Pintor cearense Antonio Bandeira tem história contada em filme com estreia em abril
Ousadia pretendida pelo documentário de Joe Pimentel não se cumpre e dá lugar à estrutura clássica
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Nascido em Fortaleza, o pintor cearense Antonio Bandeira (1922-1967) dialogou com diferentes “ismos” da história das artes visuais, mas estabeleceu uma produção livre, por vezes de ruptura, que se impôs historicamente como uma das mais importantes não somente do Ceará ou do Brasil, mas do mundo.
Da cidade natal a Paris — onde viveu em diferentes períodos e também onde acabou falecendo precocemente, aos 45 anos —, os mundos e vivências de Bandeira foram múltiplos, profundos e ricos.
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Celebrando as ousadias e persistências do protagonista, o documentário cearense “Antonio Bandeira - O Poeta das Cores”, de Joe Pimentel, aproveita bem a variada fortuna crítica sobre o pintor para apresentá-lo, mas a sugestão inicial de busca familiar pelo homem por trás do artista não se cumpre na obra.
O filme estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas após passagem premiada pelo Cine Ceará, onde foi escolhido o melhor longa-metragem da mostra Olhar do Ceará na 34ª edição do festival.
"Busca familiar" marca início do documentário
A sequência inicial da produção acompanha um homem em um cemitério na França que, em narração, partilha que está ali realizando um “desejo antigo”: “Buscar a história de Antonio Bandeira, meu tio”, diz.
É Francisco Bandeira. Artista visual, estudioso da vida e obra do pintor e sobrinho, ele atua como espécie de “personagem-dispositivo” — figura que dá partida à narrativa do longa.
Pelo desejo expresso na fala inicial dele — que afirma, ainda, viajar “no tempo e na memória” com este fim —, se estabelece uma sugestão de busca familiar guiada pelo sobrinho. Não é isso, no entanto, que se desvela durante o documentário.
Após a narração inicial de Francisco, entra outra voz masculina em off — a do ator Cláudio Jaborandy — que, entende-se, faz as vezes da fala do próprio Bandeira, baseando-se em escritos produzidos por ele em vida.
Escolha por estrutura clássica documental
No entanto, não é uma coisa nem outra que se estabelece como a fundação da estrutura do filme. Ainda depois, surgem — e permanecem — as tradicionais “talking heads” — ou “cabeças falantes”, estilo de entrevistas diretas com as personagens.
Ressalte-se, os entrevistados são nomes fortes — sejam estudiosos de Bandeira, como a curadora Galciani Neves e a crítica Vera Novis, ou até figuras que conviveram minimamente com o artista, como os artistas visuais Zé Tarcísio e Maria Bonomi — e apresentam informações relevantes sobre o pintor.
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Do amadurecimento em Fortaleza, marcado pela fundição onde o pai trabalhava e pelas árvores flamboyants, à ida ao Rio de Janeiro, passando pelas passagens por França e Itália, o filme explora episódios que dão um panorama da trajetória artística de Bandeira e das relações que estabeleceu com os diferentes contextos históricos, sociais e artísticos pelos quais passou.
A aposta na estrutura documental mais clássica pode ser segura, mas “Antonio Bandeira - O Poeta das Cores” vai variando pontualmente entre as três bases desse “tripé” de formato, o que acaba desbalanceando a narrativa.
Desbalanço entre formativos narrativos
Em meio às entrevistas tradicionais, majoritárias na produção, surgem ora outros trechos das narrações que representam o pintor, ora mais sequências que retomam a pretensa busca do sobrinho Francisco.
Nestas últimas, o filme chega a sugerir, mais de uma vez, fronteiras borradas entre ele e o tio. “No delírio, sou Bandeira, Antonio Bandeira”, diz, por exemplo. Em outros momentos, a semelhança física entre os dois é explorada imageticamente.
Essas construções, porém, são soltas, se encerram em si, sem ligação com a narrativa construída pelo documentário. Prova disso é, por exemplo, o momento em que Francisco surge como entrevistado creditado, despido do “personagem” apresentado até ali nas sequências anteriores.

As contribuições do Francisco-entrevistado são válidas e de interesse — bem como a maioria daquelas partilhadas pelos outros entrevistados, vale reforçar —, mas também descoladas da jornada anterior estabelecida.
Uma frase de Bandeira trazida no documentário — "nunca pinto quadros, tento fazer pintura” — ressalta que, mais do que o suporte em si ou uma obra em específico, os gestos e intenções do artista passavam por um olhar ampliado, interessado na linguagem e nas possibilidades da arte.
Confira o trailer de "Antonio Bandeira - O Poeta das Cores":
Diferentes entrevistados, inclusive, ressaltam que as pinceladas do cearense não são aleatórias. Há espontaneidade e invenção, sim, mas também intenção, pensamento, estrutura.
Nesse paralelo, “Antonio Bandeira - O poeta das cores” parece se constituir como uma tela na qual diferentes temas — das subversões de correntes artísticas estabelecidas empreendidas pelo pintor às questões raciais presentes nas telas dele — são somente pincelados, deixando a sensação de que poderiam ser abordados e aprofundados de outras maneiras.
Como panorama da arte e da figura pública do artista, o filme cumpre uma função importante de apresentá-lo e ressaltar a importância dele para a arte mundial. Já como promessa de obra que ousa como o próprio protagonista, esbarra nos limites do formato.
"Antonio Bandeira - O Poeta das Cores"
- Quando: estreia em 10 de abril
- Mais informações: acompanhe detalhes da estreia no Instagram @sereiadistribuidora