Quando o bar é de família, o petisco é homofobia?

É revoltante que em 2025, ainda que amparados pela legislação, soframos com a homofobia de sempre.

Escrito por
Silvero Pereira verso@svm.com.br
(Atualizado às 18:58)

Um casal de mulheres foi expulso de um bar em Missão Velha. O vídeo do momento em que o dono do estabelecimento se dirige ao casal exigindo sua saída tem circulado nas redes e na imprensa. Depois de assistir ao conteúdo tão pavoroso, me veio uma única pergunta: o que seria um bar de família?

No vídeo em questão, o dono do bar explica que não aceita a presença das duas mulheres, porque seu bar é um “bar de família”, frequentado por “esposas e crianças”, e não um “cabaré”. Por mais que o proprietário negue ser homofóbico, com aquela velha justificativa de que “tem amigos que são”, fica muito claro que, para ele, um casal lésbico não pode ser considerado família e que o lugar propício para um beijo entre duas mulheres é um prostíbulo.

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Eu poderia escrever aqui sobre o fato de que nenhuma empresa ou profissional autônomo pode negar atendimento a consumidores em razão de orientação sexual ou identidade de gênero, segundo o Código de Defesa do Consumidor. Eu poderia abordar que um ato como esse pode ser enquadrado também no Código Penal, com pena de dois a cinco anos de reclusão e pagamento de multa. Eu poderia, por fim, lembrar que dentro da esfera cível, o casal pode processar o dono do bar por danos morais e materiais, mas volto a perguntar: o que consiste um bar de família?

Um local que promove o consumo de bebidas alcóolicas e, consequentemente, oferece risco de brigas, barulhos ou exposições de adultos embriagados é adequado para crianças? As “esposas” que frequentam esse tipo de estabelecimento não podem trocar gestos de carinho com seus maridos? Qual exemplo de valor um homem que trata outras mulheres de forma violenta deseja transmitir? De que tipo de família estamos falando?

Existe um motivo muito claro para que bares específicos para o público LGBTQIAP+ tenham existido (e existam até hoje): são espaços que oferecem proteção à dignidade e à liberdade dessas pessoas. É revoltante que em 2025, ainda que amparados pela legislação, soframos com a homofobia de sempre.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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