Banda Cor dos Olhos, de ex-integrantes do Selvagens à Procura de Lei, lança álbum de estreia
Caio Evangelista, Nicholas Magalhães e Rafael Martins comandam novo projeto de pop rock; trio faz show na capital cearense no dia 30 de agosto
Seis meses após anunciar a estreia do projeto musical Cor dos Olhos, Caio Evangelista, Nicholas Magalhães e Rafael Martins, ex-integrantes da banda cearense Selvagens à Procura de Lei, lançaram o primeiro álbum do projeto, homônimo, com canções autorais de pop rock.
Seis das onze músicas do novo trabalho já haviam sido lançadas ao longo do primeiro semestre deste ano, em dois EPs, num movimento de experimentação que marca a nova empreitada. O álbum completo chegou às plataformas na última quinta-feira (31), com mais cinco inéditas e referências musicais que vão desde os sintetizadores que fizeram sucesso na década de 80 ao rock argentino contemporâneo.
A nova banda se alinha ao “indie rock moderno”, mais pop, com beats e novos efeitos, mas mantendo o rock como base, segundo os integrantes.
O power trio surgiu após o fim turbulento da formação original dos Selvagens, rompida em julho do ano passado, quando o vocalista Gabriel Aragão anunciou uma pausa na banda em desacordo com Caio, Nicholas e Rafael. O desentendimento do grupo gerou uma série de incertezas, mas para os três, uma coisa era indiscutível: queriam permanecer juntos e fazendo música.
Quando Gabriel, que afirmou ser dono da marca SAPDL, anunciou nova formação do grupo mantendo o nome original em janeiro deste ano, o trio decidiu começar uma nova história – sem deixar totalmente de lado o que foi construído coletivamente.
Em entrevista ao Verso, Caio, Nicholas e Rafael detalharam o processo de produção do álbum de estreia e compartilharam o momento de redescoberta na música, além de adiantar novidades sobre o show, que chega a Fortaleza no próximo dia 30 de agosto, no Anfiteatro do Dragão do Mar.
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Disco mais pop e espontâneo
Apesar do orgulho do novo projeto, Caio, Nicholas e Rafael reconhecem que, do início ao lançamento do álbum, passaram por muitos momentos de indecisão. “Tudo isso demandou tempo e energia, a gente foi entendendo fazendo”, explica o vocalista e guitarrista Rafael Martins. “As coisas não foram muito calculadas e a gente foi descobrindo o repertório enquanto gravava”, completa.
O recomeço inesperado foi também oportunidade de retomar o prazer pela música e abrir caminho para novas formas de compor e tocar, para além do que vinham fazendo nos últimos anos de SAPDL.
“Nesse momento de se redescobrir, somos três, então a gente está formatando o nosso novo jeito de tocar, de fazer show, de se apresentar”, afirma o baterista Nicholas Magalhães, que também assume as vozes em algumas faixas, movimento também feito pelo baixista Caio Evangelista.
Produzido por Luigi Sucena, um “fã das antigas” dos Selvagens, o disco reitera o entrosamento do trio, e apesar de repetir fórmulas usadas na banda original, como a divisão das vozes, se aproxima bem mais do pop do que os demais álbuns da discografia dos artistas na sonoridade e nas letras.
Temas como amor, desilusões, superação e as mágoas da separação da banda compõem a maioria das composições do trio, mas são elaborados de forma leve, mais solar, sem o compromisso de ser enquadrado como "rock" – na verdade, a banda parece se afastar conscientemente do gênero.
“Acredito que tem muito a ver com as referências que, depois de 15 anos de carreira, já temos. Não temos mais aquela ambição de tipo assim fazer um rock ‘n’ roll clássico, sabe?”, explica Rafael Martins, que afirma que, no entanto, as músicas são “bem mais pesadas” ao vivo.
“A gente tem que responder com música”
Ainda que feitas de formas totalmente autônomas, algumas das histórias presentes em “Y” – primeiro álbum da nova formação dos Selvagens, lançado em maio deste ano – e “Cor dos Olhos” parecem se completar.
Se no clipe de “Pra Recomeçar” Gabriel Aragão encontra os novos membros da banda em um carro que trafega por uma longa estrada, a música “A Curva”, da Cor dos Olhos, destaca que “chegou a curva, é hora de virar” e que “é um caminho novo pra seguir”.
Segundo o trio dissidente, no entanto, as conexões são apenas coincidências. Os três negam, inclusive, ter ouvido qualquer música dos “novos Selvagens”. “A gente está por dentro de toda a situação que está acontecendo, mas artisticamente não nos interessa”, declara Caio.
Ainda assim, o trio afirma que parte das letras também faz menções, diretas e indiretas, à separação da banda. “As músicas que eu escrevi para a Cor dos Olhos, todas elas têm uma frasezinha, mas eu gosto de metáforas, eu gosto que a pessoa quebre um pouco a cabeça, entendeu?”, explica Rafael Martins. “Eu jamais vou escrever tipo ‘eu não gosto de você, eu não sou seu amigo’. Então, teve gente que pegou, teve gente que ainda não pegou”, brinca.
Na época que anunciou o novo disco, Gabriel Aragão afirmou ter sido guiado pela raiva e “dor que estava sentindo” ao compor as novas letras. Já de acordo com Rafael, as referências ao momento que viveram até fazem parte das composições da Cor dos Olhos, mas com outro viés.
“A gente meio que não quis ir por esse caminho – que, talvez num futuro próximo, a gente fosse se arrepender bastante – que é fazer música baseado em ódio, em rancor, porque até para defender no palco é ruim”, pontua.
“Foi por isso que a gente bateu: ‘galera, estamos passando por um momento muito paia, mas a gente tem que responder com música’. Porque a gente quer que a nossa carreira seja próspera e que as pessoas se conectem pela música”, completa.
Para o baixista Caio Evangelista, o disco é um retrato muito mais preciso do momento de recomeço que do momento do “término”. “A gente está vivendo muita incerteza, mas ao mesmo tempo, no meio disso, existe uma certeza, que é continuar fazendo música, continuar tocando”, destaca.
“Nós somos ‘caras de banda’, a gente gosta desse rolê de estar tocando com a galera, de estar lançando disco. Nunca passou pela nossa cabeça parar, isso sempre esteve fora de cogitação”, completa.
Show de lançamento em Fortaleza
Desde o anúncio do novo projeto, a Cor dos Olhos tocou na capital cearense duas vezes, ambas no Iguatemi Hall, como atração de abertura para as bandas Capital Inicial e Paralamas do Sucesso.
No próximo dia 30, o show chega aos fãs cearenses pela primeira vez com o novo álbum na íntegra, no palco do Anfiteatro Sérgio Motta, no Dragão do Mar. Os ingressos estão à venda com valores entre R$ 55 e R$ 100, na bilheteria do equipamento cultural e no Sympla.
O repertório deve incluir o novo disco e parte dos hits dos quatro discos da formação original dos Selvagens à Procura de Lei. Caio brinca que é um show “2 em 1”, para agradar fãs antigos e novos. “A gente toca o nosso repertório Selvagens à Procura de Lei, porque são nossas músicas, é nossa obra, nossa história, nossa voz, nossa vida está nelas”, destaca.
No palco, os três se unem ao som de bases pré-gravadas que reproduzem efeitos e beats. “É uma nova experiência até pra gente, mas é uma banda de rock tocando. O show está mais pesado do que o disco — batera, guitarra e baixo, e a gente está tocando livremente”, conta Rafael.
Para Nicholas, a nova formação deixa o trio mais à vontade no palco, com mais possibilidade de “brilhar” em seu instrumento, mas ainda atentos ao resultado como banda. “O disco foi gravado um pouco nessa vibe também, de fazer jams. Então, a gente no palco, com essa sintonia, deixa a gente muito livre, mas, ao mesmo tempo, muito conectado”.
Além de Fortaleza, a turnê da banda passará por São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Manaus (AM) e Belém (PA) ainda neste mês. No retorno ao Ceará, em 13 de setembro, o trio faz o primeiro show com novo repertório em Juazeiro do Norte, no Cariri.
Serviço
Show de lançamento - Cor dos Olhos em Fortaleza
Quando: Sábado, 30 de agosto
Horário: 19h
Onde: Anfiteatro do Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar , 81 - Praia de Iracema)
Ingressos: A partir de R$ 55 | Vendas na bilheteria do Dragão do Mar e no Sympla
Mais informações: @acordosolhos