Representantes do Ceará, Jéssica Teixeira e Pavilhão da Magnólia vencem 35º Prêmio Shell de Teatro

A atriz e diretora e o grupo de teatro foram agraciados com os prêmios 'Melhor Direção' e 'Destaque Nacional', respectivamente

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
(Atualizado às 09:20, em 20 de Março de 2025)
A atriz e diretora Jéssica Teixeira e o grupo Pavilhão da Magnólia foram premiados na cerimônia
Legenda: A atriz e diretora Jéssica Teixeira e o grupo Pavilhão da Magnólia foram premiados na cerimônia
Foto: Arquivo pessoal

O Ceará brilhou na noite desta terça-feira (18), na cerimônia da 35ª edição do Prêmio Shell de Teatro, uma das mais tradicionais e reconhecidas da cena teatral do País. Com três espetáculos protagonizados e dirigidos por cearenses indicados à honraria, o Estado levou duas estatuetas: “Melhor Direção”, pelo espetáculo “Monga”, da atriz e diretora Jéssica Teixeira, e “Destaque Nacional”, concedido à peça “A Força da Água”, do grupo Pavilhão da Magnólia

Outro destaque desta edição foi a indicação da atriz Ana Marlene, que concorreu ao prêmio de Melhor Atriz pela atuação no monólogo “Egoísta”, do diretor Juracy de Oliveira. Nesta categoria, no entanto, a premiada foi Débora Falabella, pelo espetáculo “Prima Facie”.

Após a premiação, as redes sociais foram tomadas por publicações elogiosas de cearenses orgulhosos de seus conterrâneos. Artistas e entusiastas do teatro celebraram a projeção que os prêmios trazem para a arte feita no Estado, um reconhecimento importante para uma cena que ainda enfrenta muitos desafios para seguir de pé, especialmente após a pandemia.

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Cultura DEF cearense em destaque

Trecho do espetáculo 'Monga', de Jéssica Teixeira
Legenda: Trecho do espetáculo 'Monga', de Jéssica Teixeira
Foto: Camila Rios/Divulgação

Em dezembro de 2024, Jéssica Teixeira compartilhou nas redes sociais um resumo da trajetória de “Monga”, da idealização até o palco. Ao todo, a atriz e diretora trabalhou por quatro anos no espetáculo. Mesmo sem conseguir aprovação em editais, ela conseguiu circular pelo País com a peça, a partir de uma parceria com a produtora Corpo Rastreado, e realizar 35 apresentações durante nove meses. 

Como resultado da dedicação e da qualidade do projeto, foi indicada e venceu a categoria Melhor Direção, onde concorria com Clara Carvalho (“Hedda Gabler”), José Fernando Peixoto (“Depois do Ensaio, Nora, Persona”) e Naruna Costa (“Parto Pavilhão”).

Na cerimônia de entrega do prêmio, em um discurso emocionado, Jéssica lembrou a importância da valorização da diversidade na cena cultural e destacou uma fala da atriz Verónica Valenttino, cearense que foi agraciada com o Prêmio Shell em 2023 e se tornou a primeira mulher trans a receber a honraria.

“Aqui, nesse palco – que um dia foi tão distante, e agora tá tão presente –, eu queria muito citar uma amicíssima conterrânea, que é Verónica Valenttino, que diz: ‘Representatividade importa sim, mas eu não quero ser a única’. Eu não quero apenas a representatividade, eu quero proporcionalidade. Somos muitos. A cultura DEF é uma cultura imensa”, ressaltou Jéssica. 

Em entrevista ao Verso, a atriz e diretora comentou o processo de produção de “Monga” e o ineditismo do prêmio – especialmente para uma diretora tão jovem como ela, que tem apenas 32 anos.

Artista venceu prêmio de 'Melhor Direção'
Legenda: Artista venceu prêmio de 'Melhor Direção'
Foto: Camila Rios/Divulgação

A artista contou que só conseguiu colocar o espetáculo em circulação a partir de uma parceria com a produtora Corpo Rastreado, já que o projeto não foi contemplado por editais do Ceará e de São Paulo. A primeira apresentação aconteceu em março de 2024 e foi feita após apenas sete ensaios.

Artista desde os sete anos, esse é o segundo número solo de Jéssica, que se tornou destaque nacional após estrear o espetáculo E.L.A. Com 50 minutos de duração, o premiado Monga parte da história de Julia Pastrana, mexicana que ficou conhecida pejorativamente como "mulher-macaco", para investigar a relação entre corpo, sociedade e dramaturgia. 

"Eu sou um artista de teatro, não sei viver de outro jeito, e me parece que essas premiações fazem furar essa bolha, porque chegam em outras pessoas que não são dessa tal classe artística", celebra a artista.

"São pessoas que vivem suas vidas, que acessam o teatro muito raramente e que agora têm um olhar atento para um espetáculo que se ressalta. Agora, eu me sinto na obrigação de dar luz ou ser um farol para tantos outros espetáculos que estejam tratando de dramaturgias pertinentes e relevantes", completa.

O Ceará tem, para mim, os artistas mais admiráveis do País. (...) E o poder público não consegue caminhar a passos largos com esses artistas de mãos dadas. Eles conseguem dar um pequeno impulso, mas eles não conseguem dar uma continuidade ou uma profundidade àqueles que querem crescer nas suas carreiras no Ceará." 
Jéssica Teixeira
Atriz e diretora de teatro

A artista espera, agora, que o prêmio ecoe para outras produções cearenses, especialmente produzidas e protagonizadas por outros artistas com deficiência. No entanto, destaca, a esperança é que a repercussão do prêmio alcance principalmente pessoas sem deficiência, que, muitas vezes, não levam o trabalho árduo de artistas com deficiência a sério, tratando-os de forma "assistencialista, como um voluntariado".

"Eu acho que tem muito artista com deficiência investindo na sua própria arte, mas o problema não está aí. O problema está em quem tem a tomada de decisão e a tomada de poder e para onde o dinheiro é investido", destacou.

Com 20 anos de história, Pavilhão da Magnólia recebe prêmio inédito

Cena de 'A Força da Água'
Legenda: Cena de 'A Força da Água'
Foto: Ana Raquel S/Divulgação

Ao ouvir o nome do grupo ecoar pelo Teatro Riachuelo, os integrantes do grupo Pavilhão da Magnólia se emocionaram. O prêmio de "Destaque Nacional", categoria nova no Shell de Teatro, chegou como um presente para comemorar as duas décadas de atividade do coletivo, que enfrentou diversos desafios para não desistir dos palcos nos últimos anos. 

"Foi um misto de emoções, porque esse Prêmio é também de todos os artistas de teatro do Ceará que nos inspiram e que estamos de mãos dadas enquanto movimento", destacam os atores e produtores Jota Júnior e Silvianne Lima, ambos integrantes do Pavilhão, em entrevista conjunta ao Verso.

A pesquisa para "A Força da Água" começou em 2018, no Laboratório de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes, tendo como mote a obra "O Quinze", de Rachel de Queiroz. Em 2022, o projeto foi contemplado pelo Edital das Artes da Secult-CE e conseguiu estrear, com direção e texto de Henrique Fontes (RN), a versão final do projeto, que une fatos históricos, uma reflexão sobre políticas públicas e humor.

Com reconhecimentos como o Prêmio Especial do Júri do Festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba (Feste), o espetáculo já conta com mais de 30 apresentações, tanto no Ceará quanto em outros estados, como Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo e Paraná.

"Esperamos que essa premiação do Pavilhão ressoe na cidade de Fortaleza, para uma maior valorização do teatro produzido aqui. Que ele possa chegar a mais pessoas e que tenhamos o devido incentivo de políticas públicas para a garantia de continuidade", ressaltaram Jota e Silvianne.

Apresentações em Fortaleza

Em abril, o Pavilhão da Magnólia fará uma ocupação no Teatro Dragão do Mar em comemoração do aniversário de 20 anos do grupo.

A 6ª edição da mostra de repertório do coletivo contará com apresentações dos espetáculos "A Viagem de um Barquinho", com direção de Miguel Vellinho, e o premiado "A Força da Água", nos dias 5, 6, 12 e 13 de abril; e "Maquinista", com direção de Herê Aquino, nos dias 8,15, 22 e 29 de abril.

Ainda no próximo mês, o grupo apresentará sua versão da Paixão de Cristo, o espetáculo "Pétalas", na Casa Absurda e nas ruas quatro bairros da Capital. Para acompanhar a programação, siga o coletivo no Instagram: @pavilhaodamagnolia.

Confira a lista completa de vencedores do 35º Prêmio Shell:

Vencedores pelo Júri do Rio de Janeiro

Dramaturgia

Pedro Emanuel e Vinicius Arneiro, por “Língua”

Direção

Dadado de Freitas e Mauricio Lima, por “Arqueologias do Futuro”

Ator

Othon Bastos, por “Não me Entrego, Não!”

Atriz

Débora Falabella, por “Prima Facie”

Cenário

Beli Araujo e Cesar Augusto, por “Claustrofobia”

Figurino

Claudia Schapira, por “Améfrica: Em Três Atos”

Iluminação

Adriana Ortiz, por “Um Filme Argentino”

Música

Beà Ayòóla, pela direção musical de “Amor de Baile”

Energia que vem da gente

Programa Enfermaria do Riso – UNIRIO, por desenvolver desde 1998 uma ação de extensão integrada entre os cursos de Teatro e Medicina para formação e pesquisa em torno de intervenções artísticas de palhaçaria em hospitais

Vencedores pelo Júri de São Paulo

Dramaturgia

Liana Ferraz, por “Não Fossem as Sílabas do Sábado”

Direção

Jéssica Teixeira, por “Monga”

Ator

Alexia Twister, por “Rei Lear”

Atriz

Mel Lisboa, por “Rita Lee, uma Autobiografia Musical”

Cenário

J.C. Serroni, por “Primeiro Hamlet”

Figurino

Eduardo Giacomini, por “Cão Vadio”

Iluminação

Wagner Antônio, por “Um Jaguar por Noite”

Música

Adilson Fernandes, Bruno Garcia, Carol Nascimento, Dani Nega, Flávio Rodrigues e Jonathan Silva, pela direção musical e trilha original de “Maria Auxiliadora”

Energia que vem da gente

Negócio Social Tereza, pelo trabalho realizado por egressas do sistema prisional em parceria com artistas teatrais para a confecção de figurinos em espetáculos como "Martinho, Coração de Rei - o Musical” e “Marrom, o Musical”

Destaque Nacional

“A Força da Água”, do Grupo Pavilhão da Magnólia, de Fortaleza (CE)

Homenagem do Ano

Seleção dos júris do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Destaque Nacional

Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz

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