Obra de Walter Benjamin oferece caminhos para enfrentar mundo em crise

Escritor alemão construiu obras na fronteira da filosofia e da literatura.

Escrito por
Beatriz Rabelo beatriz.rabelo@svm.com.br
(Atualizado às 20:23)
Imagem de Walter Benjamin, para matéria sobre literatura.
Legenda: Benjamin foi um pesquisador, filósofo e crítico alemão.
Foto: Coalgem feita a partir de imagens de arquivo público, incluindo a carteira de Benjamin da Biblioteca Nacional da França.

Mais que um nome recorrente nos estudos da imagem e de eventos históricos, Walter Benjamin foi um escritor visionário. Mesmo após 85 anos de sua morte, a contribuição de sua obra é incomparável para a contemporaneidade.

Capaz de se renovar a cada década, o crítico literário alemão segue nos apresentando caminhos e modos de lidar com um mundo em crise

Alguns escritos de Benjamin ganharam mais notoriedade, como “A Obra de Arte na Época da Reprodutibilidade Técnica” e “Sobre o Conceito de História”.

No entanto, sua produção é extensa, concentrando mais de 20 livros publicados.

Imagem de capa de dois livros do Walter Benjamin.
Legenda: Livros publicados do Walter Benjamin.
Foto: Divulgação/Editora Autêntica.

No Brasil, um dos tradutores responsáveis por verter os escritos do alemão para o português é João Barreto, que já traduziu oito volumes para a editora Autêntica desde 2004. Dentre os títulos, estão: 

  • O anjo da história;
  • Origem do drama trágico alemão;
  • Baudelaire e a modernidade;
  • Estética e sociologia da arte;
  • Rua de mão única - Infância berlinense: 1900;
  • Linguagem, tradução, literatura;
  • Constelações;
  • Imagens de pensamento: Sobre o haxixe e outras drogas.

Sua obra, conhecida pela diversidade de temas e profundidade, possui uma riqueza de detalhes que parecem se ampliar a cada releitura. Como se novas camadas de sentido surgissem, trazendo epifanias e outras percepções sobre cenários culturais e sociais. 

Para o doutor em Teoria Literária e editor da Autêntica, Schneider Carpeggiani, é “impossível ‘pensar’ sem Walter Benjamin”. O escritor alemão foi um dos responsáveis por desenvolver o conceito de "constelação", por exemplo, tão utilizado entre os curadores e pesquisadores das artes visuais. 

Benjamin propôs colocar o passado e o presente em perspectiva para pensar o mundo. 

“Ele criou esse conceito, em que a História é apresentada como uma ‘constelação’, em que o passado e o presente sempre se chocam, quando o mundo se preparava para viver o horror do fascismo da década de 1930. Pensar o mundo em que vivemos só faz sentido quando colocamos o passado e o presente em perspectivas, quando sabemos que eles não estão distantes”. 
Schneider Carpeggiani
Doutor em Teoria Literária

Fronteira entre filosofia e literatura

Esse entrelaçamento entre o presente e o passado também está presente no texto "Anjo da História". Nesse livro, Benjamin afirma que essa figura do anjo está com o corpo virado para a frente, mas a cabeça está voltada para trás.

O futuro só é apreensível se o passado for considerado, abarcando distintas vozes e transformações do presente.

Benjamin é reconhecido em diversos campos da arte e das humanidades como um autor fora da curva. Talvez por isso tenha conquistado tantos leitores fiéis no Brasil e no mundo. 

“E esses leitores andam sempre se renovando. Pela beleza do seu texto, é um autor que tem um grupo fiel de leitores jovens, na casa dos 20 anos. Benjamin pode ser lido e usado em todo amplo leque das humanidades”, declarou Schneider Carpeggiani, em entrevista ao Diário do Nordeste.

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De modo geral, a escrita de Walter Benjamin é marcada pelo pensamento poético, habitando a fronteira entre a filosofia e literatura. Engana-se quem pensa que Benjamin é voltado apenas para os acadêmicos e pesquisadores. Na verdade, seus escritos são ricos em matéria poética, que amplia visões de mundo.

Em textos como "Infância berlinense por volta de 1900" e "Rua de mão única", ele aborda as memórias da infância, as mudanças na cidade, as formas de habitar e de ocupar os espaços. 

Imagem da inscrição de Walter Benjamin na Biblioteca Nacional da França
Legenda: Inscrição de Walter Benjamin na Biblioteca Nacional da França.
Foto: Arquivo público.

Biografia do escritor

Para o tradutor da biografia “Walter Benjamin: Uma biografia”, Romero Freitas, poder se debruçar sobre a história do pesquisador ajuda a compreender sua escrita. “Acho que a parte mais importante é o período da juventude, época em que ele foi militante estudantil e começou a se interessar pela mística judaica”. 

Nesse período, os leitores se deparam com um Benjamin complexo, atravessado por questões políticas e pessoais. Uma escrita não surge do nada, ela é reflexo de vivências e epifanias que temos ao longo do tempo, assim evidencia a biografia feita pelo pesquisador alemão Bernd Witte.

Imagem do túmulo de Walter Benjamin para abordar literatura.
Legenda: Walter Benjamin morreu em setembro de 1940, mas seu túmulo segue sendo visitado até hoje.
Foto: Shutterstock/Yana Demenko.

E são justamente os escritos de Benjamin que o mantém tão atuais. “Se pensarmos nas 'modas' acadêmicas, no valor das ‘ações’ de um pensador no ‘mercado de ideias’, a impressão que eu tenho é que a posição de Benjamin só melhora, ou pelo menos permanece estável”, disse Romero. 

Assim, para quem tem curiosidade no autor, ou deseja adentrar 2026 com uma perspectiva mais crítica, conhecer Benjamin a partir de sua biografia pode ser um bom caminho. 

“Além de humanizar o autor, ela é relativamente didática. É uma biografia curta, no estilo 'vida e obra', que não pressupõe muito conhecimento da obra e que explica o básico sobre os textos fundamentais”, conclui.

Serviço

Livro “Walter Benjamin: Uma biografia”
Quanto: R$ 72,90
Onde comprar: Editora Autêntica

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