Cine Ceará tem recorde de longas cearenses que aponta fortalecimento e pluralidade do audiovisual

33º Cine Ceará exibe entre 25 de novembro e 1º de dezembro um total de 12 longas-metragens produzidos no Estado; número reflete desenvolvimento recente do audiovisual cearense

Legenda: De comédia infantil produzida no Bom Jardim a dramas premiados em grandes festivais, Cine Ceará apresenta diversidade do cinema local
Foto: Divulgação/ Arte Louise Dutra

O número de longas-metragens cearenses na programação do 33º Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema iguala o número de obras do Estado lançadas comercialmente entre 1996 e 2011. A informação depõe não somente sobre o desenvolvimento da produção audiovisual cearense nas últimas décadas, mas também sobre o lugar do festival enquanto vitrine para esses filmes. A programação gratuita acontece entre 25 de novembro e 1º de dezembro, no Cineteatro São Luiz e no Cinema do Dragão.

Só na edição de 2023 do evento serão exibidos 12 longas cearenses, enquanto no recorte de 15 anos destacado foram também 12 as produções que estrearam no período — os dados são da publicação “Listagem dos Filmes Brasileiros Lançados Comercialmente em Salas de Exibição 1995 a 2022”, disponível no Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA) da Agência Nacional do Cinema.

A presença de longas do Estado neste Cine Ceará é recorde na história do evento. Entre as últimas cinco edições, três contaram com o recorde anterior, de oito filmes no formato: 2019, 2021 e 2022. 

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As 12 produções de 2023 se dividem entre a mostra Olhar do Ceará (8), dedicada exclusivamente à produção cearense, exibições especiais (3) e a mostra Acessibilidade (1). Na Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem, a principal do festival, não há representantes do Estado neste ano. 

*Levantamento conta filmes em formato de longa-metragem nas mostras competitivas e não competitivas de cada edição, incluindo exibições especiais e mostras sociais

Longas cearenses do 33º Cine Ceará

Olhar do Ceará

  • “A luta de Nzinga”, de Eduardo Cunha Souza 
  • “Amilton Melo - ídolo de todos”, de Ciro Câmara e Vinicius Augusto Bozzo
  • “Nirez eterno”, de Aderbal Nogueira e Glauber Paiva.
  • “Os maluvidos”, de Josenildo Nascimento e Gislandia Barros
  • “Quando eu me encontrar”, de Amanda Pontes e Michelline Helena
  • “Represa”, de Diego Hoefel
  • “Todas as vidas de Telma”, de Adriana Botelho
  • “Um pedaço do mundo”, de Tarcísio Rocha Filho, Victor Costa Lopes e Wislan Esmeraldo

Exibições especiais

  • “Estranho Caminho”, de Guto Parente
  • “Mais pesado é o céu”, de Petrus Cariry
  • “Memórias da Chuva”, de Wolney Oliveira

Mostra Acessibilidade

  • “O filho único do meu pai”, de Dado Fernandes

Na visão de Wolney Oliveira, diretor do evento, o fato se deve pela busca por ineditismo na seleção. “Gramado, Cine Ceará, Festival de Brasília, Mostra de São Paulo, Festival do Rio lutam por filmes inéditos, o que não quer dizer que, vez ou outra, não coloquem alguns que não sejam. No caso do Cine Ceará, nos últimos seis ou sete anos a gente só exibe (na mostra competitiva de longas) inéditos, porque atrai a imprensa, atrai o público”, observa.

Nesta edição, além dos oito filmes na competição da Olhar do Ceará, o festival criou uma mostra de exibições especiais, na qual três longas cearenses que circularam com destaque por eventos do Brasil e do mundo serão apresentados: “Memórias da Chuva”, documentário de Wolney; “Estranho Caminho”, de Guto Parente, e “Mais Pesado é o Céu”, de Petrus Cariry. 

O crescimento e o fortalecimento da produção em longa-metragem no Cine Ceará é reflexo direto de movimentos gerais do audiovisual no Estado, como reflete Wolney. “Nós somos um estado que tem o tripé formação-produção-difusão bastante organizado. Tem os cursos básicos da Casa Amarela Eusélio Oliveira, a Vila das Artes, os cursos superiores da Unifor e da UFC, o Porto Iracema das Artes. Existe um conjunto na área do ensino muito forte. Na difusão, tem o Cine Ceará, que é um dos principais festivais de cinema do País”, contextualiza.

O diretor também destaca a pluralidade de formas de financiamento e de produção presente no recorte dos longas do festival. “É bom que se diga, muito foi impulsionado pela Lei Aldir Blanc. Meu filme, ‘Memórias da Chuva’, é resultado da lei, o do Guto Parente também, deve ter outros na Olhar do Ceará. Isso é um balizador para o futuro, porque nesse ano, com os editais da Lei Paulo Gustavo, terá uma quantidade imensa de longas produzidos com recursos da LPG do estado e da prefeitura de Fortaleza”, aponta.

“Fiquei também muito feliz quando vi ‘Os Maluvidos’ (em competição na mostra Olhar do Ceará), um filme totalmente produzido no Bom Jardim, com apoio logístico de empresas de lá, super competente, engraçadíssimo", segue Wolney. "Um dos homenageados deste ano, o Josafá Duarte, é um cineasta de Forquilha que já filmou mais de 40 obras com recursos próprios, em um modelo parecido. O Ceará hoje tem um canteiro de produção muito forte”, complementa.

Ressaltando a curadoria de longas da mostra Olhar do Ceará, Wolney reforça a “diversidade” como ponto central. “Tem filmes que já vem com uma consagração, como os do Diego Hoefel (‘Represa’) e da Michelline Helena e da Amanda Pontes (‘Quando eu me encontrar’), e tem um como ‘Os Maluvidos’. É muito legal ver um bairro com o Bom Jardim produzindo cinema. Imagina o que nós teríamos se tivéssemos a Ceará Filmes”, aponta o diretor, citando o Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual — projeto antigo do governo cuja concretização segue em aberto.

“Nós estamos num momento muito bom do financiamento da cultura. Passaram-se os quatro anos do inominável, que foram uma coisa absurda, e a gente sobreviveu culturalmente", opina o diretor. Por esse cenário, o diretor vê como prioritário o debate acerca do programa estadual.

"Estive recentemente em Brasília no dia em que a ministra (da Cultura) Margareth Menezes lançou a PNAB (Política Nacional Aldir Blanc). Nós teremos, do ano que vem até 2027, R$ 3 bilhões por ano, uma injeção extra de recursos, sem falar dos editais da Ancine que estão para ser lançados. É muito recurso, daí a importância de trazer de novo a conversa sobre a Ceará Filmes”, sustenta.

“A gente tem uma perspectiva futura muito boa no sentido de produções e o Ceará não pode ficar atrás, até porque ele é um exemplo para o país. A gente não pode ficar para trás com o projeto de uma indústria audiovisual cearense”, defende.

33º Cine Ceará

Quando: de 25 de novembro a 1º de dezembro
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500, Centro) e Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)
Entrada gratuita; para sessões no Cineteatro, até dois ingressos por pessoa serão disponibilizados na plataforma Sympla a partir de 12h do dia que antecede a sessão; para sessões no Cinema do Dragão, os ingressos serão disponibilizados na bilheteria a partir de 13 horas, uma hora antes do início de cada sessão
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