Meio suspense, meio drama, 'Desalma' estreia na Globoplay e promete uma trama de mistérios

Criadores da série e as atrizes Cássia Kiss, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro falaram sobre os bastidores e os apelos da nova série nesta segunda (19), em entrevista coletiva. Estreia acontece próxima quinta (22)

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Maria Ribeiro (em primeiro plano, à direita) foi uma das atrizes do elenco que apresentou a série em entrevista coletiva
Foto: Globo

A atração pelo "mistério" da vida costuma fisgar o ser humano de formas diferentes. Há os que se envolvem em uma jornada religiosa, outros chamam de "caminho espiritual". Já os mais céticos na dimensão imponderável da existência buscam alimentar esse lado pela ficção mesmo. Também existe quem "beba" da fonte disso tudo e mais um pouco, nem que seja para reclamar da finitude. O que alcança o senso comum, nesse sentido, é como as narrativas misteriosas têm um apelo fascinante. A nova série da Globoplay, "Desalma", criada por Ana Paula Maia e dirigida por Carlos Manga Jr, traz mais um versão ficcional desse universo. 

A primeira temporada da série estreia na próxima quinta (22). Nesta segunda (19), as atrizes Cássia Kiss, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro, ao lado de Ana Paula e Manga Jr, falaram em entrevista coletiva sobre o lançamento. "O título já causa uma estranheza. Não convivia com essa palavra ("desalma"). É escancaradamente um drama. A gente fala de uma ficcção, mas é uma história milenar. Os 10 episódios são uma construção de onde vai chegar esse drama, de uma transmigração da alma", reflete Cássia. A atriz veterana interpreta a feiticeira Haia Lachovicz na trama. 

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"Desalma" se passa em Brígida, uma cidade fictícia onde a população está chocada com o desaparecimento da jovem Halyna (Anna Melo). Na noite de uma tradicional festa pagã, ela some em meio à floresta. Seu corpo aparece dias depois no rio que corta a grande mata da cidade. A tragédia deixa marcas que atravessam o tempo, provocam dores e perdas irreparáveis. 

A autora Ana Paula Maia observa como a série é uma drama "suspense" muito sutil. O desenvolvimento das cenas não trabalha com a provocação de sustos no telespectador, ou outro recurso similar.

"A série é marcada por muitos silêncios, várias respostas vêm no olhar. O suspense é muito construído em cima do silêncio. Acredito que isso faz parte da construção da obra, a pausa é também uma nota musical. Pra que você (a audiência) construa a própria melodia da trama", identifica.

Para o diretor Carlos Manga Jr, a obra tem várias camadas e se situa como um "subgênero" do terror. Ele vislumbra que, mais do que sentir medo, o telespectador pode ser provocado por uma sensação de angústia. "A gente quer gerar uma atmosfera angustiante. O medo é uma ambiência. É uma obra que não é maniqueísta, ela ocupa o lugar das nossas angústias, de coisas que a gente desconhece", percebe.

No papel de Ignes, Cláudia Abreu, que neste mês completou 50 anos de idade, frisou que sua personagem tem, indiretamente, um papel de inclusão na trama. "Ela é uma panela de pressão, a vida dela depende de seu filho. Ela passou por um grande trauma familiar e nunca mais se recuperou. É bastante desequilibrada psiquicamente, represa muita dor. E eu acho importante, falar na TV, sobre pessoas que têm um desequilíbrio na alma e são desacreditadas", disse Cláudia. 

Reunião

A reunião do elenco e de toda a equipe de produção da série se deu por caminhos diferentes. Cláudia Abreu situa que as pessoas envolvidas no trabalho já eram um motivo de atração pelo processo. "Terminei a última novela e queria fazer, como próximo trabalho, uma série. Ela tem uma sofisticação na imagem, nessa comunidade fechada: Brígida é um grande confinamento (risos). Prende muito essa atmosfera, completamente diferente das produções da Globo", percebe a atriz. 

Legenda: A veterana Cássia Kiss é um dos destaques do elenco
Foto: Globo

No último dia 25 de fevereiro, antes do início da pandemia do coronavírus no Brasil, o primeiro episódio da série foi exibido na programação do Festival Internacional de Cinema de Berlim (Alemanha). Segundo Maria Ribeiro (a 
Giovana Skavronski, da trama), "normalmente os festivais consomem uma brasilidade mais óbvia, do Nordeste, da pobreza, de violência. E a série não tem um 'selo Brasil' mais óbvio. E eu fiquei com mais respeito aqui em casa, porque novela não dá moral com meus filhos. Com a série, eles vão me respeitar", brincou a atriz.

Inspiração

Ana Paula Maia recapitulou que, desde a infância, com 5, 6 anos de idade, passou a assistir filmes de terror. Até hoje, ela consome tudo relacionado ao gênero, lê Edgar Allan Poe, literatura contemporânea argentina, dentre outras referências que estimularam a criação do roteiro da série. Fã da série Arquivo X (1993-2002), transmitida pela Fox, ela conta que assistir essa produção despertou-lhe a vontade de escrever para a televisão. 

"Nem sonhava em ser escritora, era só uma vontade. A literatura me deu uma base para ser roteirista. E trago esse fôlego de gostar do gênero de horror. 'Desalma' é de tudo um pouco que assisti na vida. Quando comecei a pesquisar, vi que a Ucrânia é o berço do paganismo, da bruxaria. Daí encontrei o que eu queria para contar essa história", sintetiza a autora. 

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