A moda sempre será política e o que isso tem a ver com a moda conservadora

Se você acha que moda e política são duas coisas que não se relacionam, sinto muito informar: você gosta só de roupa

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br
(Atualizado às 11:04)
Legenda: Melindrosas dos anos 1920 exaltavam a liberdade feminina como ainda não havia sido visto
Foto: Divulgação

Uma coisa é fato: a moda é política. E quando afirmo isso não quero dizer que é apenas uma camiseta de cor vermelha com uma estrela branca, indicando o partido no qual eu voto, por exemplo. Ela é, além de uma expressão cultural, um forte instrumento de manifestação política.

É muito claro também como a moda é influenciada pelas questões políticas e econômicas que vivemos, as quais respondem muitas das nossas questões em relação a cada geração - um exemplo claro disso é quando nós millennials criticamos tão firmemente o conservadorismo da geração Z.

Essa relação pode ser explicada tranquilamente pela Hemline Index, uma teoria que diz que o tamanho das saias pode aumentar ou diminuir de acordo com a queda ou alta da bolsa de valores. Quando a bolsa está em alta, as saias ficam mais curtas, mas quando a economia vai mal, as saias ficam mais longas. A metáfora perfeita para explicar as transições de estilo, o vai e vem dessa onda conservadora que invade nossos armários.

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Todo mundo aqui deve saber quem foram as melindrosas dos anos 1920, certo? Elas eram moças de saias “curtas”, cabelos curtos em estilo chanel, com maquiagens exageradas, bebiam e fumavam em público, dirigiam e viviam a liberdade feminina como ainda não havia sido visto.

Elas foram uma resposta direta à “garota Gibson”, uma representação feminina dos anos 1890, onde as mulheres eram recatadas, modestas, de classe alta, mas que queriam apenas ser esposas.

Mas o que acontecia em 1890 para as mulheres serem representadas assim? O Pânico de 1893, uma das mais graves depressões econômicas que os Estados Unidos passaram até a crise de 1930. Enquanto na década de 1920, a economia norte-americana cresceu 42%, um período de grande expansão industrial.

Não é nada de outro mundo quando as pessoas começam a se vestir de forma mais conservadora: ao ter dinheiro no banco, você está mais propenso a se arriscar, você fica mais ousado tanto em ambientes profissionais quanto sociais, você se sente mais inclinado a experimentar o diferente.

Quando o cenário político e econômico não está favorável, você evita chamar atenção. Em momentos de incerteza, você opta pela certeza e o que é mais certo do aquilo que é tradição?

Então, não, a estética clean girl, o ideal de mulher elegante não é só um estilo ou uma tendência passageira. Os tons sóbrios, o excesso de alfaiataria, todo esse excesso de pudor e decência são a influência direta que os novos ares políticos estão exercendo sobre a nossa vida.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora