Auto de Natal nordestino dirigido por cearense entra na Globoplay
Tradicional Baile do Menino Deus, realizado anualmente em Recife, terá versão audiovisual disponibilizada no streaming a partir do dia 27.
Há mais de 20 anos, um Natal que mistura tradição popular e expressões culturais contemporâneas do Nordeste vem encantando e inspirando milhares de pessoas no Marco Zero de Recife.
Com direção do cearense Ronaldo Correia de Brito — nascido no município de Saboeiro, mas radicado em Pernambuco —, o tradicional “Baile do Menino Deus” terá versão especial disponibilizada na Globoplay a partir deste sábado (27).
Em entrevista ao Verso, Ronaldo — que é também um dos autores do auto natalino escrito em 1983 — fala da importância do registro audiovisual para divulgar a produção e destaca as novidades do espetáculo natalino ocorridas nas apresentações deste ano.
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Múltiplos formatos
Em 2025, o “Baile do Menino Deus” foi encenado do dia 23 ao dia 25. Anualmente, ele é assistido presencialmente por mais de 70 mil pessoas, mas já explora diferentes formatos.
A história, por exemplo, nasceu do encontro entre Ronaldo, o parceiro artístico Assis Lima e o compositor Zoca Madureira primeiro como texto e composições musicais. Um disco foi gravado e o espetáculo estreou em 1983.
Com o tempo, passou a ocupar o Marco Zero, virou paradidático do Ministério da Educação, e, antes mesmo da disponibilização atual na Globoplay, já inspirou dois filmes gravados durante a pandemia.
“Vivemos o tempo da comunicação audiovisual. Além de termos site, Instagram, Facebook, YouTube, realizamos filmes e transmissões por TV, streams”, explica Ronaldo. “Isso ajuda a mostrar às pessoas que não chegam ao Recife para assistir ao espetáculo e a divulgá-lo”, ressalta.
Valorização do Nordeste e da mistura
O grande alcance da ópera popular é, também, o de uma série de importantes mensagens natalinas. Isso porque o “Baile” foi criado para valorizar as tradições da época que são tipicamente brasileiras e nordestinas, em forma de resistência às comuns influências dos EUA e da Europa.
O espetáculo tem, como define o diretor e autor, um “pé no popular e outro na tradição”, no sentido de unir expressões contemporâneas da cultura — como danças urbanas e músicas modernas — com as brincadeiras natalinas tradicionais.
“Não apenas nesta edição, mas sempre houve uma tendência de incorporar ao espetáculo a cena contemporânea brasileira e mundial”, reconhece Ronaldo.
A trama mostra a busca de brincantes, os Mateus, pela casa onde nasceu o Menino Deus para realizar uma festa com Maria e José pela chegada dele. Um dos exemplos da “incorporação” citada pelo diretor é uma cena em que o Sol, a Lua e a estrela louvam o Menino.
“A música é antiga, tornou-se erudita pelo tempo. Para dançar o Sol convidamos um dançarino de popping (dança popularizada pelo cantor Michael Jackson que aposta em movimentos livres e ‘robóticos’). Duas bailarinas de formação clássica dançam Lua e Estrela. Um dos músicos, o saxofonista Spok, tem uma orquestra de frevo tipo jazz band. As músicas antigas ganharam arranjos modernos”
Neste ano, a apresentação contou com algumas novidades. “Sempre convidamos cantoras e cantores em evidência, como Joyce Alane, uma estrela pop e regional, que acaba de concorrer ao Grammy Latino”, ilustraRonaldo.
“Estamos lançando cantores novos, bailarinos em ascensão de carreira, um grupo periférico de hip hop e breakdance, e investimos em nossa banda que é excelente”, segue o diretor, que finaliza: “Esse diálogo entre o tradicional e o contemporâneo é uma das marcas do Baile do Menino Deus”.