Após conquistar principal prêmio de teatro, grupo cearense Pavilhão da Magnólia celebra 20 anos com peças em Fortaleza
Grupo teatral festeja trajetória em 2025 com mostra de repertório e exposição no mês de abril na Capital
“Um grupo do coletivo". É assim que o Pavilhão da Magnólia é definido pelo idealizador, ator e gestor Nelson Albuquerque. Em 2025, o grupo teatral cearense — formado também por Silvianne Lima (atriz e produtora), Jota Júnior Santos (ator e produtor), Denise Costa (atriz) e Eliel Carvalho (ator e músico) — comemora 20 anos de uma história marcante para a arte do Estado.
Neste aniversário, o Pavilhão celebra a recente premiação no Prêmio Shell, abre mostra de repertório com três espetáculos ao longo de abril, prevê a realização de uma exposição especial na própria sede no fim do mês e, ao Verso, antecipa uma circulação nacional.
Veja também
Do Curso de Arte Dramática da UFC aos palcos
Foi em 2005 que o grupo estreou de forma oficial, ao apresentar o espetáculo “O dia da revolta das coisas do Nunca” no Teatro Emiliano Queiroz, em Fortaleza. O pontapé dessa reunião se deu a partir de uma movimentação anterior de estudantes do Curso de Arte Dramática, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Então aluno da formação, Nelson se uniu a outros colegas para criar um “núcleo de experimentação cênica”, como define em entrevista ao Verso. A partir disso, os estudantes-artistas passaram a participar de festivais de esquetes na capital cearense.
Nas palavras do fundador, o Pavilhão da Magnólia se identifica como “teatro de grupo, de pesquisa continuada, pesquisamos e trabalhamos em parcerias com outros artistas para dar vida a projetos que falem de nós, de temas políticos e sociais que nos atravessam”.
O grupo soma mais de 1300 apresentações de 20 espetáculos montados, com circulação por mais de 90 cidades e importantes festivais e mostras de teatro e arte de todo o Brasil.
A formação atual do Pavilhão da Magnólia se firmou já há mais de uma década. Além de Nelson, os integrantes mais antigos são Denise e Silvianne, que passaram a compor o grupo, respectivamente, em 2007 e 2008. Jota Júnior entrou em 2012 e Eliel, em 2014. Entre os trabalhos dessa época, estão “Ogroleto” e “Baldio”, que estrearam em 2015.
“Efervescência” e desafios para o teatro
Questionado sobre o cenário no qual grupos de teatro estavam inseridos nos anos iniciais do Pavilhão, Nelson rememora de um panorama de “efervescência”.
“Diversos festivais de esquetes, importantes festivais de teatro em seus auges, temporadas, ocupação de espaços públicos, um conjunto de políticas públicas federais, estaduais e municipais, os editais ganhando força, o Fórum Estadual de Teatro e o movimento Todo Teatro É Político”
“Elementos super importantes para o surgimento e consolidação de grupos de pesquisa e atividades continuadas”, ressalta o artista. A nível nacional, fortalecido ainda por projetos como Palco Giratório e Petrobras Cultural, esse contexto “fortaleceu a cena cultural do país”.
Além da produção de espetáculos, o grupo também carrega na história ações relevantes de gestão e produção cultural, incluindo iniciativas de ocupação de espaços públicos — a exemplo da Residência Pavilhão da Magnólia, no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno (2012-2015), e do “Centro em Cartaz”, no Teatro Carlos Câmara (2014-2015).
Apesar do panorama favorável descrito, o Pavilhão da Magnólia também destaca dificuldades que afetaram e afetam não só o próprio grupo, mas outras iniciativas coletivas da linguagem na Cidade.
“A cena de Fortaleza se profissionalizou e virou referência, mas infelizmente perdemos espaço e hoje vivemos um enfraquecimento das temporadas, dos festivais, dos espaços alternativos, das sedes dos grupos”, avalia Nelson.
“Há uma desvalorização dos cachês, consequentemente enfraquece toda a cadeia produtiva. Os editais não dão conta da demanda e o teatro de pesquisa continuada tem perdido espaço… Assim, os grupos têm acabado, muitos não tem mais sede e cada vez mais artistas precisam trabalhar fazendo outra atividade”
Casa Absurda como "resposta ao tempo"
Entre 2016 e 2018, o grupo idealizou e fundou o Cena Casarão, espaço cultural partilhado com outros grupos de teatro da Cidade. Em novembro do mesmo ano do fechamento do local, o Pavilhão abriu a Casa Absurda, em funcionamento até hoje.
O novo espaço, inicialmente mantido em parceria com a Cia. Prisma de Artes, passou a funcionar como sede do Pavilhão e palco para outros artistas do teatro e mais artes. O início das atividades abertas ao público se deu em fevereiro de 2019, entre períodos delicados para a cultura.
“O nome (Casa Absurda) era uma resposta ao tempo que vivíamos. Abrimos a sede logo depois da eleição do ex-presidente Bolsonaro, um momento crítico para a cultura nacionalmente, a casa logo ficou fechada devido a pandemia”, descreve Jota Júnior.
Entre os enfraquecimentos federais para o setor cultural, os impactos globais da covid-19 e os desafios de viver de arte no País, o Pavilhão tem conseguido manter a Casa Absurda e as atividades realizadas nela.
“O último ano, 2024, foi a primeira vez que conseguimos apoio para mantê-la, fomos contemplados pelo Edital TAC do Instituto Dragão do Mar, que apoiava e incentivava as sedes, pela Funarte, no Edital de Manutenção de Espaço, e pela Secultfor, através da Lei Paulo Gustavo”, elenca Jota.
“Os recursos não cobrem tudo, mas mantém a regularidade da programação que dá um fôlego e impulsiona a Casa a manter diálogo com outros artistas”, segue o artista.
Trajetória coletiva, prêmio coletivo
A abertura do Pavilhão para trocas, apoios e experiências com a cena é um dos aspectos mais ressaltados pelas falas dos integrantes. “Desde o início fomos abraçados por outros grupos e artistas que nos ajudaram a ser um grupo de pesquisa continuada, a montar repertórios, a ter sede”, reconhece Nelson.
O fundador cita grupos como Bagaceira, Expressões Humanas, Teatro Máquina, Nois de Teatro, Garajal, Dona Zefinha, Cia Prisma de Artes, Formosura e parceiros como Miguel Vellinho, Hector Briones, Herê Aquino, Marcelo Romagnoli, Francis Wilker, Thereza Rocha, Henrique Fontes, Rodrigo Frota, Bob,Yuri Yamamoto e Wallace Rios.
A coletividade do Pavilhão da Magnólia é reforçada quando o assunto é o troféu recebido no 35º Prêmio Shell de Teatro no último dia 18 de março. O grupo saiu vencedor do evento na categoria “Destaque Nacional”, pelo espetáculo “A Força da Água”.
Além do Pavilhão, a cearense Jéssica Teixeira venceu o Prêmio Shell na categoria de Melhor Direção (por “Monga”) e a também cearense Ana Marlene foi indicada a Melhor Atriz (por “Egoísta”) no evento.
A indicação, ressalta Jota, já foi motivo de celebração. “Fomos surpreendidos com a notícia, que nos encheu de alegria pois iniciamos 2025 comemorando os 20 anos do grupo e essa indicação dizia muito sobre o que a gente vem construindo até aqui”, afirma.
“Nem preparamos discurso, saiu de improviso e o que ficou marcado foi a emoção e o retorno das pessoas que também se emocionaram com a conquista”, lembra Jota.
“Sabíamos que esse prêmio não era só nosso, era do teatro cearense, das pessoas que movem o teatro nesse estado a despeito de todos os desafios que viver de teatro implica”
“Esperamos que ressoe na cidade de Fortaleza, no Ceará, para uma maior valorização do teatro produzido aqui, que possa inspirar novos grupos, que possa chegar a mais pessoas e que tenhamos o devido incentivo de políticas públicas para a garantia de continuidade grupos de pesquisas continuadas como os nossos”, sustenta Jota.
Comemorações dos 20 anos incluem exposição, festa e circulação nacional
O espetáculo pelo qual o Pavilhão foi premiado será um dos três que compõem a 6ª Mostra de Repertório do grupo, a ser realizada ao longo de abril no Teatro Dragão do Mar, na Casa Absurda e em locais públicos de Fortaleza.
“Sempre no aniversário do grupo fazemos uma Mostra de Repertório, seja com apoio de editais ou não, procuramos parcerias com os teatros e nos jogamos para dizer para a cidade o que estamos fazendo, dizer que nossos trabalhos continuam vivos”, afirma Jota.
A “estratégia de resistência e de chegar a mais públicos que ainda não conhecem os nossos trabalhos” terá apresentações de “A Viagem de um Barquinho”, “A Força da Água”, “Maquinista” e “Pétalas”.
As três primeiras serão encenadas no Teatro Dragão do Mar nos finais de semana de abril. Já a última, uma versão autoral do grupo da Paixão de Cristo, será apresentada nos dias 17, 18, 19 e 20 em quatro bairros da capital cearense. Detalhes serão divulgados em breve.
Já na Casa Absurda, o grupo vai realizar outras iniciativas comemorativas. “Desde a abertura, impulsionamos o desejo de partilhar o território com outros artistas e outras linguagens. Assim lançamos mão de uma sala de recepção para transformar em galeria de arte — a Galeria Absurda”, contextualiza
No espaço que já recebeu 10 exposições de artes visuais, a próxima mostra será em celebração à trajetória do grupo, com previsão de abertura no dia 23, às 19 horas.
“Convidamos o curador Daniel Pellegrin a remexer nossos arquivos de fotos de diversos fotógrafos, materiais gráficos, cenográficos e adereços do repertório para criar uma exposição instalativa”, afirma Jota.
No dia 26, às 20 horas, a Casa Absurda irá acolher, ainda, uma festa “para comemorar os 20 anos e abraçar os amigos, parceiros e nosso público que pedem esse momento desde a divulgação do Prêmio Shell”, acrescenta.
As programações, no entanto, não para por aí e incluem, como o artista adianta, uma circulação nacional. “Estaremos na 27ª edição do Palco Giratório, maior projeto de itinerância de artes cênicas no Brasil, com o espetáculo ‘A Força da Água’, então temos muito a comemorar e encontrar o Brasil nesse ano que está sendo de muita colheita para tudo que plantamos e cultivamos ao longo desses 20 anos”, finaliza.
6ª Mostra de Repertório do Grupo Pavilhão da Magnólia
A Viagem de um Barquinho
- Quando: dias 5, 6, 12 e 13 de abril, às 17 horas
- Onde: Teatro Dragão do Mar - Rua Dragão do Mar, 81
- Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); à venda na bilheteria e na plataforma Sympla
- Mais informações: @pavilhaodamagnolia
A Força da Água
- Quando: dias 5, 6, 12 e 13 de abril, às 20 horas
- Onde: Teatro Dragão do Mar - Rua Dragão do Mar, 81
- Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); à venda na bilheteria e na plataforma Sympla
- Mais informações: @pavilhaodamagnolia
Maquinista
- Quando: dias 8, 15, 22 e 29 de abril, às 19h30
- Onde: Teatro Dragão do Mar - Rua Dragão do Mar, 81
- Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); à venda na bilheteria e na plataforma Sympla
- Mais informações: @pavilhaodamagnolia
Pétalas
- Quando: dias 17, 18, 19 e 20
- Mais informações: em breve detalhes de local e horário serão divulgados em @pavilhaodamagnolia
Exposição de 20 anos do Pavilhão da Magnólia
- Quando: dia 23, às 19 horas
- Onde: Casa Absurda (rua Isac Meyer, 108, Aldeota)
- Gratuito.
- Mais informações: @pavilhaodamagnolia e @casaabsurda
Festa de 20 anos do Pavilhão da Magnólia
- Quando: dia 26, às 20 horas
- Onde: Casa Absurda (rua Isac Meyer, 108, Aldeota)
- Mais informações: em breve detalhes serão divulgados em @pavilhaodamagnolia