Filmado em Fortaleza, ‘Cabeça de Nêgo’ estreia nos cinemas com o herói que todos precisam conhecer

Obra de Déo Cardoso é destaque em festivais pelo País e integrou lista de filmes inscritos para representar o Brasil no Oscar

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Foto: MarcosKHirano

O filme “Cabeça de Nêgo” segue construindo uma bonita jornada. Filmada em Fortaleza, a produção ganhou elogios e prêmios no circuito de festivais. Agora, o público terá a chance de conhecer a saga de Saulo Chuvisco (Lucas Limeira) nas salas de cinema. 

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A estreia acontece em Fortaleza e mais quatro cidades brasileiras nesta quinta-feira (21). Na última semana, a obra esteve entre os 15 filmes candidatos a representar o Brasil no Oscar 2022. Mesmo não sendo o escolhido, a seleção tornou-se conquista valiosa. “É uma vitória do trabalho coletivo”, compartilha o diretor Déo Cardoso.  

Saulo é aluno do ensino médio e anseia por mudanças na realidade do bairro e da escola pública que frequenta. Após uma discussão em sala de aula, ele reage ao insulto racista de um colega e termina sendo repreendido. Ao se recusar sair de sala, ele desafia todo o sistema educacional da cidade. 

Inspiração 

As denúncias de Saulo nas redes sociais chamam atenção da mídia. Enquanto isso, o diretor Gusmão (Carri Costa) planeja encerrar o levante do aluno. Antes solitária, a reação do jovem por justiça acaba ecoando em apoio por parte da turma.  

É o caso da estudante Clarisse (Nicoly Mota), presidente do grêmio estudantil que tenta mobilizar a comunidade escolar a exigir melhorias e questionar o destino da verba da reforma da escola. “Saulo é o estopim, o que começa o movimento. Mas, se não for a força da união, tiram ele.  Quando o coletivo quer, ninguém segura”, descreve Déo Cardoso que também assina o roteiro.  

“Saulo está cercado de mulheres poderosas”, conta o cineasta. A observação é válida. Tem a mãe, Glória (Vanéssia Gomes). As professoras Marta (Marta Aurélia) e Elaine (Jéssica Elen), de quem recebe o livro sobre os Panteras Negras. A força vem das colegas Mayandra (Jenniffer Joingley) e Clarisse.  

O primeiro personagem no cinema trouxe uma carga de responsabilidade, compartilha a atriz Nicoly Mota. “Interpretar a Clarisse foi o mesmo para mim de representar diversas meninas da escola que passaram pela minha vida. Que tinham essa vontade de mudar a realidade de onde estavam inseridas”. 

Mensagem 

Partindo de uma situação comum à inúmeras unidades de ensino públicas do País, Deo Cardoso costura debates urgentes. Une suspense, drama, humor e registros documentais para contar a luta daquela juventude.  

Escrito e dirigido antes da pandemia da covid-19, o filme aborda as inúmeras violências sociais. Sejam elas mantidas pelo Estado, mídias ou mundo do crime. Impacta pela mensagem urgente quanto à precariedade do ensino e antevê lutas recentes como a do movimento “Vidas Negras Importam” 

“Quando escrevi já estava preocupado e interessa alertar e melhorar. Estamos em uma situação sinistra. Mas, sou otimista em dias um pouco melhores. Das pessoas voltando. Falta só um ano para as eleições. Não é possível que essa situação continue. A fome tá muito gritante”, descreve o realizador. 

Para Nicoly Mota, mostrar a voz da juventude ecoando é um destaque da obra. O que aconteceu naquela escola repercutiu para algo maior. Retrata isso bem, na questão da educação. O filme gira a realidade dos alunos e por parte de alguns gestores”, avalia a atriz. 

Diversão garantida 

Em Fortaleza, “Cabeça de Nêgo” estreia no Cineteatro São Luiz, Cinemas Benfica e Cinema do Dragão. Em outras capitais, pode ser assistido em Belo Horizonte (Cine Belas Artes) e nos espaços Itaú de Cinema em Brasília, Rio de Janeiro (Cinema Botafogo) e São Paulo. 

Após roteirizar e dirigir cinco curtas-metragens e dois documentários, Déo lançou se primeiro longa-metragem de ficção na Mostra de Cinema de Tiradentes (2020). O trabalho foi aplaudido de pé e ovacionado pelo público. Venceu o Troféu Mucuripe de “Melhor Longa da Mostra Olhar do Ceará”, do Cine Ceará.  Foi eleito Melhor Longa-metragem Cearense, pela Associação Cearense de Críticos de Cinema em 2020.  

Para mim é um ponto de amadurecimento. É o primeiro longa e traz aquilo que experimentei nos curtas. Ao mesmo tempo, mostra que estamos na metade do caminho, mas também longe de chegar. Tem coisas que quero fazer, como uma possível série. O ‘Cabeça de Nêgo que está se tornando realidade”, finaliza Déo Cardoso.  

 

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