Crônicas de Fabrício Corsaletti renovam olhares sobre modos de habitar as cidades

Dedicando um olhar às miudezas, a obra "Um milhão de ruas" convoca os leitores a descobrirem a matéria do cotidiano.

Escrito por
Beatriz Rabelo beatriz.rabelo@svm.com.br
Imagem de capa do livro Um milhão de ruas para matéria sobre Crônicas urbanas de Fabrício Corsaletti renovam olhares sobre formas de habitar as cidades.
Legenda: Fabrício Corsaletti compilou crônicas produzidas entre 2010 e 2025.
Foto: Renato Parada.

A vida acontece no ínfimo. Assim percebe Fabrício Corsaletti, ecoando uma perspectiva já muito defendida por Guimarães Rosa, Manoel de Barros e Rubem Braga. Se o fim do ano surge como uma época para renovar metas e objetivos, também é uma possibilidade para criar outras relações com nosso cotidiano e com os espaços urbanos que nos cercam. 

Há quase nove décadas, em 1937, a cronista Marina Colasanti já havia nos alertado: a gente se acostuma, mas não devia. A deixar de abrir as cortinas, de ver a vida ao redor e de fazer caminhadas. Em "Um milhão de ruas: crônicas 2010-2025" é a vez de Corsaletti nos lembrar: devemos voltar a reivindicar o espaço da cidade como nosso.

Com mais de 190 crônicas, produzidas entre 2010 e 2025, o escritor constrói uma narrativa poética que mostra diferentes modos de aprender e experimentar o mundo. Na escrita, ele se rebela contra o automatismo e as visões petrificadas sobre as cidades.

"Existem muitas maneiras de caminhar – atento, desatento, com um objetivo prático, sem objetivo, para fazer atividade física, para conversar com um amigo –, e eu caminho de todas essas maneiras. Tento sempre prestar alguma atenção no mundo ao meu redor. Às vezes sou surpreendido, às vezes não."
Fabrício Corsaletti
Escritor
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Olhar cuidadoso para a rua

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Fabrício revelou ainda que sua metodologia varia: alguns dias saía com ideias já formadas, outros dias estava mais aberto a ser afetado pela rua. Nos dois casos, os detalhes de cenas corriqueiras costumam chamar sua atenção, encontrando forma na escrita. 

Para ele, essa surpresa nem sempre reside no extraordinário. "A vida acontece individualmente, no ínfimo, no pequeno. Claro que os grandes acontecimentos influenciam as vidas das pessoas, mas raramente a gente sente a vida em termos épicos. Desde o romantismo a literatura trabalha nessa chave".

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Essa escrita das miudezas, inclusive, ajuda Fabrício a se movimentar. "Minha vida dá de comer à minha escrita e a minha escrita dá de comer à minha vida. Elas se expandem mutuamente, digamos assim". 

Assim, ao longo das crônicas, os leitores são convidados a refletir sobre os causos de suas próprias vidas. A prestar atenção naquilo que foge do ordinário, mas também no que acontece todos os dias e que ninguém vê.

Ao invés de estipular grandes metas para o próximo ano, talvez uma mudança possível seja seguir um caminho já iniciado pelas crônicas do livro "Um milhão de ruas": reconhecer o imprevisível e abraçar o transitório. 

Serviço

Livro “Um milhão de ruas: crônicas 2010-2025”
Quanto: R$ 92,00
Onde comprar: Editora 34

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