Projeto gratuito do Cineteatro São Luiz leva estudantes ao cinema há 10 anos
Mais de 125 mil alunos foram atendidos nas mais de 500 sessões realizados no escopo do Escola no Cinema.
Na articulação entre cultura e educação a partir de um importante equipamento público histórico do Ceará, o projeto Escola no Cinema — promovido no escopo do Cineteatro São Luiz — comemora 10 anos de existência em 2025.
Desde outubro de 2015 até aqui, a iniciativa já atendeu mais de 125 mil estudantes cearenses das redes pública e privada em mais de 500 sessões realizadas.
Coordenador do Núcleo de Acervo e Difusão Audiovisual do equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará e gerido pelo Instituto Dragão do Mar, Duarte Dias partilha à coluna sobre o contexto de criação do projeto, como funciona e a importância dele para a formação de plateias no Estado.
Veja também
Formação pelo audiovisual
O Escola no Cinema foi um dos primeiros projetos realizados no equipamento após uma grande reforma modernizadora do São Luiz, que foi reinaugurado pelo Governo do Ceará em dezembro de 2014.
Conforme Duarte, a iniciativa foi pensada pela gestão da época — que tinha ele como curador, Guilherme Sampaio como secretário da Cultura e Rachel Gadelha como diretora do Cineteatro — para promover "a formação de um novo público por meio do letramento audiovisual, com ênfase no cinema brasileiro, especialmente o cearense”.
estudantes atendidos
sessões realizadas
participantes por exibição em média
“O objetivo era oferecer à comunidade escolar a experiência coletiva, crítica e emancipadora da sala escura e, ao mesmo tempo, reposicionar o São Luiz como uma espécie de sala de aula expandida”, recupera o coordenador.
Desde o início, o projeto foi pensado para ser uma ação continuada e gratuita, realizada por meio de parcerias e com sessões realizadas nos meses de aulas no calendário escolar tanto de manhã quanto de tarde.
Critérios norteadores
Os filmes exibidos levam em conta critérios pedagógicos, etários, operacionais e de acessibilidade. São priorizadas produções brasileiras e cearenses com temáticas como cidadania, direitos humanos e democracia; memória, identidade e patrimônio; culturas afro-brasileiras e povos indígenas; educação ambiental e cidades; e gênero, diversidade e inclusão, por exemplo.
Obras selecionadas em eventos parceiros do São Luiz, com licenciamentos para exibição ou do próprio acervo do Cineteatro compõem o acervo disponível para as sessões. Produções de cineastas cearenses como Bárbara Cariry, Claudio Martins, Neil Armstrong e André Dias, entre outros, já foram exibidas no projeto.
Em relação às questões operacionais, pontos como os direitos de exibição e a duração das obras são levados em conta. De início, as sessões eram majoritariamente de obras no formato de curta-metragem.
“Como muitas escolas, tanto de Fortaleza quanto de outros municípios, precisam de tempo de deslocamento até o São Luiz, o período médio de permanência no equipamento é de cerca de 1 hora”, explica.
“Com a adesão crescente das escolas a permanências mais longas, passamos a incluir, de forma equilibrada, longas-metragens, cuidando para que, sempre que possível, não ultrapassem 1h30”, segue Duarte.
Atualmente, o Escola no Cinema segue exibindo trabalhos de diferentes durações, sejam ficções, documentários ou animações.
“Política cultural e educacional de base”
Um dado compartilhado por Duarte chama a atenção em relação ao público atendido: dos mais de 125 alunos alcançados, cerca de 80% deles foram pela primeira vez a uma sala de cinema por conta do projeto.
O fato demonstra a importância do Escola no Cinema, que agrega a formação escolar à formação de público para o audiovisual. “Formar público em idade escolar não é uma ação periférica: é política cultural e educacional de base”, atesta o coordenador.
“Num mundo de atenção fragmentada e consumo individual, levar crianças e jovens à experiência coletiva da sala escura, com curadoria e mediação, devolve ao cinema seu lugar de encontro, escuta e pensamento”
Diferentes processos formativos se desenvolvem a partir do acesso aos filmes e às discussões por eles suscitadas: “Amplia repertórios estéticos, exercita leitura crítica de imagens, fortalece empatia e valores democráticos”, elenca.
O projeto se articula, ainda, a uma legislação relevante nesse intuito, mas que enfrenta dificuldades para a devida aplicação: a Lei Federal nº 13.006, de 23 de junho de 2014, que prevê que escolas de educação básica do Brasil devem exibir filmes nacionais por no mínimo duas horas por mês.
“A obrigação legal se converte em experiência coletiva e processo formativo consistente, respeitando o tempo escolar, a logística de deslocamento das turmas e o planejamento das redes”, relaciona o coordenador.
Duarte acrescenta, ainda, que o alinhamento do projeto com a lei será ampliado por conta de novidades da Siará+, plataforma de streaming do Governo do Ceará gerida pelo Cineteatro São Luiz. Lançado em agosto de 2025, o streaming se liga ao Escola no Cinema por reunir algumas das produções exibidas nele.
“Passamos a ter a possibilidade de ampliar o alcance dessas obras, prolongando a experiência formativa no ambiente digital e potencializando a difusão da cinematografia cearense em todo o Estado, conectando escolas, professores e estudantes a um acervo vivo e acessível”, destaca.
A novidade adiantada pelo coordenador é que, a partir do primeiro semestre de 2026, a Siará+ incorporará o projeto São Luiz Itinerante, que disponibiliza gratuitamente conteúdo audiovisual cearense e brasileiro para exibição em espaços não comerciais, incluindo escolas.
Veja também
Junto das obras, também é disponibilizado às instituições inscritas um material adicional com sugestões de abordagem e indicativos de utilização didático-pedagógica. A incorporação do São Luiz Itinerante na Siará+ é celebrada por Duarte.
“Com isso, escolas de todo o Ceará terão acesso não só a conteúdos com curadoria específica, mas também a materiais didáticos auxiliares para docentes, viabilizando a aplicação qualificada da lei também no ambiente digital”, afirma.
Como escolas interessadas podem participar do Escola no Cinema?
Os detalhes para agendar participação no projeto Escola no Cinema estão disponíveis de maneira on-line no site do Cineteatro São Luiz, na aba “São Luiz em Rede”. É necessário entrar em contato pelo e-mail osaoluizenosso@idm.org.br para solicitar ficha cadastral.
Dúvidas podem ser respondidas contactando o telefone (85) 99122-5732, que funciona apenas por ligação.
“Durante o período de realização do projeto, a equipe do São Luiz divulga a programação previamente em nossas redes sociais e também a encaminha às instituições parceiras, permitindo que se organizem com antecedência e reservem assentos nos dias e horários mais adequados”, explica Duarte.
Série/faixa etária, número de estudantes, responsáveis e necessidades de acessibilidade estão entre as informações que devem ser compartilhadas pela escola interessada.
A partir das demandas, a equipe do projeto verifica a disponibilidade de vagas e se guia pelos critérios já descritos, organizando a logística para as chegadas e saídas de diferentes turmas.
Escola no Cinema
- Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500, Centro)
- Mais informações: no site do Cineteatro São Luiz