Quando e como a Ceará Filmes, projeto de desenvolvimento audiovisual lançado em 2017, será efetivada
Governo prevê construir instituição dedicada ao fomento do cinema cearense com previsão de lançamento para 2026
São mais de sete anos desde que o então governador Camilo Santana anunciou de forma oficial um projeto dedicado ao desenvolvimento do audiovisual cearense. Entre burocracias, pandemia e outras demoras, a Ceará Filmes chega a 2024 como uma promessa ainda não entregue, mas com novos passos importantes rumo à concretização.
Em entrevista à coluna, a secretária da Cultura do Ceará Luisa Cela adianta que a previsão de ter a Ceará Filmes “operando”, em formato ainda a ser determinado, é 2026. Em entrevista por telefone, a gestora destrincha os próximos passos e o cenário “positivo” para a concretização deste “sonho muito antigo” do setor audiovisual cearense.
Consultoria, seminário e pesquisa entre próximos passos
Trabalhos mais intensos e deliberativos acerca da Ceará Filmes têm ocorrido desde o início do ano e devem seguir nos próximos meses. Uma consultoria de implantação será efetivada com Alfredo Manevy, que foi da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e contribuiu com a criação das empresas públicas Spcine (SP) e Bahia Filmes (BA), referências para a experiência cearense.
Em paralelo, haverá um seminário de escuta — das demandas do campo no Estado, das experiências exitosas do tipo no Brasil e na América Latina e, ainda, da estrutura interna do Governo — e o aprofundamento de uma pesquisa sobre o aspecto econômico do setor — que deve traçar, conforme Luisa, “o tamanho, a quantidade de profissionais, de empresas e recursos que ele movimenta no Estado”.
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O investimento para os três passos — a consultoria, o seminário e a pesquisa — será de R$ 1,5 milhão, valor advindo de parte dos rendimentos dos recursos repassados ao Estado para o audiovisual pela Lei Paulo Gustavo.
O total de rendimentos dos recursos da LPG, segundo a secretária, está em torno de R$ 5 milhões. R$ 1,5 milhão será utilizado para o processo de construção da Ceará Filmes e o restante, adianta ela, será utilizado para convocar artistas e projetos entre os classificáveis dos editais da LPG, conforme pactuado no Conselho Estadual de Políticas Culturais
Tramitação em 2025, operação em 2026
A definição da consultoria e das próximas fases foi fruto de ações realizadas ao longo de 2024. Desde o início do ano, Grupos de Trabalho (GT) com representantes do setor, da Secult e dos institutos Dragão do Mar e Mirante — Organizações Sociais que fazem gestão de equipamentos da rede pública — têm se reunido para estabelecer as prioridades de ação.
O cronograma definitivo de cada uma das fases futuras será fechado após reuniões entre o consultor, os GTs formados e a pasta. A meta da Secult é entregar os resultados destes movimentos ao governador Elmano de Freitas até o final do ano.
“Nosso desejo é que a gente tenha o ano de 2025 para as tramitações — para criar essa instituição, tem uma tramitação na Assembleia Legislativa — e (para) iniciar o processo de implantação, para que a gente em 2026 esteja — seja com agência, seja com empresa pública — operando e fortalecendo as políticas para o audiovisual no nosso estado”
Agência ou empresa?
O momento que se abre para a Ceará Filmes a partir de agora, define Luisa, será para “ouvir o campo cultural” e “se debruçar sobre o programa, investimentos, para definir qual é o formato dessa instituição”.
Entre as possibilidades citadas pela gestora, estão o de uma empresa pública e de uma agência. A escolha de modelo será debatida a partir de “aspectos que precisam ser compreendidos dentro da dinâmica específica do Ceará”.
“Uma agência se vincula a um papel regulador, seria esse o caso? Ou é o caso de fomentar o mercado e a indústria do audiovisual do Ceará criando mecanismos mais ágeis, que se conectem de uma forma mais precisa às exigências do mercado?”, pondera a gestora.
As respostas devem vir com a realização do seminário previsto. “É uma expectativa muito grande no setor esse momento, porque a gente — apesar de estar com esse grupo de trabalho que tem representações — precisa ampliar esse processo de escuta”, destaca.
“O seminário vai ser um momento importante tanto para a gente ouvir as experiências que existem no Brasil e no mundo, como para a gente também ouvir ali as expectativas de forma mais ampliada das pessoas que fazem o audiovisual cearense”, avança.
Cenário positivo da política à produção
O momento pujante do cinema cearense — com sucessivas estreias nas últimas semanas e um provável recorde de lançamentos neste ano — é destacado pela secretária como exemplo da força do audiovisual.
São filmes, ressalta, que “foram premiados em importantes festivais no Brasil e fora, com cineastas cearenses, boa parte deles frutos de capacidade de trabalho e articulação de criatividade do campo cearense e contando com apoio de políticas públicas”.
“Isso nos dá uma leitura política da importância desses apoios para que os profissionais do setor audiovisual possam se destacar e trazer para o nosso estado uma visibilidade muito importante e, claro, também contribuir para abrir outras frentes de desenvolvimento econômico”
“A gente acredita que o Ceará pode fortalecer ainda mais essa importância do audiovisual do Brasil e nos apresentar de forma honrosa para o Brasil e o mundo inteiro, como a gente tem visto já com o que nossos cineastas têm feito”, segue.
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Para tanto, Luisa reforça um entendimento necessário — e cada vez mais fortalecido — do potencial econômico não só do audiovisual, mas da economia criativa.
“Para o investimento para o funcionamento da empresa, nós imaginamos que, além da fonte do tesouro estadual, nós teremos também parcerias”, ressalta a secretária, citando, além da Ancine, o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Assim como o BNB e o BNDES fomentam outros tipos de indústria, acreditamos que vamos conseguir linhas de financiamento para a indústria e o mercado audiovisual do Ceará”, confia a gestora.
“Não resta dúvida que os setores criativos, e dentro deles o audiovisual, são uma via em que o Brasil e o Ceará têm potencial imenso de crescimento. Estamos apostando muito nisso e, claro, com uma conjuntura política da força do setor audiovisual e dessas instituições favoráveis para a gente concretizar isso”
Investimento indefinido
Em relação a valores futuros de investimento para a concretização de fato da Ceará Filmes, a secretária prefere esperar definições necessárias, como a do formato.
“Qual o tamanho dessa empresa, o custo de funcionamento, as políticas que vai desenvolver? Tudo isso precisa ser respondido para que a gente possa estimar um valor de investimento”, argumenta. Além disso, Luisa também lembra da necessidade de definir se o futuro programa centralizará ou não determinados investimentos.
“O governo tem uma média, sem considerar os recursos federais, de investimento de R$ 15 milhões através do edital, que é a principal forma de fomento, mas tem programas que a Porto Iracema, o Centro Cultural Bom Jardim, o Museu da Imagem e do Som desenvolvem”, aponta. “Vai ser avaliado em que medida isso permanece nessas instituições, em que medida isso será centralizado. Isso tudo é objeto da consultoria”, explica.
Histórico da Ceará Filmes
“O desejo de se constituir uma instituição que estivesse dedicada ao fomento e à valorização do audiovisual no estado do Ceará é um sonho muito antigo. Lembro logo do Rosemberg (Cariry) como um cineasta que capitaneou, junto de outras pessoas do campo cultural, esse desejo e essa luta”, reconhece Luisa Cela.
O primeiro esboço apresentado ao público do projeto data de maio de 2017, quando Camilo apresentou a Ceará Filmes como o “Programa Estadual de Desenvolvimento do Audiovisual e da Arte e Cultura Digital”.
Contextos de crise na Agência Nacional do Cinema (Ancine) — que seria parceira inclusive financeira do programa —, no entanto, impactaram à época na viabilização do projeto.
A atual titular da Secult, que compunha a gestão como secretária executiva, lembra de falas públicas do então governador “se comprometendo” com a criação da Ceará Filmes novamente em 2019.
Os impactos da chegada da pandemia “associada ao desmonte das políticas culturais” a nível federal, como define Luisa, adiaram a concretização. “Realmente foi muito desafiador e a gente não conseguiu cumprir, fazer essa entrega da instituição. Focamos, então, na formulação da lei”, explica.
A sanção da lei que criou a Ceará Filmes, então, ocorreu em dezembro de 2021. O texto da ocasião, aponta Luisa, “estabelece linhas, responsabilidades e diretrizes para essa política”.