‘Os Maluvidos’, filme infantil feito no Bom Jardim, será exibido no 33º Cine Ceará

Filme é o segundo longa da Bom Jardim Produções

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
Filme fala sobre amizade e companheirismo. Na foto, os protagonistas Rafael Giuly, Lívia Meireles, Sarah Evellyn e Letícia Paiva
Legenda: Filme conta as aventuras de Malu e seus amigos
Foto: Divulgação

Ausência de recursos, um inverno de intensas chuvas, a maior crise sanitária global da história recente. Os realizadores audiovisuais Gislândia Barros e Josenildo Nascimento encararam todos os desafios possíveis para produzir seu filme mais recente, "Os Maluvidos", que durou quase quatro anos para ser finalizado. 

Movidos por um sonho em comum, pela experiência adquirida em outros trabalhos e pelo apoio e colaboração de toda uma comunidade, os dois resistiram – e assim nasceu oprimeiro longa-metragem infantil da Bom Jardim Produções, pensado e gravado no bairro de Fortaleza que dá nome à produtora.

O filme, que teve sua pré-estreia no Cineteatro São Luiz no ano passado, será exibido novamente durante o 33º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, na mostra competitiva “Olhar do Ceará”.

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O longa foi dirigido e produzido por Gislândia e Josenildo, que também assina o roteiro. Thiago Harrison e Wagner Ricardo, que foram alunos do casal na Escola de Audiovisual Itinerante nas Periferias, criada de forma complementar à produtora, são os responsáveis pelo som direto e pela assistência de direção do projeto, e completam a enxuta equipe técnica. 

Feito por e para o Bom Jardim

Josenildo conta que produzir uma história para o público infantil foi uma demanda das crianças do bairro, que acompanhavam a movimentação artística na região e também queriam participar de projetos cinematográficos. Além de motivo, os pequenos foram inspiração para um roteiro cheio de aventura, suspense, bom humor e representatividade.

“Eu queria que esse trabalho tivesse a cara da periferia. Eu quis manter, sem exageros, a forma de falar daqui, o jeito de ser e brincar das crianças”, conta o cineasta. Mostrar um outro lado da periferia, nem sempre divulgado, também era uma missão do casal. 

“Quando a galera trabalha em um produto que se diz periférico, muitas vezes eles mostram um ambiente que você não quer estar ali. Eu quis mostrar um outro ponto de vista, que é um lugar legal, que as crianças brincam e têm um potencial criativo”, completa. 

O diretor ressalta o caráter colaborativo do filme, que contou com voluntários em todas as áreas, já que não havia recursos financeiros para além dos lanches oferecidos para os pequenos. Mesmo sem pagamento, todos se empenharam, por trás e na frente das câmeras. 

Só na atuação, “Os Maluvidos” conta com 30 crianças e 11 adultos, entre atores principais e figurantes. E muitos foram os pais e familiares que cederam casas e objetos para compor as locações, além de instituições parceiras, como escolas e um supermercado, que permitiram a gravação de cenas importantes para a história.

Desafios e possibilidades do cinema independente

Gravações foram feitas em casas de moradores e espaços conhecidos do bairro, como escolas
Legenda: Gravações foram feitas em casas de moradores e espaços conhecidos do bairro, como escolas
Foto: Divulgação

Imagine cuidar de 30 crianças, de diferentes idades, empolgadas e cheias de energia. Agora imagine fazer isso enquanto executa uma série de funções em um set de filmagem, da direção à maquiagem. 

Assim foi a jornada intensa de gravações de “Os Maluvidos”, interrompida pelo mau tempo e com duração de quase um ano, entre férias escolares, fins de semana e tardes de folga. Gislândia conta que, por conta dessa logística, o filme foi o que mais deu trabalho à pequena equipe da Bom Jardim Produções – mas também foi um dos que mais trouxe realizações a todos ali presentes.

“Esse filme é algo que eu queria ter realizado quando criança, quando queria ser artista, atriz. Então, em cada criança dessas, eu me via. Eu estava ali realizando o meu sonho infantil”, afirma a diretora. “Deu muito trabalho, gravar com com criança não é fácil. Mas as gravações foram muito boas, porque a gente queria muito que acontecesse e eles também”.

Quando Malu (Letícia Paiva) vê uma amiga sendo levada pelo vizinho, suspeito de ser o Bicho-papão, Chupa-cabra ou o Papa-figo, reúne a turma para resgatá-la
Legenda: Quando Malu (Letícia Paiva) vê uma amiga sendo levada pelo vizinho, suspeito de ser o Bicho-papão, Chupa-cabra ou o Papa-figo, reúne a turma para resgatá-la
Foto: Divulgação

Mesmo antes de investir no cinema infantil, a dupla criativa à frente de “Os Maluvidos” já sabia o que era passar perrengue no set. As dificuldades de acumular funções, não obter os recursos necessários e ter uma logística complexa já são velhas conhecidas de quem faz cinema de maneira independente, apostando no sonho com o que é possível.

Para se ter uma ideia, o casal levou sete anos para comprar uma câmera “melhorzinha que a Cybershot” que filmou uma série de curtas e médias entre 2008 e 2015, conta Josenildo. Na época, o casal gravou seu primeiro longa, “Botija”, com uma DSLR de entrada.

Apesar dos desafios, que são muitos, Gislândia segue vendo os projetos do grupo como uma forma de realizar sonhos – dela e, agora, das crianças. “Quando a gente fez a seleção das meninas, as mães disseram que elas choraram, que [passar no teste] era o que elas mais queriam. Esse é um despertar para novas possibilidades”.

Sinopse do filme

O bairro do Bom Jardim é pequeno demais para as travessuras de Malu e seus amigos. E quando Malu vê sua amiga Anastácia sendo levada pelo vizinho Edgar, suspeito de ser o Bicho-papão, Chupa-cabra ou o Papa-figo, ela reúne a turma e juntos bolam um plano para resgatá-la. 

Para acompanhar as informações sobre a exibição, siga: @bomjardimproducoes.

Outros filmes da produtora podem ser encontrados no site oficial da equipe.

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