Pintor cearense Antonio Bandeira ganha exposição no MAM (SP)

Até março de 2020, Museu de Arte Moderna de São Paulo reúne obras produzidas durante diferentes fases criativas de um dos pioneiros do abstracionismo no Brasil

Escrito por Redação ,
Legenda: Sem título é trabalho vinculado ao acervo do Instituto São Fernando (RJ) e a pintura foi produzida em 1966
Foto: Ding Musa

A proximidade entre Antonio Bandeira (1922–1967) e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) é das mais férteis. Remete aos primeiros anos de existência da instituição. Em 1951, quando o museu organizava a primeira Bienal, o cearense ganhou exposição individual. Na mesma década, outras três oportunidades acontecem. 1953, 1955 (individual composta por desenhos enviados da Europa ao Brasil) e 1959, no qual integra mostra antes de ser criada a Fundação Bienal de São Paulo. 

Agora, o ano de 2019 demarca um reencontro. Até março próximo, o MAM oferta ao público apaixonado pelas artes visuais a exposição “Antonio Bandeira”. O conjunto permite uma aproximação com cerca de 60 trabalhos. Um dos pioneiros do abstracionismo no Brasil, o pintor é iluminado por acervo capaz de abranger diversos períodos de sua produção. A curadoria de Regina Teixeira de Barros e Giancarlo Hannud promete desnudar a busca criativa e as muitas facetas de um realizador comprometido com o tempo no qual estava inserido.

Legenda: Óleo sobre tela, “London Houses” (1955) integra coleção Rose e Alfredo Setubal
Foto: Ding Musa

A iniciativa chega à capital paulista após ser apresentada, em 2017, no Espaço Cultural Unifor, na Universidade de Fortaleza. No Ceará ganhou o título “Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida” e o novo projeto costura pequenas diferenciações. As peças são oriundas de coleções do eixo Rio-São Paulo e esgarçam as primeiras pinturas figurativas até as grandes telas de tramas, criadas nos últimos anos de carreira. A realização é do MAM e da Base7 Projetos Culturais. A expografia é assinada por Álvaro Razuk e Ricardo Amado.

Na arte nacional, Bandeira ocupa posição bastante particular. Na contramão de contemporâneos, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, o realizador nascido em Fortaleza nunca se filiou a grupos ou movimentos artísticos. 

É considerado um dos poucos “independentes” de seu tempo e foi um dos primeiros artistas a cultivar ativamente a própria imagem. Outra característica notável, descreve o curador Hannud, é o campo de atuação, seja no ambiente artístico brasileiro ou no internacional. A dupla de curadores divide um pouco da experiência artística, comprometida em desvendar um universo de cores, escolhas e percepções tão rico. 

“É sempre instigante. Como toda arte do passado é relevante ao presente”, reflete Hannud. O pesquisador compara as duas exposições assinadas por ele e Regina Teixeira. As mudanças são sutis e uma perspectiva contemplada no novo trabalho foi explorar o espaço físico do MAM, permitindo uma leitura fluída entre as obras. 

“O público vai acessar um apanhado geral da obra. Um artista complexo, que experimentou inúmeras técnicas e materiais”, reforça o entrevistado. Bandeira transferiu-se em 1945 para o Rio de Janeiro. Aos 24 anos, viajou para Paris com bolsa de estudos concedida pelo governo francês e por lá se aproximou de artistas como Camille Bryen e Georges Mathieu, além do alemão Wols, que exerceu forte influência sobre seu trabalho.

Amigo da vida

A apresentação no MAM São Paulo ganha relevância por permitir o acesso a estes trabalhos e explorar a discussão em torno da obra. Por trás do abstracionismo, Bandeira desenvolveu peças que se relacionam com a paisagem urbana e cenas do cotidiano. Muitos dos lugares onde o cearense viveu estão impregnados na obra, divide Hannud. “Bandeira partia da vida para compreender o abstrato e não o contrário”, argumenta. 

Legenda: “Auto-portrait” (1965). Óleo sobre tela de coleção particular
Foto: Ding Musa

“Flora agreste” (1958), “Ascensão das favelas em azul” (1951) e “Cais noturno” (1962-63) entregam tal força. A mostra também une a multiplicidade dessa produção. Inclui aquarelas e guaches da década de 1940 e trabalhos mais experimentais, realizados na década de 1960, com fitas adesivas ou sobre flãs de jornal.

Por sua vez, Regina Teixeira divide quanto o contato com esse universo é instigante. “Cada vez você vê uma coisa diferente, a diversidade de técnicas. Cada vez que eu monto, faço um trabalho, é como se redescobrisse ele. Vemos outros aspectos, é sempre enriquecedor”, completa.

A atualidade e relevância do legado deixado por Bandeira são esmiuçadas pela curadora. Duas características evidenciam a contribuição dele para o Brasil de hoje. A primeira é a incessante busca por ideias e novas formas de dialogar com o público. “É um artista com muita pesquisa de materiais e exemplifica o poder transformador da arte. Permite e mostra que a arte pode ser experimental, trazer novidades, se reinventar”. 

Legenda: "Primaveril" (1965) Antonio Bandeira Coleção Sr. e Sr. Jorge A.M.Yunes
Foto: Ding Musa

A última passagem de Bandeira numa instituição de São Paulo aconteceu no Masp, em 2005. A volta é uma chance para turistas e locais abraçarem um acervo único. Imerso no limiar entre a corrente moderna e a contemporânea, temos um criador feliz e aberto a novas influências. 

A segunda característica, segundo Regina Teixeira, incide sobre o colorido na obra de Bandeira. “Tem uma pintura muito alegre, jovial, com muita cor, luz. Isso é uma mensagem legal. Andamos muito cabisbaixos com a situação atual do Brasil. Traz alegria para esses tempos sombrios. Identificado com uma abstração informal, geométrica, quase gestual, ele tem simultaneamente um pensamento e criou pinturas bem estruturadas e metódicas. Vemos um indivíduo se colocando no mundo. É muito peculiar ao Bandeira. Só existe um”.

Serviço

“Antonio Bandeira”.  Em cartaz até 1º de março de 2020, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3). De terça a domingo, das 10h às 17h30. Ingresso: R$ 10. Gratuidade aos sábados. Contato: (11) 5085-1300.

 

 

 

 

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