Em terra de nordestino, quem for sudestino é rei
Esse modelo de mercado já deveria ter se esgotado

Ainda hoje é muito comum vermos em produções que se propõem retratar Nordeste os personagens protagonistas representados por artistas não nordestinos. Isso não acontece apenas no mercado audiovisual ou artístico de forma geral. A publicidade também tem esse péssimo costume.
Algumas produções justificam que precisam de nomes famosos, conhecidos do grande público e que, infelizmente, não existem “big stars” na região. Convenhamos, esse argumento serve muito mais para os próprios produtores se alimentarem de uma resposta que livrem deles o peso do preconceito e, de quebra, nos façam acreditar que essa é a realidade.
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O fato é que esses grandes nomes de sucesso não são proporcionais dentro do mercado justamente porque ao longo de muitos anos pouquíssimas vezes foi dada aos talentos nordestinos a oportunidade de assumirem papéis de destaque, nem mesmo em narrativas da nossa própria região.
É claro que há exceções e talentos reconhecidos nacionalmente, mas para se chegar a esse local de reconhecimento dentro desse mercado, não basta ser talentoso. Contamos muito com a sorte e nossa própria coragem e sangue para driblar os processos e conseguir espaço.
Discutir com produções sudestinas que chegam ao Nordeste com um elenco repleto de artistas do eixo Rio-São Paulo como protagonistas e escolhendo artistas nordestinos para interpretar personagens m secundários, usando o discurso de que “estamos contratando o maior número de artistas locais” e onde os salários dessas regiões são bem discrepantes, é uma luta a se levar fortemente adiante e por longo tempo.
Tão complexo quanto isso é ver produções locais, produtoras e empresas do Nordeste, que preferem trazer artistas cariocas e paulistas para palestras, inaugurações, festivais etc e oferecem aos de fora toda a contratação adequada, ao mesmo tempo em que os artistas locais recebem ingresso e lanche, basicamente pagando para trabalhar.
Se hoje em dia, estamos buscando mais representatividade e proporcionalidade nas ações e projetos desenvolvidos, principalmente, pelo mercado de produção nordestina, então que tenhamos mais da nossa cara, dos nossos artistas estampando essas campanhas.
Não existe problema nenhum na presença de artistas famosos e sudestinos em eventos, pelo contrário. Contudo, artistas nordestinos não deveriam ter que competir por mais espaço em sua própria terra pelas mesmas condições de trabalho. Estamos em 2025, esse modelo de mercado é mais do que cafona.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor