2025 foi ano de grandes realizações para audiovisual no Ceará
Conquistas do ano vão da criação da Empresa Cearense de Audiovisual à participação de artistas cearenses em produções premiadas.
2025 foi o “ano 101” do cinema cearense, cujo centenário simbólico foi comemorado em 2024. De maneira também simbólica, a abertura deste novo século de produção do Estado foi marcada por lutas históricas que se transformaram em novos horizontes para a estruturação do audiovisual feito no Ceará.
Caso tanto da criação da Empresa Cearense de Audiovisual — que enfim foi oficializada após décadas sendo defendida e buscada pela classe — quanto do anúncio da primeira graduação em cinema do interior do Estado — demandada há mais de 10 anos na região do Cariri e que ganhou sinal verde em agosto para implementação em 2027.
Ambos os exemplos comprovam, cada um à sua maneira, que toda conquista das produções e artistas cearenses é fruto, acima de tudo, de processos. Continuidades.
Da demanda finalmente conquistada ao primeiro passo de efetivação de outra, passando por destaques nacionais e internacionais recebidos, o desejo e a ação apontam para o mesmo: que novas histórias e conquistas históricas sigam sendo construídas neste início de século do audiovisual cearense.
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Talentos cearenses em produções do Brasil inteiro
A máxima de que “tem cearense em todo canto” foi reforçada com louvor em 2025. A presença de talentos do Estado em obras audiovisuais de todo o País não é exatamente novidade, mas neste ano a sensação foi a de que houve ainda mais artistas daqui no cinema e na TV.
Geane Albuquerque e Robério Diógenes, por exemplo, brilharam na produção pernambucana “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho — cineasta que já havia escalado nomes do Ceará no longa anterior, “Bacurau” (2019).
O começo desta jornada se deu no Festival de Cannes, onde o filme estreou e foi premiado, e está prestes a chegar até o Oscar. No principal prêmio dos Estados Unidos, o filme está entre os favoritos para receber indicações em categorias como Melhor Filme e Melhor Filme Internacional.
Já em “Manas”, que também tentou representar o Brasil no Oscar, um dos destaques foi a cearense Fátima Macedo, que em 2025 ainda compôs o elenco de outras duas produções nacionais de destaque: a novela da Globoplay “Guerreiros do Sol” e a série da Netflix “Pssica”.
Na produção da Netflix, o elenco cearense tinha também Lucas Galvino, David Santos e Ana Luiza Rios. Já na obra da Globoplay, houve a presença de nomes como Claudio Jaborandy, Daniel Dias da Silva, Georgina Castro, Mateus Honori, João Fontenele e Larissa Goes, além de Fátima e Lucas.
Plataforma para a produção cearense
Um espaço para ampliar e fortalecer o acesso às produções do audiovisual do Ceará. Lançada em agosto deste ano, a plataforma de streaming gratuita Siará+ começou reunindo 50 títulos no catálogo, entre filmes em diferentes formatos e gêneros.
Com o passar dos meses, novas obras cearenses foram sendo incorporadas ao acervo a partir de chamadas públicas do Cineteatro São Luiz. O equipamento histórico está sendo responsável pela implementação e gestão inicial da plataforma
Entre os longas-metragens que compõem a Siará+, há por exemplo obras de relevância histórica do Estado — caso dos longas “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” (1986) e “Corisco & Dadá” (1996), ambos do cineasta Rosemberg Cariry.
Produções mais recentes também já estão disponíveis, como “Mais Pesado é o Céu”, de Petrus Cariry; “A Filha do Palhaço”, de Pedro Diógenes; e “Quando eu me Encontrar”, de Michelline Helena e Amanda Pontes. As três estrearam comercialmente no ano passado.
Além do papel já importante de democratizar o acesso do próprio cearense à produção do Estado — onde salas de cinema não existem na grande maioria dos municípios —, há também um caráter educativo ligado à plataforma.
A partir do primeiro semestre de 2026, a Siará+ irá incorporar o projeto São Luiz Itinerante, que disponibiliza obras de cinema junto de materiais didáticos para docentes — uma possibilidade de potencializar a aliança entre educação e audiovisual no Estado.
Anúncio de nova graduação
Ainda que a concretização seja futura, o anúncio em si já pode ser destacado como motivo para comemoração: o Ceará ganhará nova graduação em Cinema e Audiovisual, e dessa vez no interior do Estado.
A conquista veio após mais de 10 anos desde a primeira vez que foi proposta a criação de um curso da área na Universidade Federal do Cariri (UFCA), ainda em 2014. A luta pela oficialização da formação, porém, é ainda anterior.
O anúncio de que a UFCA, sediada em Juazeiro do Norte, ganhará a nova graduação ocorreu em agosto deste ano, durante realização do evento Cariri é Cinema: I Encontro de Cinema e Educação da instituição. A previsão de abertura da primeira turma é para 2027.
A futura graduação será a segunda em uma universidade pública federal no Ceará, e a primeira do interior do Estado. A nível regional, a importância também é central: ela será somente a segunda em uma cidade interiorana no Nordeste.
Criação da Empresa Cearense de Audiovisual
Mais de oito anos depois do então governador Camilo Santana (PT) ter anunciado o projeto da “Ceará Filmes”, voltado ao desenvolvimento do audiovisual do Estado, a iniciativa da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) finalmente foi criada de maneira oficial.
Nomeada agora como Empresa Cearense de Audiovisual (Ecav), ela teve o projeto de lei aprovado por aclamação — ou seja, sem votação individual — na Assembleia do Ceará (Alece) no último dia 16 de dezembro.
“Sonho muito antigo” do setor do audiovisual, nas palavras da secretária da Cultura Luisa Cela, a empresa estaria apta para operar, nas previsões anteriores da Secult, a partir de 2026. A sanção do governador Elmano de Freitas (PT) ocorreu no último dia 19.
Desde 2024, o processo da concretização da ECAV foi fortalecido a partir de uma série de passos que incluíram articulações institucionais, consultoria de implantação, seminário de escuta com o setor e divulgação de pesquisa sobre o aspecto econômico do audiovisual.
Este último passo listado, inclusive, ocorreu durante audiência pública sobre a criação da empresa, realizada no início de setembro. Na ocasião, o destaque foi o dado de que cada R$ 1 investido no setor audiovisual cearense retorna em média R$ 3,10 à economia.
Circulação nacional e internacional
Dando sequência a algo que já virou costume, diversas produções com DNA cearense circularam por festivais no Brasil e em outros países. Muitas, inclusive, se destacaram também com premiações.
Foi o caso, por exemplo, da comédia “Morte e Vida Madalena”, de Guto Parente. Já em janeiro, a produção saiu vitoriosa da Mostra de Cinema de Tiradentes. Em julho, venceu prêmio de distribuição na França durante o festival FIDMarseille. Em setembro, levou troféu especial da crítica no Festival de Brasília — só para citar alguns.
Outro destaque importante ocorrido em 2025 foi o retorno do Ceará ao Festival de Cannes, em maio. O projeto Directors’ Factory Ceará Brasil foi patrocinado pelo Governo do Ceará por meio da Secretaria da Cultura.
Após a participação sem precedentes de uma produção filmada no Estado e com equipe e elenco majoritariamente daqui no evento, quatro curtas gravados na Sabiaguaba, Centro e Mucuripe abriram a mostra paralela Quinzena de Cineastas.
É possível citar, ainda, a seleção do experimental “Resumo da Ópera”, com direção de Honório Félix e Breno de Lacerda, para a Mostra de Tiradentes e para o Festival Mix Brasil. Tanto ele quanto o filme de Guto também ganharam exibições em Fortaleza.
A animação cearense também teve circulação relevante neste ano, com foco no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. O evento selecionou o longa "Glória & Liberdade", uma coprodução Ceará-Pernambuco com direção da baiana Letícia Simões, e o curta "No Início do Mundo", de Camilla Osório de Castro.