Destaque em ‘Guerreiros do Sol’, Larissa Goes celebra cenário artístico do Ceará: 'Muito orgulho'

Além da novela da Globoplay, atriz cearense está em cartaz no teatro e envolvida em projetos audiovisuais, como nova série sobre Belchior

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 12:15)
Aos 30 anos, cearense Larissa Goes tem se destacado na trama da novela 'Guerreiros do Sol', da Globoplay
Legenda: Aos 30 anos, cearense Larissa Goes tem se destacado na trama da novela "Guerreiros do Sol", da Globoplay
Foto: Fábio Audi / Divulgação

Ainda que tenha sido aos 20 anos que a cearense Larissa Goes reconheceu-se como artista — momento marcado pela oportunidade de uma participação na primeira fase da novela “Velho Chico”, da TV Globo, em 2016 —, a construção de uma trajetória dedicada ao fazer artístico se delineava desde a infância.

Traçando um panorama de memórias que vai da primeira lembrança de uma apresentação — ocorrida aos cinco ou seis anos, com um grupo de dança da igreja — ao destaque atual vivenciado por ela na novela “Guerreiros do Sol”, da Globoplay, a atriz partilha ao Verso memórias do percurso profissional e celebra a repercussão da personagem Petúnia.

Na conversa, ela ainda adianta projetos futuros, que incluem uma nova série na qual  interpretará a cantora Téti, um dos ícones da música cearense, e filmes que vão de animação a documentário. 

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Contato estimulado pela mãe

“Tenho vagas lembranças, mas todo o contato que tive com qualquer atividade artística na infância se deu por iniciativa da minha mãe, que sempre me matriculava em atividades onde ela visse acesso gratuito”, contextualiza Larissa.

Seja por ainda ser muito pequena ou pela realidade financeira da época, que define como “precarizada”, a hoje atriz reconhece que sequer pensava na arte como uma “ferramenta, social, econômica e estrutural”.

Contato com teatro para a atriz Larissa Goes começou na infância, mas caminho profissional se consolidou quando ela tinha 20 anos
Legenda: Contato com teatro para a atriz Larissa Goes começou na infância, mas caminho profissional se consolidou quando ela tinha 20 anos
Foto: Fábio Audi / Divulgação

Com o tempo, foi aprendendo a ter mais contato com experiências artísticas tanto como público, quanto fazedora. “Passei a ir ao teatro somente depois que comecei a fazer teatro, o que ocorreu em razão de um primeiro acesso, um curso gratuito no bairro onde eu morava”, ressalta.

Foi a partir da formação na Casa da Comédia Cearense, ligada ao célebre grupo de artes cênicas do Estado, que começou o processo para que Larissa se reconhecesse, enfim, como artista.

Apesar dos contatos, desafios ainda se somavam no caminho. “Uma sucessão de bons acontecimentos me levaram a este caminho na infância, mas ainda assim demorei pra conceber que esta seria a minha trajetória de vida”, afirma.

“Na adolescência conheci outros equipamentos de cultura, mas nem sempre pude ocupá-los porque muitas vezes não tinha dinheiro para pagar passagem frequentemente para fazer um curso regular”, aponta.

Oportunidade em “Velho Chico” 

Não por acaso, Larissa optou, ao concluir o ensino médio, por iniciar uma graduação na área de fisioterapia. “Achava que o teatro sempre poderia estar presente, mas paralelamente a algo que de fato me ‘sustentasse’. Isso me abatia sem eu perceber”, reconhece.

No período, ela ainda atuava em várias frentes de trabalho com a arte: de apresentações sobre educação no trânsito para o Detran em ruas e escolas a aulas de teatro no Instituto Cearense de Educação de Surdos e no Instituto Filippo Smaldone, chegando em animação de festas, shows infantis em shoppings “e tudo o mais que me garantisse alguma grana no mês”.

Em meio a essa divisão entre trabalhos com atuação e a fisioterapia, Larissa, então com 20 anos, se deparou com a oportunidade de teste para compor o elenco da primeira fase da novela “Velho Chico” (2016).

A escolha foi por agarrá-la e, para isso, interrompeu todas as atividades em Fortaleza. No folhetim, interpretou a antagonista Luzia, vivida depois por Lucy Alves.

“Foi minha primeira experiência no audiovisual”, relembra. “Tive a sorte de ter um bom período de preparação, o que me familiarizou com as pessoas do elenco que contracenariam comigo”, ressalta a atriz.

Com o fim da novela, retornou a Fortaleza com a certeza de que seguiria trilhando a carreira artística. “Me deu autonomia para tomar determinadas decisões. Fiz Enem novamente e consegui iniciar uma graduação em Licenciatura em Teatro na UFC”, destaca.

Daí, também se mudou para próximo ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e passou a ter acesso mais fácil a equipamentos culturais do Centro e da Praia de Iracema.

“Expondo de maneira tão sucinta parece um movimento rápido e simples, mas acho que um dos maiores atos de coragem que tive até hoje foi o de afirmar para mim mesma que sou uma artista e investir toda a minha energia pra que ela fosse minha única via de sustento”
Larissa Goes
atriz

Desenvolvimento no audiovisual

A partir da escolha por se dedicar às artes cênicas, Larissa passou a aprofundar estudos sobre atuação e alargar conhecimentos de audiovisual, não só em termos de interpretação, mas também de câmera e roteiro

“Alguns trabalhos na área foram surgindo com o tempo e pude aprimorar minha escuta para essa linguagem”, ressalta. A atriz estrelou o especial da TV Verdes Mares “Baião de Dois”, filmes como “Bate Coração” e “Cabeça de Nêgo” e séries como “Meninas do Benfica” e “O Cangaceiro do Futuro”.

“Hoje consigo com maior facilidade me reconfigurar tecnicamente a partir dos recursos próprios que cada linguagem requer”, reconhece, complementando: “Aos poucos vou ganhando mais habilidade para transitar entre as linguagens, mas o exercício de presença em cena é, para mim, o que se mantém em foco em qualquer formato”.

Terceira temporada da comédia 'Cine Holliúdy', do cearense Halder Gomes, foi protagonizada por Larissa Goes e Edmilson Filho
Legenda: Terceira temporada da comédia 'Cine Holliúdy', do cearense Halder Gomes, foi protagonizada por Larissa Goes e Edmilson Filho
Foto: Fábio Rocha / Globo / Divulgação

Mais recentemente, Larissa teve outra experiência de destaque na TV Globo, como protagonista da terceira temporada da série de comédia “Cine Holliúdy”. Em “Guerreiros do Sol”, ela interpreta Petúnia, uma jovem que se apaixona por um cangaceiro e tem a vida alterada por essa relação.

“(Ela) tem reverberado nas pessoas que me abordam de maneira semelhante à que reverberou em mim, com amor, delicadeza e até mesmo inocência”, comemora.

A atriz, no entanto, lembra que a trama ainda irá se desenvolver de outras formas. “A Petúnia atravessará novas circunstâncias que a farão mudar e tomar atitudes mais radicais as quais jamais cogitaria tomar. Estou curiosa para saber como o público reagirá aos próximos acontecimentos”, partilha.

Petúnia, personagem de Larissa Goes em 'Guerreiros do Sol', se relaciona com o cangaceiro Sabiá (Vitor Sampaio)
Legenda: Petúnia, personagem de Larissa Goes em "Guerreiros do Sol", se relaciona com o cangaceiro Sabiá (Vitor Sampaio)
Foto: Estevam Avellar / Globo / Divulgação

Ainda para este ano, os projetos audiovisuais da atriz incluem a dublagem da animação cearense “Glória & Liberdade” e a estreia da série “Alucinação”, sobre Belchior, onde interpreta a cantora Téti.

Em setembro, está ainda previsto o lançamento do filme “A Praia do Fim do Mundo”, de Petrus Cariry, no qual Larissa contracena com Fátima Macedo e Marcélia Cartaxo — ambas também do elenco de “Guerreiros do Sol”.

A atriz adianta que irá retornar para Fortaleza em outubro para um projeto audiovisual ainda não divulgado. “Estarei de volta na minha terrinha para dar início ao processo de filmagem de um documentário que exigirá bastante do meu condicionamento físico. Por enquanto é o que posso dizer”, instiga.

Valorização da arte cearense

Antes da vinda a Fortaleza para a produção audiovisual, Larissa fará em agosto uma breve temporada do espetáculo teatral “Medalha de Ouro” no Teatro Dragão do Mar. A obra será apresentada nos dias 9, 10, 16 e 17 do mês que vem, sempre às 19h30.

Na peça, com direção e dramaturgia de Andréia Pires, Larissa divide cenas com Sol Moufer numa obra que reflete sobre as dificuldades do fazer artístico a partir de histórias de atrizes cearenses. 

Após as apresentações na Capital cearense, o espetáculo será encenado em Salvador.

Além de mote de “Medalha de Ouro”, a valorização da produção artística cearense é presente de maneira forte nas falas de Larissa, ao mesmo tempo, em que ela ecoa a necessidade de mais estrutura e reconhecimento.

“O Ceará tem uma cena artística muito forte, que é admirada em todo o país e que merece tanto reconhecimento, principalmente na própria localidade”, inicia.

“Tenho muito orgulho de dizer onde quer que eu vá que eu tive acesso a uma formação artística inteiramente gratuita, ocupando vários equipamentos de cultura da cidade de Fortaleza, que sim, ainda podem melhorar a viabilização e a infraestrutura através de maiores investimentos, mas que estão muito presentes na minha formação”

Entre as demandas da profissão no contexto cearense, Larissa lembra do fortalecimento de cachês, reavaliação de editais de fomento e o estímulo ao contato com arte e cultura no contexto da educação básica.

“É um sistema complexo e sei que as mudanças demoram a acontecer, mas é importante sempre salientar que o Ceará tem artistas geniais que me inspiram e que merecem maior valorização”, finaliza.

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