelo das entidades abaixo, que representam o setor bancário, é que se preserve a autoridade técnica das decisões do Banco Central, para evitar um cenário gravoso de instabilidade.” 

Veja também