Cadeira de couro marrom e o estilo de casa que faz sentido

Meu olhar sobre as casas lindas e impecáveis mudou na minha vida adulta.

Legenda: A decoração da sala não tá nas galerias de revistas, mas conta a nossa história
Foto: Acervo Pessoal

Uma das coisas que eu mais amava quando era adolescente, era ver revista de casa. Eu ainda penso hoje em dia numa cadeira de couro marrom linda. Casas estilosas, chiquérrimas. Queria pra mim. Mas depois que eu casei e tive cachorro e filha, alguma coisa mudou no meu olhar sobre essas casas lindas e impecáveis.

Deve ser porque a gente descobre que é até meio chato mantê-las assim. Parece que tudo é minimamente pensado e diagramado. Nada chega dos correios, nenhum porta-retrato fora da paleta que ganhou de presente fica, nada vive. Parece tudo sempre tão inerte.

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Eu já aceitei que por um tempo, com tanto cachorro e com criança, as coisas não vão ficar tão organizadas. Mas mesmo que estejam limpíssimas e impecáveis, a decoração clássica e minimalista passou foi longe daqui.

Até um dia desses, o tapete de criança fazia composição com a sala, tem papeis pregados na parede do aniversário da Manuela – que foi em julho, um quadrinho de pincel pra anotar o que falta na cozinha do lado de uma geladeira lotada de fotos e agora no natal, resolvi fazer a árvore de natal do Harry Potter e tem cartas voando pelo teto – me permito dizer que estão voando porque me deram trabalho pra estar com esse efeito.

Eu confesso que a sala toda tá mais enfeitada do que eu imaginava. Mas tem vida, tem muita vida. A vida foi chegando. E ficando, literalmente, até nas paredes. Não sei bem dizer o porquê não quis tirar ainda os papéis de aniversário, talvez eu queira que a Manuela se acostume com eles e queira fazer igual quando escrever.

Quadros que ganhei de presente, fotos de momentos bons devidamente reveladas – tão old school. Falando neles, há 2 quadros coloridíssimos – que eu nem queria que fossem tanto – no corredor da sala. Da Arya e do Peter, meu cachorrinho que morreu. Ganhamos quando ele ainda tava aqui. Um dia, a gente guarda, mas hoje não. Hoje a gente deixa esse ponto de cor gritante pra deixar o corredor cinza, colorido.

Não há quem passe aqui e não cheire vida, perfume de criança, de shampoo de cachorro, de desinfetante que passou no chão pra limpar o xixi deles e de sabão infantil das roupas penduradas que a Manuela usou ontem.

Nada contra poucos objetos e a casa parecendo um consultório odontológico, mas algo nisso me incomoda. Talvez a falta da vida que tenha neles. Talvez a falta de vontade de desbravar a casa, o lugar. Aqui existe um mundo – não necessariamente de coisas materiais – pra desbravar em cada cômodo da casa. Histórias. Algumas iam ficar brega demais e guardamos, outras ficaram, mesmo cafonas porque seria mais cafona ainda, guarda-las.

Aviso quando eu comprar a cadeira de couro marrom – ainda quero – creio que ela, nem de longe, vai ficar deslocada.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora