O que nos dizem os looks da nossa infância?
Quando eu era criança, tudo que eu queria era poder usar meu vestidinho de frutas e legumes da Giovanna Baby. Hoje em dia, eu continuo querendo a mesma coisa.

Esses dias, me deparei com um vídeo em uma rede social mostrando uma mãe falando que a filha queria usar seu sapato mais caro pra ficar em casa. Não queria um chinelinho, uma sandalinha, era um sapatinho fechado, dourado e com glitter, provavelmente um daqueles que ela só usa em ocasiões especiais.
Por algum motivo, a criança entendeu que aquele momento também era especial e pedia um look à altura… vai saber.
O que eu sei é que esse vídeo me transportou diretamente para os meus 5 ou 6 anos, onde eu fazia esse mesmo tipo de presepada com a minha mãe. Eu tinha um vestidinho de frutas e legumes da Giovanna Baby que eu queria usar todo dia, junto com o meu sapatinho de boneca branco e um laço no cabelo.
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Obviamente, esse look também era só para ocasiões especiais (e também só duraria até a primeira gota de suor cair da minha nuca) e minha mãe nunca permitiria que eu usasse minha melhor roupa para ficar em casa.
Comecei a me questionar: em que momento a gente parou de se vestir? Quando a gente parou de usar nossas melhores coisas em todos os momentos? Existe todo o recorte, claro, anos 1990, tempos de muita escassez para as famílias pobres e de classe média, mas os questionamentos não deixam de ser válidos e não deixam de afetar a forma como nos vestimos hoje.
Em casa, eu sempre ouvia que era bobagem se vestir pra ficar em casa ou pra ir na casa da minha prima brincar ou naquele eventinho do colégio que eu estudava.
Acredito que é aqui que mora tantos dos nossos entraves com o armário: paramos de prestar atenção no comum, se vestir é um trabalho para ocasiões super especiais e hoje ficamos aqui sem saber se vestir nem pra um e nem pra outro, porque a vida adulta é essa grande área cinzenta; é também nesse momento que a gente para de se entender, para de prestar atenção no que gosta e como gosta, porque se vestir é só para alguns momentos; e, por fim, a gente perde a construção do dia a dia, e estilo pessoal é observação e construção diária.
É o todo dia que a gente se arruma para trabalhar (em casa ou na rua), para pegar os filhos na escolha, para ir ao cinema.
A ocasião especial é só uma vez, é só um momento. Com a vida a gente lida com o dia a dia a todo e qualquer instante.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora