Tem cearense 'de ruma’ em ‘Guerreiros do Sol’: veja artistas do Ceará que compõem elenco da novela

Nova produção da Globoplay traz forte representação cearense no elenco, que é majoritariamente nordestino

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 16:02)
Com maioria do elenco formada por nordestinos, 'Guerreiros do Sol' conta com forte participação de artistas cearenses
Legenda: Com maioria do elenco formada por nordestinos, "Guerreiros do Sol" conta com forte participação de artistas cearenses
Foto: Fotos: Estevam Avellar / Divulgação, Reprodução / Globoplay e acervos pessoais; montagem: Louise Dutra

Em uma obra que se passa no Nordeste e que conta uma história ligada a aspectos marcantes como o cangaço, não poderia ser diferente: “Guerreiros do Sol”, nova novela original da Globoplay, tem a maioria do elenco formada por artistas nascidos nos nove estados da região.

Na trama escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção de Rogério Gomes e protagonizada pelo casal Rosa (a paraibana Isadora Cruz) e Josué (o pernambucano Thomás Aquino), a representação cearense é forte, indo do núcleo de cangaceiros ao da polícia que os persegue.

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A escolha por apostar majoritariamente em intérpretes nordestinos e a presença de peso de artistas cearenses são festejadas pelo elenco como sinais de uma “nova mentalidade”, um “tempo de mudança” e a “prova de que o Brasil é um país diverso”, como partilham alguns deles ao Verso.

Para celebrar junto essa presença, confira parte das jornadas artísticas e das personagens de oito nomes da arte cearense que estão no elenco da novela.

Claudio Jaborandy

Apesar de nascido em Recife (PE), o ator Claudio Jaborandy tem raízes fortes com o Ceará e se considera daqui: ele se mudou ainda cedo para o Estado, aqui foi criado e também aqui enveredou pela atuação, tendo se formado em Arte Dramática pela Universidade Federal do Ceará. 

Com longa carreira em teatro, cinema e televisão, o ator interpreta Seu Neném em “Guerreiros do Sol”, pai da protagonista Rosa (Isadora Cruz) e de Odília (Alice Carvalho), que descreve como um “homem dedicado ao trabalho e à família”.

“Tem a preocupação de que suas filhas ‘façam um bom casamento’ em uma vida difícil no sertão, onde a sobrevivência é premente. Um ‘cabra’ que precisa ser bravo pra seguir lutando até morrer ou enlouquecer”, segue.

Com obras no repertório como “Amores Roubados” e “O Rebu”, de George Moura, e “Morde e Assopra”, com direção de Rogério Gomes”, Claudio foi convidado para compor o elenco e celebra a participação nordestina em peso.

“Nada mais apropriado que o elenco ligado à região esteja em presença majoritária para contar com talento e verdade esta história que é nossa, é o nosso radical”, afirma.

Daniel Dias da Silva

Também formado no Curso de Arte Dramática pela UFC, além de ter estudado Dramaturgia no Instituto Dragão do Mar, o ator fortalezense Daniel Dias da Silva é radicado no Rio de Janeiro e já fez diversas participações em novelas e séries, como "Êta Mundo Bom" (2016), "Cara e Coragem" (2022-2023) e "Desalma" (2020-2022), por exemplo.

A partir das experiências anteriores, Daniel recebeu convite da produtora de elenco Marcia Andrade para viver Jader Barbosa em “Guerreiros do Sol”, “um enviado do Governo de Pernambuco que chega à cidade de Santa Cruz com a missão de criar um comando de combate ao cangaço”, descreve.

Daniel Dias da Silva tem carreira no cinema, em longas como 'Eu Não Conhecia Tururu', 'As Mães de Chico Xavier' e 'Bate Coração', e no teatro, como no espetáculo 'Sala Branca' (na foto)
Legenda: Daniel Dias da Silva tem carreira no cinema, em longas como “Eu Não Conhecia Tururu”, “As Mães de Chico Xavier” e "Bate Coração", e no teatro, como no espetáculo "Sala Branca" (na foto)
Foto: Wesley Sabino / Divulgação

Inicialmente exercendo papel de fornecedor, em especial de armas e dinheiro para o combate ao banditismo, o homem acabará aproveitando a oportunidade para alçar voos políticos.

Daniel celebra a felicidade de “encontrar no set desde antigos companheiros cearenses, como Cláudio Jaborandy e Thiago Valente (assistente de direção) até talentos de uma geração posterior”. 

“Todos brilhando e colhendo os frutos do que vem sendo plantado no audiovisual há décadas”, aponta o cearense, que alarga a celebração para a totalidade da região: “Sinto muito orgulho de ver tantos ‘nordestes’ ali representados, pois há uma diversidade de histórias, de sotaques, de culturas na nossa região”.

A ampliação do olhar celebrativa vai, também, para outras instâncias além da atuação e chega à conexão que essas presenças causam com o público.

“Dar protagonismo (não apenas ao elenco nordestino, mas desde os roteiristas, passando por parte da equipe criativa em uma sintonia perfeita), transmite uma credibilidade maior, imprime mais verdade e permite uma identificação mais genuína para quem assiste, longe de estereótipos, das caricaturas. E o resultado pode se ver no ar: uma produção de qualidade inquestionável”
Daniel Dias da Silva
ator

Fátima Macedo

Nascida em Fortaleza, Fátima Macedo vem tendo um ano especial em 2025, tanto pela presença em “Guerreiros do Sol” quanto pela repercussão do premiado longa “Manas”. Na novela, a atriz interpreta Fátima, descrita por ela como uma “mulher simples e muito religiosa”.

A primeira vez que ouviu sobre a obra da Globoplay foi em 2022, durante conversa com a atriz Dira Paes justamente nas gravações de “Manas”. Um ano depois, surgiu a oportunidade da seleção, na qual participou lendo um texto próprio.

“Inicialmente ia fazer uma personagem, mas houve necessidade de uma troca e fui escalada para dar vida a Fátima, personagem de mesmo nome que o meu, mas certamente muito diferente de mim!”, ressalta.

Fátima Macedo atuou também nos filmes cearenses 'Pajeú', de Pedro Diógenes, e 'A praia do fim do mundo', Petrus Cariry, além de estar no elenco da futura minissérie 'Pssica', da Netflix
Legenda: Fátima Macedo atuou também nos filmes cearenses "Pajeú", de Pedro Diógenes, e “A praia do fim do mundo”, Petrus Cariry, além de estar no elenco da futura minissérie “Pssica”, da Netflix
Foto: Jamille Queiroz / Divulgação

Submissa ao marido, um homem mais velho que trabalha em uma volante — tropa especializada em perseguir grupos de cangaceiros —, ela tem um papel que, como antecipa a atriz, “irá mudar o curso da trama”.

Sem revelações de enredo, Fátima testemunha uma cena que a coloca em um lugar de pressão em meio aos conflitos entre polícia e cangaceiros. “Uma personagem que acaba mudando a própria vida despropositadamente, e que para sempre será marcada e lembrará disso”, instiga a cearense.

A cearense celebra a presença nordestina de “Guerreiros do Sol”: “Essa escolha diz respeito a uma nova mentalidade e traz um sentimento de reconhecimento à nossa história e aos nossos talentos”.

“É muito bonito ver nossas conquistas acontecerem, fruto de suor e temperança, e conseguirmos gradualmente “furar a bolha” para estrelar produções nacionais de grande alcance. Isso dilata cada vez mais o olhar desses grandes produtores a enxergar artistas fora do eixo Rio-São Paulo, e oportuniza que novos rostos, corpos e discursos possam ocupar trabalhos importantes no audiovisual brasileiro”
Fátima Macedo
atriz

Georgina Castro

Com mais de 20 anos de carreira, Georgina Castro tem trajetória no audiovisual desde os anos 2000, tendo estreado no cinema em "O Céu de Suely", de Karim Aïnouz. 

A oportunidade de "Guerreiros do Sol" veio após compor o elenco da novela das nove "Um Lugar ao Sol", exibida em 2022, quando um dos produtores de elenco — Matheus Lelis — a chamou para um teste. 

"Disse que seria uma participação de alguns capítulos, mas era uma personagem que precisaria de muita densidade, pois enfrentaria uma grande tragédia", lembra Georgina.

Registro dos bastidores de 'Guerreiros do Sol' com os cearenses João Fontenele, Fátima Macedo e Georgina Castro
Legenda: Registro dos bastidores de "Guerreiros do Sol" com os cearenses João Fontenele, Fátima Macedo e Georgina Castro
Foto: Acervo pessoal

O papel é o de Anaíde, prima dos irmãos Alencar — Josué (Thomás Aquino), Arduíno (Irandhir Santos), Milagre (Ítalo Martins), Sabiá (Vitor Sampaio) e Bida (Rodrigo Lelis). "Ela se torna uma das grandes vítimas da guerra entre cangaço-polícia e se vê dentro de uma trama de retaliações", adianta.

Sendo uma atriz cearense que morou por anos na região Sudeste, Georgina define a presença de artistas cearenses e do Nordeste na novela como "importantíssima"

"Durante muito tempo e nos dias de hoje ainda acontece, contam as nossas histórias, se apropriam da nossa terra, copiam nossos sotaques, muitas vezes estereotipam a nossa gente, mas não dão relevância aos atores nordestinos nas produções", atesta.

Além de celebrar o elenco de maioria nordestina e os artistas cearenses em cena, ela lembra da presença do dramaturgo cearense Marcos Barbosa na equipe de roteiristas. 

"Isso tudo é incrível e fico bem emocionada... O Ceará, assim como todo nosso Nordeste, é celeiro de grandes talentos. Deixem a gente ter voz e vez para 'também' contar nossas próprias histórias", demanda.

João Fontenele

Natural de Acaraú, cidade do interior do Ceará localizada há mais de 230 km de Fortaleza, João Fontenele é outro nome cearense na novela. “Meu personagem é o Arigó, um policial corrupto que participa de atrocidades junto com o delegado Laureano (Renato Livera) e, depois, com Arduíno (Irandhir Santos), que é o grande vilão da novela”, partilha o ator.

Com mais de 10 anos de carreira nas artes cênicas, o cearense participou de obras na TV como a minissérie “Onde Nascem os Fortes” e o filme especial de Natal da TV Verdes Mares “Baião de Dois”, ambos em 2018. 

João fez o teste para a novela da Globoplay a partir do contato entre a então agente Laís Duarte e a produtora de elenco Marcia Andrade. “Elas já acompanhavam meu trabalho há algum tempo e acreditavam que o projeto tinha a ver comigo”, contextualiza.

“Acho importantíssimo para potencializar nossos artistas. Enche meu coração de entusiasmo ver colegas cearenses em cena, em uma grande produção como esta”, celebra o artista.

“Estamos vivendo um tempo de mudança, descentralizando as oportunidades, e estamos fazendo isso com muita competência e qualidade. É lindo nos ver representados nas telas, ver atrizes e atores com nosso sotaque, com nossa textura”
João Fontenele
ator

A busca por valorizar os sotaques e texturas do Ceará guia também o trabalho de João como realizador. Filmes como “Raposa” e “Peixe Morto”, por exemplo, foram realizados na terra natal do artista como forma de valorizar profissionais e paisagens de Acaraú.

Larissa Goes

A fortalezense Larissa Goes estava planejando o retorno para Fortaleza, após passar um período no Rio de Janeiro promovendo a 3ª temporada da série “Cine Holliúdy”, quando “Guerreiros do Sol” chegou “de supetão”: a produção precisou fazer uma substituição repentina no elenco por conta da gravidez de uma atriz.

“Está preparada pra começar a gravar depois de amanhã?”, perguntou a produtora de elenco Marcia Andrade, e Larissa agarrou a chance de viver Petúnia na novela. “Era uma proposta irrecusável, mas estava ciente de que seria uma grande missão assumir uma personagem do núcleo principal, com uma narrativa tão densa em pouquíssimo tempo”, reconhece.

Após Larissa virar a noite para ler o roteiro, buscar pesquisar sobre cangaço e compor a personagem com a preparadora de elenco Andréa Cavalcanti, Petúnia se construiu como “uma jovem que vê sua vida se transformar ao se apaixonar por Sabiá, cangaceiro irmão de Josué”. 

Cearense Larissa Goes já participou de obras como a novela 'Velho Chico' e a série 'Cine Holliúdy'
Legenda: Cearense Larissa Goes já participou de obras como a novela "Velho Chico" e a série "Cine Holliúdy"
Foto: Julia Trevisan / Divulgação

“Ela se deixa guiar por este amor e se vê de repente em uma circunstância que está completamente fora da narrativa que tinha construído pra sua vida”, avança. Sobrinha de um policial, a jovem se desvia do esperado e “ganha um arco dramático no qual sua história e seu comportamento ganham novas complexidades”.

Com 20 anos de carreira, Larissa já participou na TV Globo da novela "Velho Chico" e da série "Cine Holliúdy", além das séries “Meninas de Benfica” e “O cangaceiro do futuro”. Entre projetos vindouros, há a próxima temporada de "Os Outros", a animação “Glória & Liberdade” e a série “Alucinação”, sobre Belchior, onde vive a cantora Téti.

“Dramaturgias ambientadas no Nordeste são há muito tempo criadas, veiculadas através da literatura, do teatro, do audiovisual e costumam ter grande repercussão. O que se questiona nestas obras é a legitimidade de quem conta a estória, do quanto se tem de Nordeste de fato na base do projeto. Quando isso é levado em conta, a obra ganha uma outra dimensão”, defende.

“Digo com orgulho que o Ceará tem tanta riqueza de cultura e de gente que certamente há ainda muito a ser mostrado”, reforça Larissa. A atriz celebra a presença de artistas nordestinos, mas partilha um intuito profissional que vá além:

“A partir desta ideia, deste espaço de conquista, ainda que inicial, quero também ocupar novas posições, traçar perfis de personagens que saem do eixo nordestino”, antevê.

Lucas Galvino

Após destaque como Mirinho na novela “Mar do Sertão”, exibida entre 2022 e 2023 na TV Globo, o fortalezense Lucas Galvino chega à “Guerreiros do Sol” interpretando o jornalista Geneton.

O personagem é uma homenagem ao jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto (1956-2016). A oportunidade chegou a partir da produtora de elenco Marcia Andrade, a quem celebra pela “sensibilidade pra entender da importância de ter artistas nordestinos contando essa história”.

“O nosso Geneton, que também vem do Recife, é um menino recém formado, mas já com uma experiência considerável por escrever desde muito novo no jornal”, contextualiza Lucas.

O cearense Lucas Galvino nos bastidores de 'Guerreiros do Sol'
Legenda: O cearense Lucas Galvino nos bastidores de "Guerreiros do Sol"
Foto: Deivedy Oaques / Divulgação

O profissional é o primeiro que consegue acessar o bando de Josué e acaba tornando-o uma figura conhecida de todo o sertão. “Isso faz com que ele crie alguns desafetos pela região, mas também ganha respeito e acolhimento dos cangaceiros”, avança.

O envolvimento do jornalista vai se desenvolvendo para além do informar e ele passa a ser alguém ligado aos conflitos entre a volante e o grupo liderado por Josué. “Geneton é uma flecha criativa que no meio de uma guerra usa seu lápis e suas ideias para tentar reverter as injustiças daquela realidade”, define.

O cearense, que ao longo da carreira de mais de 10 anos também participou de filmes como o curta “Vando Vulgo Vedita” (2017) e “Greice” (2024), festeja a presença nordestina na obra por conta da identificação possível.

“A diversidade constitui nosso país, as pessoas gostam de se assistir e se identificar. Um nordestino se reconhece pela melodia da voz, e quando se faz obras assim, como Guerreiros do Sol, o que se propõe é chegar o mais perto possível de quem tá assistindo. E desde os primeiros capítulos lançados já conseguimos ver essa identificação em quem assiste”
Lucas Galvino
ator

Mateus Honori

Ator profissional há 10 anos, o fortalezense Mateus Honori interpreta em “Guerreiros do Sol” o personagem Lucínio, amigo do protagonista Josué e que tem papeis centrais no conflito entre polícia e cangaço na trama. 

A entrada do personagem está prevista para o capítulo 27 da trama. “Ele é coiteiro do bando e começa a atuar como informante, levando e trazendo informações valiosas sobre a volante, os coronéis e os cangaceiros”, explica. 

No desenvolvimento desse ir e vir de informações, Lucínio tanto se torna grande aliado de Rosa (Isadora Cruz), Otília (Alice Carvalho) e Petúnia (Larissa Goes) quanto “vai colhendo as consequências dessa atividade”.

Mateus se juntou ao elenco após ser convidado pelo produtor de elenco Matheus Lelis para fazer um teste para assumir o personagem. “Aceitei de cara, primeiro porque eu amo a linguagem e a estética do cangaço, e pelo fato de eu, como artista cearense, fazer parte dessa história nordestina e tão representativa do nosso passado”, relembra.

Ele ressalta que, entre vários estados com vários sotaques “uma história genuinamente nordestina”, a presença cearense é destaque. “O Brasil é um país diverso e ninguém melhor do que nós mesmos para contarmos a nossa história”, sustenta. 

“É muito bonito ver que a televisão, o cinema e o entretenimento como um todo vem aos poucos, apesar de tanta luta, reconhecendo que o talento, o trabalho e a beleza nordestinas não se acham no Rio de Janeiro e em São Paulo”, atesta Mateus.

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