Harry Potter e o medo de avião

As paixões nos arrancam o medo por alguns momentos

Foto: Acervo Pessoal

Esse livro poderia ser lançado. Novos personagens envolvendo o mundo de Harry Potter. Desde que me tornei mãe, tenho medo de voar. Um medo bobo, não consigo identificar como nasceu exatamente. Ele apenas nasceu e se fixou em seu lugar de medos. No armário das mães, há várias gavetas de medos. Sem pedirmos, elas enchem. E com o medo de voar não foi diferente. Um dia, subi num avião e fiquei com aquele pensamento: e se nunca mais ver minha filha?

Não me deixo levar pelo medo. Geralmente sento ele ao meu lado e ofereço uma xícara de chá – fruto de anos de terapia e um pouco de coragem que a vontade de viver me dá. De qualquer maneira, prefiro viagens curtas embora não deixe de viajar as longas. Ao medo, não damos muita vazão.

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Numa das maiores – uma ida de Recife a São Paulo – 3 horas de voo, liguei a tela na companhia aérea e tinha todos os filmes do Harry Potter. Por algum motivo, nunca tinha assistido antes.

Recorro a muitas coisas quando estou no avião – playlists, textos, idas ao banheiro - tudo para o tempo passar. E finalmente dei o play – Harry Potter e a pedra filosofal. Naquele momento, entendi todo o amor dos potterheads. Que filme maravilhoso. Mas esse texto não é sobre a saga. Na briga entre a ocupar a mente e o medo do voo, o Harry Potter ganhou de longe. E desde então, me apaixonei pela saga, compro bonequinhos, leio sobre bastidores, leio livros.

E por quê? Aos 37 anos? Porque as paixões, meus amigos, elas nos arrancam o medo por alguns momentos, nos tiram um pouco da nossa realidade de mãe medrosa, nos fazem descobrir mundos novos nos fazendo preencher um espaço grande demais só para o medo morar.

As novas paixões, deixar nos levar por elas, nos lembra de sermos crianças de novo, nos relembram que há tantas coisas bobas, boas, bregas, simples a viver, sucumbir ao que aparenta até bobo que faz bem, se render ao que de alguma forma, de maneira leve, nos alegra e nos faz bem.

Acordar a criança dentro da gente, chorar com a morte do Dumbledore e não de medo. Nos deixar tomar pelo que nos contamina positivamente.

Uma das fotos mais lindas que tenho é de um dia, tendo assistido somente à Pedra filosofal, ter ido com a minha filha para um evento do Harry Potter numa livraria. Uma foto que, quando se vê, nem se imagina que eu tenho medo de avião.

Desde então guardo os Harry Potters para quando viajo. E quando a saga acabar, embora ainda tenha 5 livros para ler, continuarei deixando que as paixões me façam voar mais alto e com mais segurança.

Foto: Acervo Pessoal

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora