Filmes do Ceará integram debate sobre internacionalização do audiovisual na CineBH
19ª–Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte será realizada na capital mineira entre 23 e 28 de setembro
Um lugar de mercado, internacionalização e vitrine para o cinema brasileiro contemporâneo. É a partir desta vocação que a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte chega neste ano à 19ª edição, que ocorre gratuitamente de 23 a 28 de setembro.
Neste contexto, o cenário de repercussão internacional de obras como o filme cearense “Morte e Vida Madalena”, de Guto Parente, será elaborado no Seminário Internacional da CineBH, que busca refletir sobre os desafios e conquistas da produção nacional em ligação com cenários globais.
O mais recente filme do diretor, inclusive, será exibido na programação da mostra na homenagem ao ator mineiro Carlos Francisco — que virou figura marcante do cinema contemporâneo ao protagonizar obras como “Marte Um” (2022), de Gabriel Martins, e “Estranho Caminho" (2023), de Parente.
O artista homenageado ainda compõe o elenco de obras do pernambucano Kleber Mendonça Filho, incluindo “O Agente Secreto”, que foi escolhido como representante do Brasil na disputa do Oscar 2026 e será exibido na capital mineira na abertura da mostra, nesta terça (23).
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Mostras complementares
A CineBH, como explica a coordenadora geral do evento Raquel Hallak, compõe o programa internacional de audiovisual Cinema Sem Fronteiras, promovido pela Universo Produção, ao lado da Mostra de Tiradentes e da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto.
“Cada uma tem uma identidade própria, complementares dentro do programa que desenvolvemos ao longo de quase três décadas”, aponta a também diretora da Universo Produção.
Conforme Raquel, Tiradentes se debruça na produção autoral e de jovens realizadores. Já em Ouro Preto, o eixo principal é a preservação audiovisual. Finalmente, a CineBH foca “no mercado e na formação de redes e parcerias entre o cinema brasileiro e a cena global”.
“Em Belo Horizonte, nosso olhar está voltado para a América Latina, o diálogo entre produção e mercado audiovisual, oferecendo uma programação que estimula o intercâmbio e a internacionalização da nossa cinematografia”
Novos públicos e contextos de exibição
Os três eventos, inclusive, têm o que Raquel define como uma “curadoria integrada”: os filmes de Guto, por exemplo, já participaram de edições anteriores da Mostra de Tiradentes. “Estranho Caminho” ganhou o prêmio da crítica em 2024 e “Morte e Vida Madalena” foi premiado ainda como projeto em desenvolvimento em 2025.
Conforme a diretora, isso permite “acompanhar as trajetórias dos filmes brasileiros e criar conexões entre os diferentes contextos de exibição”. Os citados longas cearenses, por exemplo, são apresentados em nova perspectiva: “Desta vez, no contexto da homenagem ao ator Carlos Francisco e dentro do panorama de internacionalização, de circulação e de diálogo com o mercado”.
“É uma forma de potencializar a visibilidade dos filmes, reafirmar sua relevância artística e comercial e fortalecer o circuito de festivais. Além disso, essa circulação entre os eventos promove uma escuta mais ampla das obras, com públicos distintos e em contextos diferentes, contribuindo para o amadurecimento do cinema brasileiro contemporâneo”
Além dos dois longas de Guto, o curta “Doce de Coco” (2010), do cearense Allan Deberton, compõe a mostra Cine-Expressão, voltada ao público infantil. Com um pé no Ceará, há ainda “As Muitas Mortes de Antônio Parreiras”, do diretor radicado no Cariri Lucas Parente.
Brasil situado internacionalmente
A vocação central da CineBH é reforçada neste ano a partir do que Raquel Hallak compreende como um “momento de retomada no cenário internacional” vivido pelo cinema brasileiro.
Ao longo de 2025, produções nacionais chegaram de maneira inédita à vitória no Oscar, caso “Ainda Estou Aqui”; foram premiadas nos festivais de Berlim e Cannes, com “O Último Azul” e “O Agente Secreto”; e também circularam por outros eventos internacionais, caso de obras cearenses.
Tais reconhecimentos, defende Raquel, evidenciam “o potencial criativo e artístico das nossas produções”, mas há grandes desafios para fortalecer essas presenças no âmbito mundial.
A diretora cita, entre eles, a construção de políticas públicas para fomentar a internacionalização do cinema brasileiro, a formação de redes e parcerias o e o enfrentamento às desigualdades estruturais que limitam o acesso de cineastas a este circuito.
Parte dessas questões será discutida no Seminário Internacional deste ano da CineBH, cujo tema é “Audiovisual em Conexão: Regulação, Coprodução e os Desafios do Mercado”.
Ao longo de quatro dias e contando com profissionais, pesquisadores, gestores e outros agentes do audiovisual, o encontro promoverá painéis, debates e rodas de conversa sobre temas como film commissions, regulação de plataformas digitais e coproduções internacionais.
A busca, defende a diretora, é por “não apenas diagnosticar os desafios, mas sobretudo construir caminhos possíveis para o fortalecimento de um ecossistema audiovisual plural, inclusivo, soberano e conectado globalmente”.
“(O seminário) propõe uma análise crítica e transversal dos desafios enfrentados pelo audiovisual brasileiro e internacional frente a um cenário em constante transformação tecnológica, política e econômica”, sustenta Raquel.
*O repórter viajou para Belo Horizonte a convite do evento