Marcelo Jeneci participa de formação musical na Porto Iracema das Artes, em Fortaleza

Cantor foi escolhido como tutor do projeto “Meu Agreste”, pesquisa e releitura das obras do Quinteto Agreste.

Escrito por
Ana Alice Freire* ana.freire@svm.com.br
A imagem em plano médio e foco nítido captura Marcelo Jeneci, músico e cantor brasileiro. Ele está sentado, com o corpo ligeiramente inclinado para a frente, e parece estar em uma conversa ou apresentação, julgado pela iluminação de palco.
Jeneci tem a pele clara, cabelo curto e escuro, e está sorrindo de forma gentil, olhando para o canto superior esquerdo (fora da câmera). Suas mãos estão unidas à frente do peito, com os dedos entrelaçados em uma pose atenta e reflexiva.
Ele veste uma camisa de botão de manga curta com uma estampa vibrante e colorida, que combina tons de rosa choque, vermelho, preto e amarelo sobre uma base mais clara, remetendo a padrões tropicais ou de borboletas. Por baixo, ele usa uma camiseta regata branca. Em seu pulso esquerdo, há uma pilha de pulseiras de contas coloridas e, no pulso direito, algumas pulseiras em tons de terra e dourado.
O fundo é simples e escuro, com uma iluminação de cor azul turquesa suavemente iluminando a área atrás dele e criando um contraste que destaca a pessoa em primeiro plano. A iluminação geral é quente e dramática, focada no rosto e na parte superior do corpo do artista.
Legenda: Em imersão na Porto Iracema das Artes, o orientador do projeto ‘Meu Agreste’ reflete sobre processos criativos e a busca pela singularidade artística.
Foto: Daniel Calvet

O paulista Marcelo Jeneci passa uma temporada em Fortaleza para orientar em imersão o projeto “Meu Agreste” na Escola Porto Iracema das Artes.  Realizado por Regina Kinjo, Jeff Portela, William Madeiro, Tim Oliveira, Joel Chagas e Alan Kardec, a proposta é pesquisar e revisitar as obras do Quinteto Agreste, importante referência cultural para o Ceará e para a artista Regina Kinjo, idealizadora do grupo. 

A tutoria de Marcelo Jeneci integra o percurso do Laboratório de Música, espaço dedicado à experimentação, à pesquisa e ao desenvolvimento de projetos autorais, atualmente em sua 13ª edição. Desde agosto, o cantor, escolhido pelo próprio grupo, conduz o processo de qualificação com uma combinação de orientações individuais e atividades coletivas, enquanto os artistas em formação atravessam um ciclo de oficinas, palestras e aulas abertas ao longo de sete meses.

De acordo com Regina, “Meu Agreste” é a releitura da obra do Quinteto Agreste, que dialoga com as suas raízes nordestinas, como também toca na lente da cultura oriental, resgatando a origem japonesa da artista.

A escolha se deu em razão da pouca representação nas homenagens e tributos. “Tantos artistas são homenageados por outros aqui. Belchior, Fagner, Ednardo… Eu pensei ‘gente, ninguém nunca falou nem cantou Quinteto Agreste’, e eu não posso deixar passar em branco.  A gente está desenvolvendo esse projeto misturando as minhas raízes culturais, metade nordestina e metade japonesa, na sonoridade e nas releituras de canções dele”, evoca. Na Porto, o grupo idealiza elaborar um EP com quatro músicas, que irá circular também num show. 

A imagem, que parece ser um retrato promocional de estúdio, apresenta seis artistas do projeto
Legenda: Integrantes do projeto ‘Meu Agreste’, que revisita a obra do Quinteto Agreste ao unir referências nordestinas e influências da cultura japonesa.
Foto: Analice Diniz

Pela primeira vez orientando oficialmente um projeto musical, Marcelo Jeneci é um artista conhecido pela sua polivalência rítmica e instrumental, derivada de uma antropofagia de referências encontros, que vão de Dominguinhos a Chico César, artistas que atravessaram pessoalmente sua trajetória e facilitaram a formação da singularidade de Jeneci. O cantor destaca entusiasmo em viver a imersão em outro estado e com outras pessoas fora da sua convivência, mas fazendo algo que já pratica desde cedo.

A escolha de Marcelo como orientador se deu pelo viés da identificação. Regina comenta que, além da admiração pelo trabalho do paulista, acredita que “a obra autoral dele tem muito em comum com a minha. Tanto a proposta de ritmo, de arranjo, eu acho que tem muita coisa a ver. Um grande artista, arranjador, produtor, trabalhar com a gente para nos dar novas visões, ampliar os nossos horizontes”.

Em um ambiente de estúdio de gravação profissional, com paredes forradas em espuma acústica preta, quatro pessoas interagem em torno de uma grande mesa de som Behringer que domina o primeiro plano. Sentada à esquerda, uma mulher de blusa floral estampada sorri, olhando para fora da cena, enquanto um homem ao centro, de camisa xadrez em tons de vinho, está inclinado e concentrado em algo no colo. À direita, um homem de barba, cabelos longos e camisa polo preta está sentado e focado na mesa de som e no computador, manipulando os equipamentos. Atrás dele, em pé, está Marcelo Jeneci – vestindo sua camisa de estampa vibrante e colorida –, que observa a cena com as mãos na cintura e uma expressão séria, sugerindo um momento de tutoria ou ajustes técnicos do grupo.
Legenda: "Ele influencia diretamente, sim, mas sempre respeitando a nossa natureza artística", pontua Regina Kinjo sobre a orientação de Marcelo Jeneci.
Foto: Conan Peixoto

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Na sua abordagem, Marcelo conta ao Diário do Nordeste que o cerne do fazer autoral se concentra no fortalecimento da identidade e busca pela singularidade. Ele explica sobre um divisor que, nos começos de carreira, os aspirantes começam a tocar “olhando para fora”, ou seja, baseando-se nas expressividades, arranjos, peculiaridades de artistas já consolidados. 

“Tem um momento que a gente precisa cruzar esse véu e olhar para dentro, no sentido de buscar ser cada vez mais você na sua singularidade expressiva, para que você não fique parecido com quem te inspirou. Algo novo não é inventar algo novo, é só silenciar, abrir espaço que ele vem, aquilo com o seu jeitinho, sua assinatura” [destaque] 

A metodologia se baseia na liberdade individual e coletiva, de fazer com que todos se sintam à vontade para propor e construir juntos. Regina Kinjo pontua que pensam o caminho para a criação dos arranjos e canções que estarão nas releituras, mas Marcelo contribui nas considerações de “alguém com olhar de fora”, ao passo que também respeita a natureza artística. “Ele [Marcelo Jeneci]  nunca impõe nada. Ele sempre sugere e a gente vê se tá tudo certo, porque não é o trabalho de uma pessoa só, é um trabalho coletivo”. Na perspectiva do artista, estar na partilha de conhecimentos e ideias significa “entrar nessa roda da brincadeira vibracional, que depende do seu coração”

Em um plano médio e com iluminação dramática contra um fundo azul escuro, o músico e cantor Marcelo Jeneci está em foco, exibindo uma expressão de intensa escuta ou atenção, com os olhos fixos para a frente, sugerindo que ele está captando algo no ambiente ou pedindo silêncio. Ele veste uma camisa de botão de manga curta com estampa vibrante em tons de rosa, vermelho e preto sobre uma camiseta regata branca. Seus braços e mãos estão em destaque: a mão direita está levantada ao lado da cabeça, com a palma ligeiramente virada para o ouvido em um gesto de
Legenda: Durante a imersão do projeto ‘Meu Agreste’, o orientador compartilha reflexões sobre escuta, processo criativo e construção coletiva.
Foto: Daniel Calvet

“Fórmula do sucesso social”

A experiência na Porto Iracema das Artes marca, para Marcelo Jeneci, o primeiro contato direto com um equipamento público de formação com essa dimensão. Escola de artes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), a Porto foi inaugurada em 2013 e, ao longo de mais de uma década, consolidou-se como o principal espaço de formação e criação artística do Estado. Sediada em Fortaleza, estrutura-se em três esferas: Programa de Formação Básica, Cursos Técnicos e Laboratórios de Criação. Para o artista, configura um ecossistema raro no país.

A imagem é uma foto de um edifício de dois andares, de cor branca, com uma fachada que apresenta vibrantes murais de arte. O edifício parece ser uma instituição cultural ou de artes, talvez identificada pelo texto na fachada. Um grande e colorido mural domina o lado esquerdo, retratando o perfil de uma pessoa mais velha, possivelmente uma mulher, usando um turbante azul e vestindo roupas com padrões azuis e brancos. À direita da entrada principal, que tem uma pequena placa de identificação vermelha e branca, há outro mural colorido e abstrato, com formas geométricas em tons de laranja, vermelho e verde, incluindo um elemento em forma de estrela ou flor de quatro pontas. Em frente ao edifício, há uma cerca branca de ferro, e além dela, o chão da calçada é pintado em faixas largas e coloridas de azul, rosa, e tons terrosos, com o desenho de uma amarelinha em primeiro plano, sugerindo um espaço público convidativo. Há algumas árvores e arbustos verdes que emolduram o edifício na frente e nos lados, e o céu acima é parcialmente nublado com nuvens brancas e azuis. A cena é bem iluminada, indicando que a foto foi tirada durante o dia.
Legenda: A Escola visa criar um ambiente de intercâmbio fecundo de práticas e vivências estéticas.
Foto: Micaela Menezes

Entre surpresa e encantamento, Jeneci descreve a instituição como um modelo possível de futuro, onde educação, arte e instrumentalização convergem para fortalecer trajetórias e comunidades. “É aí que mora a solução do Brasil: juntar a escola com cultura, com ferramentas de instrumentalização. A fórmula do sucesso social”, resume.
Ele destaca que é incomum encontrar uma escola que não apenas forme artistas, mas que se comprometa com um fazer contínuo, com a pesquisa e com a circulação de trabalhos que alimentam as tradições e instauram novas camadas de sentido. Para Jeneci, a Porto opera como um organismo vivo, pulsando em colaboração “ressonante” com a cidade e interferindo na organização social a partir do estímulo à criação.

*Estagiária sob supervisão da jornalista Lorena Cardoso