Nação Zumbi celebra legado do disco ‘Da Lama ao Caos’ com show especial em Fortaleza

Álbum lançado em 1994 projetou música nordestina para o Brasil e o mundo e ganhou turnê comemorativa em 2024.

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
Grupo apresenta show comemorativo no Festival Tamo Junto BB.
Legenda: Grupo apresenta show comemorativo no Festival Tamo Junto BB.
Foto: Divulgação/Luca Lima.

Um dos mais álbuns mais celebrados da música brasileira será apresentado ao vivo e na íntegra em Fortaleza nesta sexta-feira (12), no Marina Park. Parte da turnê de comemoração dos 30 anos do “Da Lama ao Caos”, disco de estreia de Chico Science & Nação Zumbi, a apresentação integra o line-up do Festival Tamo Junto BB, que terá, além da Nação Zumbi, shows de BaianaSystem, Rachel Reis, João Gomes e mais.

A apresentação em Fortaleza contará com a formação atual da NZ (composta por Jorge Du Peixe, Dengue, Toca Ogan, Marcos Matias, Gustavo Da Lua, Tom Rocha e Neilton Carvalho) e a participação especial de Maciel Salu, mestre do Maracatu Piaba de Ouro e filho de Mestre Salustiano, para quem a música "Salustiano Song" foi feita.

Além dela, integram o repertório do show especial sucessos como "Rio Pontes & Overdrives", "A Praieira", "Samba Makossa", "Risoflora", "Computadores Fazem Arte" e, claro, a faixa-título do disco.

Desde junho de 2024, a banda pernambucana realizou 26 shows em homenagem ao disco icônico, incluindo dez na Europa. Depois de quase ficar fora da rota da turnê, Fortaleza recebe a penúltima apresentação comemorativa da turnê, seguida por Belém (PA), que recebe o último show do “Da Lama ao Caos” no dia 13 de dezembro, no Festival Psica.

“Da Lama ao Caos”, o início de uma nova era da música brasileira

Formação original da Chico Science & Nação Zumbi.
Legenda: Formação original da Chico Science & Nação Zumbi.
Foto: Reprodução.

Considerado um dos marcos inaugurais do manguebeat – movimento que se destacou ao propor um debate sobre ocupação da cidade e desigualdade social e ao conectar rock, rap e música eletrônica a ritmos tradicionais nordestinos, como o maracatu e o baião –, o álbum de estreia da Nação foi inicialmente recebido com estranheza, mas em pouco tempo rompeu fronteiras, fez sucesso no País e no mundo e se tornou uma das principais obras da música brasileira recente. 

Em entrevista ao Verso, o vocalista Jorge Du Peixe, um dos fundadores da Nação Zumbi, destacou o impacto do álbum na música brasileira e relembrou o processo de construção do disco.

Disco de 1994 marcou história da música brasileira.
Legenda: Disco de 1994 marcou história da música brasileira.
Foto: Reprodução.

Para o artista, o sucesso do “Da Lama ao Caos” foi fundamental para impulsionar uma onda de bandas brasileiras interessadas em fazer música em português, com a cara do País.

“Nos anos 80, uma década antes, eram três acordes, o pessoal tentando ser banda inglesa, era engraçado isso. 90, para mim, foi uma chave de virada da música no mundo, na minha perspectiva. Desde o hip-hop, até a própria música do Brasil ser reconhecida dentro do Brasil, porque o ‘Da Lama ao Caos’ mostrou que é possível fazer música com o que você tem à sua volta”, aponta Du Peixe.

Em um momento em que a cultura nacional se fortalecia, a aposta da NZ em ritmos menos homogeneizados foi ousada, mas acabou encontrando eco na força que ritmos de outros estados ganhavam, a exemplo do axé baiano e do samba carioca.

Com três tambores de maracatu, percussão, guitarra e baixo, além da forte influência da cultura hip-hop, a formação original da banda fez sucesso ao olhar com interesse renovado para as riquezas culturais de seu estado natal, Pernambuco.

“A gente usou dos nossos folguedos, do maracatu, do coco, da ciranda. O baião também está ali, de alguma maneira. E a gente vê depois disso, desse grito dado a partir dos anos 90, que existe o som de Fortaleza, existe o som de Belém, existem os lugares”, completa.

Chico Science se apresenta com a NZ na barraca Biruta, em 1994. Banda sempre esteve ligada à cena musical de Fortaleza.
Legenda: Chico Science em show com a NZ na barraca Biruta, em 1994. Banda sempre esteve ligada à cena musical de Fortaleza.
Foto: Reprodução/Arquivo Biruta.

Du Peixe afirma que a criação do álbum “fluiu naturalmente”, tendo como único propósito a frase eternizada por Chico Science no manifesto “Monólogo ao Pé do Ouvido”, que abre o “Da Lama ao Caos”. 

“Como Chico dizia, ‘bastava soar bem os ouvidos’. Antes de qualquer coisa, tinha que passar pelo nosso gosto, claro, e consequentemente haver uma identificação, como qualquer disco. A gente tinha muito cuidado com as batidas, cuidado com os riffs, cuidado com os arranjos”, destaca. 

A produção foi liderada por Liminha, ex-integrante d’Os Mutantes, que “botou a rapaziada no colo e conduziu da melhor maneira”, conta Jorge. “Acho que não teria outra pessoa para fazer esse disco”, completa. 

A ideia da música do mangue, cidade-estuário, a cidade-mangue foi a metáfora maior, para mostrar também a diversidade musical que o estado oferece.”
Jorge Du Peixe

Apesar de perceber que os artistas brasileiros ressaltam, cada vez mais, as culturais locais de onde vivem em suas criações, Du Peixe avalia que “o Brasil ainda tem muita coisa para ser mostrada” em relação à música. “O frevo talvez seja uma próxima bala do que Pernambuco oferece em termos de ritmos distintos, porque ainda é muito escondido”, exemplifica.

Em 2026, banda pretende lançar novo disco e celebrar ‘Afrociberdelia’

Toca Ogan, Dengue e Jorge Du Peixe, membros remanescentes da formação original da Nação.
Legenda: Toca Ogan, Dengue e Jorge Du Peixe, membros remanescentes da formação original da Nação.
Foto: Olívia Leite/Divulgação.

Após o encerramento da turnê neste mês, a Nação Zumbi deve retomar planos atropelados pela correria dos últimos meses, como um novo álbum de inéditas – previsto originalmente para 2024 –, que deve ser lançado no segundo semestre do ano que vem. 

“Com a correria da estrada e tudo mais, a gente tem que se transformar em cinco. Seis, às vezes”, brinca Du Peixe. “O disco está pronto, a parte musical. Tem adições ali e tal, mas tá no corredor final. Esse disco sai ano que vem, sem falta”, promete.

Antes do novo álbum, porém, a banda deve celebrar outro marco da história da Nação Zumbi: o disco “Afrociberdelia” (1996), que completa 30 anos em 2026 e também teve impacto significativo na música nordestina e brasileira. Segundo disco da banda, ele foi o último gravado com Chico Science, que faleceu em um acidente de carro em 1997. 

O último álbum autoral da Nação Zumbi, que leva o nome do grupo, foi lançado em 2014. Depois disso, a banda lançou apenas a coletânea de releituras “Radiola NZ, Vol. 1”, em 2017.

Sem adiantar detalhes sobre uma possível turnê, Jorge Du Peixe afirma que “possivelmente virá algo especial para comemorar” o trabalho.

“Não pode deixar passar em branco, né? Celebrar as obras é importante também. Você reacende, e diferente da audição do disco é você ouvir o disco no palco, na íntegra, na ordem, da maneira que está exposta no disco, que tem toda uma ligação entre uma música e outra”, conclui.

Serviço
Show Nação Zumbi - 30 Anos de “Da Lama ao Caos”

Quando: Sexta-feira, 12 de dezembro
Horário: 19h (início do evento ) / 23h15 (previsão de início do show da NZ)
Onde: Marina Park (Av. Pres. Castelo Branco, 400 - Moura Brasil)
Ingressos: A partir de R$ 80 | Vendas na Eventim
Mais informações: @festivaltamojuntobb

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