Lindomar Castilho cometeu feminicídio que entrou para a história da luta feminista brasileira

Cantor de bolero, que faleceu neste sábado (20), matou a ex-esposa a tiros em 1981; na época, Eliane de Grammont tinha 26 anos.

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Redação producaodiario@svm.com.br
Lindomar Castilho, em registro de 1973, e Eliane de Grammont.
Legenda: Lindomar Castilho, em registro de 1973, e Eliane de Grammont.
Foto: Reprodução.

Com o anúncio do falecimento do cantor Lindomar Castilho, que partiu neste sábado (20), aos 85 anos, um fato trágico que envolve o artista, ocorrido na década de 80, voltou ao debate público.

Famoso pelo grande sucesso obtido como representante da música brega nos anos 70, Castilho também entrou para a história do País por ter cometido um crime brutal: assassinar a ex-esposa, a cantora Eliane de Grammont.

O crime aconteceu na madrugada de 30 de março de 1981, na boate Belle Époque, em São Paulo (SP). Quando Castilho adentrou o lugar, Eliane estava no palco, cantando, ao lado do músico Carlos Randall, que tocava violão.

O show fazia parte de um movimento de retomada da carreira artística após o fim do casamento com Castilho. Segundo o jornal O Globo, Eliane havia parado de cantar justamente por insistência do marido, que era descrito como um homem ciumento e agressivo.

Ao se deparar com a ex-esposa no palco, Lindomar disparou diversos tiros contra ela, que foi atingida no peito. Carlos Randall, que seria um desafeto de Castilho justamente por um ciúme deseanfreado, também foi baleado, mas conseguiu reagir e, com a ajuda do dono da boate, conteve Lindomar até a chegada da polícia.

Eliane ainda chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do hospital. Ela tinha 26 anos. A única filha da artista com Lindomar, Lili de Grammont, tinha um ano e oito meses.

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Repercussão e prisão

Manifestantes exigem justiça no caso Eliane de Grammont.
Legenda: Manifestantes exigem justiça no caso Eliane de Grammont.
Foto: Reprodução.

A brutalidade do crime cometido por Lindomar Castilho impulsionou uma série de protestos por todo o País. Na época, o movimento organizado de mulheres intensificava uma agenda de combate à violência contra a mulher, motivado pelo aumento nos índices de feminicídios, incluindo casos de grande repercussão midiática, como o assassinato da socialite Ângela Diniz.

O período ficou conhecido principalmente pelo slogan "Quem Ama Não Mata", que se perpetuou como uma mensagem importante no combate ao feminicídio, crime que é majoritariamente efetuado por companheiros ou ex-companheiros das vítimas.

Durante o período, uma das vozes mais fortes desse foi a da jornalista Helena de Grammont, irmã de Eliane, que por anos se dedicou à busca por justiça no caso. Na época, ela organizou passeatas e se tornou uma das lideranças do movimento organizado de mulheres.

A pressão popular de ativistas feministas é considerada um dos principais fatores para Lindomar respondesse pelo crime em regime fechado, já que, após ser preso em flagrante, ele foi liberado e aguardou o julgamento em liberdade.

Em agosto de 1984, Castilho foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão. Ele cumpriu sete anos em regime fechado e cinco no semi-aberto, finalizando a pena em 1996.

Ao sair da prisão, Lindomar ainda ensaiou um retorno à música, com o lançamento de um álbum ao vivo em 2000, mas logo desapareceu da mídia e se tornou recluso.

"Ao tirar a vida da minha mãe, morreu em vida", declarou filha

Ao anunciar a morte do pai nas redes sociais, a professora de dança Lili de Grammont compartilhou uma forte declaração sobre a relação que mantinha com Lindomar Castilho. 

"Hoje um ciclo se encerra… As palavras não são suficientes para explicar o que estou sentindo! Só sinto uma humanidade imensa, sinto o tanto que estamos nesta terra para evoluir. Sinto o poder das coisas que verdadeiramente importam", iniciou a coreógrafa.

"Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito, ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira", seguiu.

No comunicado, Lili destacou que se despediu do pai com a consciência de que sua parte foi feita "com dor sim, mas com todo o amor que aprendi a sentir e expressar nesta vida".

"Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução. Diante de tudo isso, desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada", completou.

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