Integrantes dos Selvagens à Procura de Lei se posicionam sobre conflitos e pausa da banda; entenda

Os músicos da banda cearense voltaram a falar sobre as divergências quanto ao futuro do grupo nesta sexta-feira (12)

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
Banda foi formada em 2009 e é um dos destaques da cena cearense
Legenda: Banda foi formada em 2009 e é um dos destaques da cena cearense
Foto: Arthur Henrique/Divulgação

Após o anúncio de que a banda cearense Selvagens à Procura de Lei entraria em uma pausa por tempo indeterminado para realizar uma reestruturação, feito nessa quinta-feira (11) pelo vocalista do grupo, Gabriel Aragão, o artista voltou a se posicionar publicamente sobre o conflito com os demais integrantes, Rafael Martins (guitarra), Caio Evangelista (baixo) e Nicholas Magalhães (bateria). Estes, no entanto, alegam que a decisão de deixar os palcos foi tomada de forma unilateral, ou seja, contra a vontade deles. 

Desde o comunicado oficial do hiato, os artistas destacam que problemas pessoais e profissionais foram responsáveis pelo fim da banda, mas as declarações emitidas pelos quatro divergem sobre alguns fatos. Um deles é que, segundo Gabriel, os demais músicos teriam marcado shows sem sua presença – fato que foi negado pelo trio em comunicado enviado ao Verso.

Outro ponto de disputa tem sido a posse das contas das redes sociais da banda – ponto questionado também pelos fãs após o anúncio da pausa, já que o Instagram do grupo foi excluído e o perfil no X divulgou uma nota emitida por Rafael, Caio e Nicholas na noite dessa quinta-feira (11). Enquanto os três músicos afirmam que as redes dos Selvagens foram "sequestradas e derrubadas", Gabriel diz que o trio confirmou, em mediação gravada em vídeo, a troca de senhas das contas para que ele não tivesse mais acesso aos perfis.

"Diálogo ficou difícil", diz Gabriel Aragão

Desde o ano passado, Gabriel Aragão tem se dedicado também à carreira solo
Legenda: Desde o ano passado, Gabriel Aragão tem se dedicado também à carreira solo
Foto: Murilo Amâncio/Divulgação

Por meio de uma carta aberta aos fãs, publicada nas redes sociais na tarde desta sexta-feira (12), Gabriel Aragão alegou que estava com o “coração partido” e que “acabar a atual formação dos Selvagens à Procura de Lei nunca foi uma vontade, mas continuar o grupo sem resolver os problemas cada vez mais graves na conduta interna da banda deixou de ser uma opção”. 

Segundo o artista, a decisão de encerrar a parceria ocorreu porque os quatro vinham tendo diferenças “profissionais, artísticas, comerciais e, até, de ordem ideológica e política”. “O que eu vinha propondo há bastante tempo era para deixarmos as diferenças de lado e anunciar uma pausa para respirar e voltar com as questões dissolvidas. Sugeri também, pensando nos fãs, fazermos pelo menos uma turnê de despedida ou um último show em Fortaleza, nossa cidade natal. Infelizmente não quiseram essas opções e o diálogo ficou difícil”, destacou.

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No comunicado, Gabriel ainda afirmou que a banda sempre teve uma advogada de confiança e que ela foi a responsável pela mediação entre os integrantes durante as divergências sobre a pausa do grupo. Porém, o conflito teria se agravado quando o vocalista tomou conhecimento da presença dos Selvagens no line-up da última edição do festival Férias da PI – que, segundo ele, foi marcado sem sua participação ou conhecimento. Na época, Gabriel comunicou publicamente que o show não aconteceria e o nome da banda foi retirado da programação oficial do evento.

"Ainda durante esse período, outros contratantes do Nordeste e Sudeste entraram em contato comigo afirmando que os demais integrantes estavam buscando vender shows sem minha participação. Decidi nunca falar publicamente sobre isso até agora para preservar a imagem de todos", completou.

O artista também utilizou o comunicado para rebater as acusações, feitas por perfis de redes sociais na noite desta quinta-feira (11), de que teria "sequestrado" as redes sociais da banda e registrado a marca Selvagens à Procura de Lei há pouco tempo, com a intenção de se tornar o único responsável pela utilização do nome.

Segundo Gabriel, as contas do grupo foram "tomadas" antes do processo da mediação, encerrada na última quarta-feira (10), e ele está sem acesso ao Twitter, YouTube, e-mail e outras mídias oficiais. O Instagram da banda, ainda de acordo com ele, foi recuperado, mas desativado "por segurança" até que o retorno de uma "comunicação unificada".

"Durante a mediação, que foi gravada em vídeo em comum acordo, ao serem questionados sobre o que houve com as Redes confirmaram sobre a troca das senhas e que ficariam na posse deles", explicou

Já em relação ao registro da marca Selvagens à Procura de Lei, Gabriel Aragão afirma que o registro foi feito por ele em 2011, ano de lançamento do primeiro álbum da banda, Aprendendo a Mentir, com o conhecimento de todos os integrantes. "Em 2024, houve apenas o processo natural de renovação dessa marca", afirmou.

Confira a carta aberta na íntegra:

"CARTA AOS FÃS

Escrevo essa carta com o coração partido.

Acabar a atual formação dos Selvagens à Procura de Lei nunca foi uma vontade, mas continuar o grupo sem resolver os problemas cada vez mais graves na conduta interna da banda deixou de ser uma opção. Nos últimos tempos, cresceram diferenças profissionais, artísticas, comerciais e, até, de ordem ideológica e política.

Acreditem, a todo momento tentei resolver as nossas diferenças de maneira pacífica. Nunca quis acabar esse momento da banda de forma unilateral, nem desejei seguir sozinho, pois, quando criei a banda e, posteriormente, convidei cada integrante da formação atual, a minha concepção de grupo sempre foi fortalecer o coletivo. Ninguém está ganhando nada nessa história.

É difícil processar isso tudo porque não são apenas colegas de trabalho, mas pessoas consideradas irmãos por boa parte da minha vida. Por isso, preferi descansar e, com serenidade, escrever essas palavras. Esse texto que segue é para aquelas pessoas que têm um lugar eterno no meu coração, na minha arte e no carinho gigantesco pelos Selvagens: os fãs.

O que eu vinha propondo há bastante tempo era para deixarmos as diferenças de lado e anunciar uma pausa para respirar e voltar com as questões dissolvidas. Sugeri também, pensando nos fãs, fazermos pelo menos uma turnê de despedida ou um último show em Fortaleza, nossa cidade natal. Infelizmente não quiseram essas opções e o diálogo ficou difícil.  

Desde o início da banda, sempre tivemos uma advogada de confiança ao nosso lado, que lutou conosco em momentos chave da nossa história, por isso propus que ela conduzisse uma mediação entre nós. Durante esse período de acertos, fiz uma viagem e, ao voltar, me deparei com uma postagem anunciando um show do Selvagens em Fortaleza. Fui atrás para tentar entender esse anúncio e descobri que haviam marcado esse show sem minha participação. Tanto que tive que, sozinho, esclarecer aos fãs nas redes oficiais para que ninguém se frustrasse indo para um show que não aconteceria com o Selvagens à Procura de Lei.

Ainda durante esse período, outros contratantes do nordeste e sudeste entraram em contato comigo afirmando que os demais integrantes estavam buscando vender shows sem minha participação. Decidi nunca falar publicamente sobre isso até agora para preservar a imagem de todos.

Pois bem, a mediação foi encerrada nesta última quarta-feira, 10 de julho. Um pouco antes de iniciar, todas as contas da banda foram tomadas. Como vocês podem ver, não tenho acesso ao Twitter, também não tenho acesso ao YouTube, e-mail e outras mídias. Durante a mediação, que foi gravada em vídeo em comum acordo, ao serem questionados sobre o que houve com as Redes confirmaram sobre a troca das senhas e que ficariam na posse deles. Afirmaram também nesta mesma reunião que dali em diante o único acordo possível seria que a banda seguisse sem mim.

No mesmo dia, à noite, o Instagram da banda foi recuperado.

Como o e-mail não está em posse de quem pode responder pela marca, foi recomendado por segurança desativar esse meio de comunicação por um tempo até que as demais contas fossem restabelecidas e a comunicação unificada.

Criei a marca Selvagens à Procura de Lei quando ainda era estudante de Direito, como já dito em inúmeras entrevistas.

O processo do registro da marca, ciente de todos integrantes, data de 2011, ano do lançamento do primeiro disco do Selvagens. Em 2024 houve apenas o processo natural de renovação dessa marca.

Se o amor e a verdade sempre vencem no final, é apenas questão de tempo, mesmo que seja o tempo da Justiça.

Sei que tudo isso não vai se resolver numa nota. Ainda há nuito para falar, mas tudo tem o seu tempo. Espero que vocês entendam. Por favor, peço a todos que não alimentem ódio, não ataquem ninguém ou busquem culpados. Em nome da nossa história seguirei de maneira respeitosa com todos pelo amor infinito que tenho a banda e todos vocês.

De coração,
Gabriel"

Músicos afirmam que declarações do vocalista contém "inverdades"

Último trabalho inédito da banda foi o disco
Legenda: Último trabalho inédito da banda foi o disco "Paraíso Portátil", lançado em 2019
Foto: Divulgação

Procurados pela reportagem para um posicionamento sobre o comunicado de Gabriel Aragão, os músicos Rafael Martins, Caio Evangelista e Nicholas Magalhães enviaram uma nota de esclarecimento conjunta por meio da assessoria de imprensa dos três.

No comunicado, eles negam que tenham negociado shows dos Selvagens à Procura de Lei sem o conhecimento de Gabriel e que, desde maio, declinaram de todas as propostas que chegaram, "desde a Prefeitura de Fortaleza a shows no Brasil inteiro".

A nota ressalta que as negativas foram "dadas em respeito ao momento de crise interna e em respeito a decisão do Gabriel de não querer subir no palco com os demais integrantes".

Por fim, os artistas lamentaram a "espetacularização sobre suas vidas profissionais e pessoais" e destacaram o desejo de seguir na carreira musical.

Confira a nota na íntegra:

"Nota de esclarecimento

Diante da manifestação do Gabriel, no mês de maio, em querer parar a banda por desejo individual, os demais integrantes dos Selvagens à Procura de Lei seguiram respeitando o momento e dizendo não para todas as propostas que chegavam, desde prefeitura de Fortaleza a shows no Brasil inteiro. 

As negativas foram dadas em respeito ao momento de crise interna e em respeito a decisão do Gabriel de não querer subir no palco com os demais integrantes. Quando houve o acontecimento da Prefeitura, ele se posicionou sozinho nas redes da banda e na imprensa sem consultar os demais.

Até o dia de ontem, não houve nenhuma movimentação oficial da banda em trazer a público quaisquer informações sobre a situação interna, pois há o entendimento que tal ação deveria ser tratada em caráter privado. 

Infelizmente, ontem à tarde, os integrantes foram surpreendidos com um posicionamento do Gabriel em um veículo de comunicação, que, assim como nesta sua última declaração, contém inverdades sobre a determinação de pausa e condutas dos demais integrantes, tornando necessário um posicionamento oficial da banda para esclarecer os fatos. 

Reiteramos que a Banda Selvagens à Procura de Lei não tentou e não vendeu nenhum show até agora e que os integrantes não desejam seguir com essa espetacularização sobre suas vidas profissionais e pessoais, sendo seu único objetivo seguir fazendo música". 

Entenda o impasse

Após 15 anos de carreira, os Selvagens à Procura de Lei finalizaram a parceria profissional na última quarta-feira (10). O anúncio foi feito pelo vocalista Gabriel Aragão, que afirmou que a banda passaria por uma reestruturação e que ele seguiria como único membro da formação original.

No entanto, na última quinta-feira (11), por meio de uma nota conjunta publicada nas redes sociais, os músicos Rafael Martins, Caio Evangelista e Nicholas Magalhães declararam que a decisão foi tomada de forma unilateral por Gabriel e que foram comunicados sobre a pausa por uma mensagem de texto há algumas semanas.

“Nunca tivemos a intenção de parar ou nos afastar dos Selvagens à Procura de Lei”, diz o comunicado. Eles ainda afirmaram que as redes da banda haviam sido “sequestradas e derrubadas” e que seguiram “em defesa dos direitos”. 

Confira a nota divulgada nesta quinta-feira (11):

"Essa nota é em respeito a todos os fãs e parceiros dos Selvagens à Procura de Lei.

Temos muito orgulho da trajetória dos Selvagens à Procura de Lei, uma história escrita com dedicação mútua dos 4 integrantes recheada de bons momentos e outros nem tanto. Ao longo dos últimos 15 anos, vivenciamos muitas vitórias e desafios sempre encarados como um time, onde todos investiram tempo, dinheiro, criatividade e energia.

Há algumas semanas, fomos surpreendidos com uma mensagem de texto do Gabriel dizendo que a banda faria uma pausa por única decisão dele, o que não representa a nossa vontade. Nunca tivemos a intenção de parar ou nos afastar dos Selvagens à Procura de Lei.

As redes sociais dos Selvagens à Procura de Lei foram sequestradas e derrubadas. Quaisquer notas divulgadas nelas não representam nossos interesses ou posicionamento.

Nós somos os Selvagens à Procura de Lei.

Seguiremos em frente na defesa de nossos direitos e em breve estaremos em cima do palco mandando o nosso som.

Gratos,
Caio, Rafael e Nicholas"

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