Espetáculo de dança conta história da cearense Mara Alexandre, primeira rainha junina surda

Protagonizada pela artista cearense, montagem terá apresentação com acesso gratuito na Capital nesta quarta-feira (23), no Cineteatro São Luiz

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
Mara Alexandre é bailarina, coreógrafa e pesquisadora
Legenda: Mara Alexandre é bailarina, coreógrafa e pesquisadora
Foto: Jeff André/Divulgação

Integrante de uma família apaixonada pelo São João, o amor da bailarina Mara Alexandre pelas festas juninas começou ainda cedo, dentro de casa. Aos quatro anos, a futura artista iniciou a trajetória na dança como rainha junina em uma quadrilha infantil no bairro Presidente Kennedy, na capital cearense – mas nem podia imaginar onde os primeiros passos a levariam.

A trajetória exitosa de Mara, das primeiras coreografias ao atual título de primeira rainha junina surda do País, é contada através da dança no espetáculo “A Rainha”, que estreia em Fortaleza nesta quarta-feira (23), no Cineteatro São Luiz, em apresentação única e com acesso gratuito. A montagem também será apresentada na Casa Absurda nos dias 1º, 2 e 3 de maio, com ingressos a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

Em entrevista ao Verso, a artista conta que vê o papel da rainha junina – função que ocupa desde 2013 – como uma responsabilidade que carrega “com orgulho, resistência e afeto”.

“Trouxe um novo conceito de rainha junina para o São João, rompendo padrões e abrindo caminhos. Essa mudança fez com que, hoje, minha presença seja uma referência e inspiração no São João do Brasil”, celebra.

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O desejo de transformar a conquista em espetáculo surgiu em 2020 e foi amadurecido a partir da parceria com a bailarina, professora e pesquisadora Rosa Primo, que foi professora de Mara na graduação em Dança da Universidade Federal do Ceará (UFC) e assina a dramaturgia e a direção de “A Rainha”.

As duas bailarinas, que já haviam trabalhado juntas na elaboração do videodança O Som do Sentir (2024), contaram com a colaboração da dramaturga mineira Ana Maria Fernandes. A apresentação é levada aos palcos pelo 13º Edital Ceará das Artes e pelo Prêmio Funarte Retomada 2023 – Dança, ambos no contexto da retomada cultural pós-pandemia.

Espetáculo reflete sobre identidade e pertencimeto
Legenda: Espetáculo reflete sobre identidade e pertencimeto
Foto: Jeff André/Divulgação

Com foco em reflexões sobre identidade e pertencimento, o explora a importância dos festejos populares e a relevância da produção cultural da comunidade surda. “A Rainha é resultado desse desejo profundo de celebrar e compartilhar minha trajetória como mulher surda, dançante e atuante no movimento junino”, comenta Mara Alexandre. 

O público pode esperar um espetáculo sensível e potente, que mistura dança, memória, ancestralidade e escuta corporal, o tradicional e o contemporâneo, atravessado pelas minhas experiências sensoriais, culturais e políticas. É uma celebração da diversidade, da força e da beleza de ser quem se é.”
Mara Alexandre
Bailarina, professora, pesquisadora e intérprete-criadora

“A surdez também dança”

Artista se apresenta no Cineteatro São Luiz nesta quarta-feira (23)
Legenda: Artista se apresenta no Cineteatro São Luiz nesta quarta-feira (23)
Foto: Jeff André/Divulgação

Por ser uma mulher surda oralizada – ou seja, que também se comunica pela língua nativa falada, no caso, o português – Mara Alexandre encarou o processo de elaboração de “A Rainha” como essencial para a afirmação de sua identidade enquanto pessoa com deficiência.

“Foi um marco muito além da minha história pessoal, foi um gesto de ruptura, de afirmação e de orgulho. Para mim, representa o momento em que finalmente saí do armário da surdez”, explica. “Durante muito tempo, vivi escondendo quem eu era. Eu não aceitava ser surda. Carregava dentro de mim o pior tipo de preconceito: aquele contra mim mesma”, completa.

A relação negativa que tinha com o próprio corpo, conta a artista, foi modificada pela dança. A partir das coreografias, começou a se enxergar com mais cuidado e carinho. “Foi através da dança que descobri que posso escutar com o corpo, sentir com a pele, com os ossos, com o coração. A dança me deu voz, me deu coragem, me deu espaço”, celebra.

A conquista do título de rainha junina, explica Mara, completa essa transformação – e fala não só de sua trajetória, mas visa ecoar esperança para outras artistas. “Ser reconhecida como rainha junina enquanto mulher surda é muito mais do que um título. É uma forma de representar outras pessoas que, como eu, já se sentiram silenciadas, invisíveis, deslocadas”, ressalta.

“É mostrar que a surdez também dança, também brilha, também reina. Essa representatividade é essencial, porque inspira, fortalece e abre caminhos para que outras pessoas surdas se vejam com orgulho, com amor e com potência”, conclui.

Serviço
Espetáculo "A Rainha", com Mara Alexandre

Cineteatro São Luiz
Quando: Quarta-feira, 23 de abril, às 20h
Onde: Rua Major Facundo, 500 - Centro
Ingressos: Acesso gratuito (retirada na bilheteria 1h antes)
Classificação indicativa: Livre
Espetáculo acessível em Libras

Casa Absurda
Quando: 1º, 2 e 3 de maio, às 20h
Onde: Rua Isac Meyer, 108 - Aldeota
Ingressos: R$ 40 (inteira) / R$ 20 (meia-entrada) | Vendas na bilheteria do local e no Sympla (em breve)
Espetáculo acessível em Libras

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