Wagner Moura ganha prêmio de melhor ator em Cannes por atuação em 'O Agente Secreto'

Kleber Mendonça Filho também ganhou como melhor diretor no festival

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 16:20)
Wagner Moura
Legenda: Filme foi aplaudido por cerca de 15 minutos na estreia
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Wagner Moura ganhou o prêmio de melhor ator na 78ª edição do Festival de Cannes neste sábado (24). O ator foi premiado pelo seu trabalho em "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho. O diretor pernambucano, que venceu como melhor diretor, recebeu o troféu no lugar do baiano e agradeceu a premiação.

É a primeira vez na história que um ator brasileiro ganha esse prêmio no festival. Também é a primeira vez desde Glauber Rocha que um diretor brasileiro leva o troféu. 

Entre as atrizes, Fernanda Torres foi a primeira brasileira a vencer em Cannes, no ano de 1986, pelo filme "Eu Sei que Vou Te Amar". Em 2008, foi a vez de Sandra Corveloni ganhar o prêmio pela atuação em "Linha de Passe".

Wagner Moura não compareceu à cerimônia de premiação por estar nas filmagens de outro filme, o longa "11817", de Louis Leterrier. O ator esteve no festival na estreia no domingo (18), mas retornou na segunda-feira (19).

Neste sábado (24), ele foi representado pelo diretor do longa Kleber Mendonça Filho. "Eu tive a sorte de ter a oportunidade de trabalhar com o Wagner Moura, um grande ator e uma grande pessoa. Espero que este filme lhe traga coisas maravilhosas. Obrigado ao júri e à presidente Juliette Binoche", disse Mendonça Filho, ao agradecer a premiação pelo colega.

O longa recebeu aplausos durante aproximadamente 15 minutos, no dia da sua estreia no evento de cinema realizado na França, segundo a jornalista Jada Yuan, do Washington Post.

Sobre o que fala o filme?

O longa-metragem se concentra na vida de Marcelo (Wagner Moura) em 1977. Natural de Recife (PE), ele é especialista em tecnologia, mas as ações do seu passado o perseguem de forma pouco sutil. A saga retrata o retorno dele para a capital pernambucana.

Se o objetivo era buscar redenção nesse retorno, que acontece bem no meio do Carnaval, Marcelo terá desafios de extrema grandeza. O Brasil está em pleno período de chumbo, entrecortado pela Ditadura Cívico-Militar no Brasil (1964-1985).  Esse é o pano de fundo da saga, que mistura o drama do protagonista com a mancha ditatorial na história do País.

O tempo todo, Marcelo vai se confrontar com seu passado e presente, e perceber que pouco importa sua formação em tecnologia: as cicatrizes pessoais abertas anos antes estão prontas para se misturar com as questões políticas do período. 

Nesta produção, o grotesco e o excessivo são as notas que permeiam as cenas, ao contrário das sutilezas apresentadas no vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025, o também brasileiro Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Mas se engana quem pensa que as nuances exageradas são puro estilo: elas mostram a crueldade da banalidade de Recife no fim dos anos 1970.

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A produção ganhou elogios da crítica internacional e o Prêmio da Crítica. Isso fez com que ele fosse listado como um dos pretensos vencedores da Palma de Ouro, principal categoria de Cannes.

"Um filme de caráter, uma vitrine para a performance complexa e simpática de Moura, mas também a plataforma para uma produção cinematográfica emocionante e ousada", escreveu o jornal The Guardian sobre o filme.

O Hollywood Reporter chamou o filme de "magistral", com um "retorno maravilhoso de Wagner Moura ao cinema brasileiro". "Ele sempre foi um bom ator, mas Mendonça Filho faz dele uma estrela de cinema".

O The Playlist escreveu que Wagner Moura "comanda" o "belíssimo drama criminal", avaliando o filme como A+ (5 estrelas). Para o site, o filme é uma "obra-prima" de Mendonça Filho, "o esforço mais ambicioso e monumental de uma carreira sem tropeços até agora". As informações são do g1.

Mendonça Filho já havia vencido o prêmio do júri no festival de Cannes há seis anos, por Bacurau. A láurea de agora encerra um ano histórico para o Brasil no evento, com recorde de profissionais no Mercado do Filme, área de negócios que elegeu o país como grande homenageado desta edição.

Todos os vencedores do Festival de Cannes 2025

  • Melhor ator - Wagner Moura, por "O Agente Secreto";
  • Melhor diretor - Kleber Mendonça Filho, por "O Agente Secreto";
  • Palma de ouro - "A Simple Accident", de Jafar Panahi;
  • Grand prix - "Sentimental Value", de Joachim Trier;
  • Prêmio Especial do Júri - "Ressurreição", de Bi Gan;
  • Câmera de Ouro - O "Bolo do Presidente", de Hasan Hadi;
  • Prêmio do Júri - Mascha Schilinski, por "Sound of Falling";
  • Melhor Roteiro - Jean-Pierre e Luc Dardenne, por Young Mothers;
  • Menção Especial - My Father's Shadow, de Akinola Davies Jr.;
  • Curta-metragem Palma de Ouro - I'm Glad You're Dead Now, de Tawfeek Barhom;
  • Menção Especial, curta-metragem - Ali, de Adnan Al Rajeev;
  • Melhor atriz - Nadia Melliti, por The Little Sister.

O Cannes funciona da seguinte maneira:

  • O júri deve "obrigatoriamente" entregar sete prêmios: Palma de Ouro, Grand Prix, Prêmio do Júri e as distinções de direção, roteiro e interpretação feminina e masculina;
  • As decisões são tomadas por maioria absoluta nas duas primeiras rodadas e por maioria relativa nas seguintes;
  • No geral, um filme só pode receber um prêmio, exceto o prêmio de Melhor Roteiro e do Júri que podem ser associados a um prêmio de interpretação;
  • Uma champanheira serve de urna: os membros do júri depositam um pequeno papel dobrado em quatro.

Outros prêmios

Também nesta edição do Festival de Cannes, o filme brasileiro ganhou o prêmio da Crítica. O anúncio foi publicado no Instagram da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci). Esse prêmio, no entanto, não faz parte da lista oficial – a categoria foi criada por críticos de forma paralela. 

"O Agente Secreto" também levou o prêmio o “Art et Essai”, dos exibidores independentes da França.

Brasil perdeu a Palma de Ouro

O encerramento do Festival de Cannes deste ano se deu premiando "It Was Just an Accident", ou "Un Simple Accident", de Jafar Panahi, com a Palma de Ouro. O iraniano desbancou uma lista com mais de 20 filmes, incluindo o longa de Mendonça Filho.

Com a conquista deste sábado, o iraniano Panahi se sagrou como o cineasta que levou os principais prêmios dos três maiores festivais europeus. Antes de Cannes, ele ganhou o Leão de Ouro em Veneza e o Urso de Ouro em Berlim.

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