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Cinco episódios que marcaram as estratégias eleitorais da base de Elmano para 2026

As disputas por espaço no amplo arco de aliança governista prometem dar o tom da base do governador Elmano de Freitas em 2026.

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br

Mesmo sem eleições, 2025 foi marcado por um rearranjo na base do governador Elmano de Freitas (PT), que já se organiza para o pleito eleitoral do próximo ano.

Disputas antecipadas pelo Senado, investigações envolvendo aliados, visitas recorrentes do presidente Lula e movimentos para ampliar o arco de alianças expuseram tensões internas e orientaram as estratégias do grupo governista ao longo do ano.

O PontoPoder listou cinco fatos políticos marcantes deste ano.

Disputa antecipada pelas vagas ao Senado promete tensionar base de Elmano

A corrida pelas duas vagas ao Senado na chapa governista dominou os bastidores da política cearense ao longo de 2025 e se consolidou como o principal ponto de articulações internas da base do governador Elmano de Freitas (PT). Quase dez nomes passaram a ser ventilados, em maior ou menor grau, indicando o peso que essa disputa promete ter no pleito eleitoral de 2026.

Seguindo para seu último ano de mandato no Senado, Cid Gomes (PSB) tem enfatizado publicamente que não pretende disputar a reeleição, mas segue no radar como possibilidade.

Uma das pré-candidaturas mais fortalecidas é a do deputado federal José Guimarães (PT), líder do Governo Lula na Câmara. A candidatura ao Senado é um projeto antigo do petista, adiado em outras ocasiões. Apesar do peso político que acumula no Ceará e em Brasília, Guimarães enfrenta concorrência robusta dentro do próprio arco governista.

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No início do ano, durante a comemoração do aniversário de Guimarães, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), chegou a dizer que o correligionário representaria os cearenses “na Câmara Alta”, em referência ao Senado. No PT, há ainda o nome da deputada federal Luizianne Lins (PT), que foi lançada como pré-candidata por aliados.

Já o MDB lançou oficialmente Eunício Oliveira como pré-candidato, apostando no discurso de resgate do legado de investimentos federais obtidos pelo Ceará durante seus mandatos. Já no PSB, além de Júnior Mano — que tem Cid Gomes como seu principal fiador —, também aparece como alternativa o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Romeu Aldigueri.

O ex-vice-governador Domingos Filho, por sua vez, surge como nome cotado nos bastidores. Atual secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado, ele comanda o PSD no Ceará, partido que reúne 28 prefeituras, três deputados estaduais e três federais.

Também cotados na disputa aparecem o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos) e o secretário-chefe da Casa Civil, Chagas Vieira, que ganhou projeção ao assumir embates diretos com a oposição nas redes sociais e é um aliado de confiança de Camilo Santana. Segundo o próprio secretário, o ministro apoia sua candidatura.

Cid defende Junior Mano para o Senado, apesar de investigação no STF

Citado publicamente pelo senador Cid Gomes em fevereiro, Júnior Mano passou a figurar como um dos principais postulantes à sucessão no Senado. O deputado federal conta com apoio de dezenas de prefeitos cearenses e tem como trunfo a ampliação de sua influência municipal nas eleições recentes.

Ao longo do ano, Mano enfatizou que a ambição pelo Senado é natural para parlamentares federais. “É onde eu posso ajudar mais ainda o Estado do Ceará e a política brasileira”, disse.

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Cid fez questão de afirmar que sua posição não representava uma imposição ao partido e descartou qualquer possibilidade de disputar o Governo do Estado, hipótese levantada nos bastidores.

A trajetória de Junior Mano, contudo, atravessou em 2025 seu momento mais delicado. O parlamentar é investigado pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de emendas parlamentares no Ceará e foi alvo de mandados de busca e apreensão.

O deputado nega irregularidades e afirma ser alvo de denúncias infundadas. “Cabe à Justiça julgar”, declarou. Em outubro, ele reiterou que trabalha para se viabilizar como candidato ao Senado em 2026. 

“Estamos escutando a população, respeitando o meu mandato, respeitando os quase 220 mil votos que tive na última eleição. Trabalhando, levando recursos para os municípios, para que, no ano que vem, se houver viabilidade, se houver a vontade popular e o diálogo com as lideranças maiores, possamos viabilizar uma chapa majoritária. Estarei preparado”, afirmou.

Lula desembarca no Ceará e PT reforça centralidade política do Estado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Ceará em três ocasiões em 2025, totalizando dez visitas desde o início do terceiro mandato, em 2023. A frequência reforça o papel estratégico do Estado para o Governo Federal.

Lula, Elmano, Evandro e Camilo sobre o palco montado no Centro de Eventos do Ceará.
Legenda: Lula durante a última visita ao Ceará, em dezembro deste ano.
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Das dez viagens, seis tiveram como foco a área da educação, setor em que o Ceará é apresentado pelo Planalto como referência nacional de políticas públicas. As agendas também serviram para inaugurações, anúncios de investimentos e fortalecimento do palanque petista.

Além de governar o Estado, o PT é hoje a segunda maior legenda do Ceará em número de prefeituras e comanda Fortaleza, a única capital do País administrada por um prefeito petista, fator que amplia a simbologia política das visitas presidenciais a menos de um ano das eleições.

Moses Rodrigues se aproxima da base de olho em vaga para o Senado

Outro movimento relevante de 2025 foi a aproximação do deputado federal Moses Rodrigues (União Brasil) com a base governista. Historicamente ligado à oposição, Moses passou a ser citado como possível candidato ao Senado com apoio do grupo de Elmano.

O governo também manteve diálogo com outros quadros do União Brasil, como Fernanda Pessoa e Danilo Forte. A hipótese de candidatura de Moses pela base de Elmano foi levantada publicamente pelo deputado AJ Albuquerque (PP), em entrevista ao PontoPoder, em setembro.

A estratégia do grupo governista seria atrair o União Brasil, enfraquecendo a influência do ex-deputado Capitão Wagner, que preside o partido no Ceará. Um dos entraves apontados nos bastidores seria a histórica rivalidade política entre Cid Gomes e o grupo de Moses em Sobral.

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Interlocutores de Cid, no entanto, afirmam que o senador não se opõe à aproximação. Em setembro, uma reunião entre Moses, o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, e o chefe da Casa Civil, Chagas Vieira, registrada em fotografia, foi interpretada como sinal de negociações em curso.

Em novembro, Moses deu novo passo ao declarar apoio público à reeleição de Elmano de Freitas e reconhecendo divisões internas em seu partido. Em entrevista ao PontoPoder em dezembro, Elmano confirmou que a aproximação contou com aval de Cid Gomes.

Primeiro ano da gestão Evandro Leitão e o futuro de Elmano

O primeiro ano da gestão do prefeito Evandro Leitão (PT), em Fortaleza, fez da Capital um lugar estratégico para os planos estaduais do PT. À frente da única capital governada pelo legenda no País, Evandro reaproximou o Município dos Governos estadual e federal. De início, ele conseguiu aprovar matérias que foram promessas de campanha, como a revogação da taxa do lixo, aprovado na gestão Sarto. 

O político também conseguiu a aprovação do novo Plano Diretor de Fortaleza, que estava desatualizado há mais de cinco anos. Na política partidária, o prefeito concretizou uma aproximação pela via municipal entre o PT e o PDT. O diálogo abriu espaço para recomposição da base municipal e estadual, provocando a saída de lideranças oposicionistas, como o ex-prefeito José Sarto e o ex-governador Ciro Gomes, que aderiram ao PSDB.

Na área da saúde, Evandro herdou uma rede pressionada por demandas históricas e passou a ser cobrado por respostas rápidas em serviços de alta visibilidade, como atenção básica e unidades de emergência.

A caminho do ano eleitoral de 2026, o desempenho do prefeito em Fortaleza será um dos principais termômetros políticos para a candidatura do governador Elmano de Freitas. Embora a reeleição do governador dependa diretamente da avaliação do governo estadual, aliados avaliam que uma gestão municipal bem avaliada na Capital pode funcionar como um trunfo eleitoral decisivo.

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