Cearense Verónica Valenttino é a primeira mulher trans a ganhar o prêmio Shell de Melhor Atriz

Cerimônia aconteceu na noite desta terça-feira (21); desempenho no musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” fez dela pioneira na categoria

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Com a vitória, Verónica desbancou nomes como Laila Garin, Ana Lucia Torre e Clara Carvalho
Foto: Guilherme Pereira/ Divulgação

"Podemos, sim": pioneirismo cearense no Prêmio Shell de Teatro 2023. Verónica Valenttino foi eleita Melhor Atriz pelo júri São Paulo, tornando-se a primeira mulher trans a vencer na categoria. A artista desbancou nomes como Laila Garin, Ana Lucia Torre e Clara Carvalho em cerimônia ocorrida na noite desta terça-feira (21). Foi a primeira vez que o Shell abriu espaço para atrizes trans concorrerem à honraria.

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Verónica foi aclamada pela performance em “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, musical do Núcleo Experimental cuja estreia aconteceu de forma on-line durante a fase mais densa da pandemia de Covid-19. A versão presencial entrou em cartaz na capital paulista no ano passado contando a história da travesti Caetana, conhecida como Brenda Lee. 

Brenda se tornou um marco na luta por direitos LGBTQIAP+, e é reverenciada no espetáculo por uma equipe de peso: dramaturgia e letras assinados por Fernanda Maia; direção e figurinos por Zé Henrique de Paula; e música original e direção musical de Rafa Miranda. Ao todo, seis atrizes transvestigêneres integram o elenco.

Legenda: Talento de Verónica Valenttino atravessa vários trabalhos; neste, o "Cabaré das Travestidas"
Foto: Guilherme Pereira/ Divulgação

"É possível a todas as nossas travestis, as travestis que estão lá em Fortaleza, na minha terra. Elas hoje podem perceber que, sim, podem sonhar, e que não precisam ser putas", discursou a artista com o troféu na mão, em fala emocionante. "Não que seja um problema ser puta, mas é porque não vão prostituir os nossos corpos nem a nossa melhor porção, que é a nossa arte".

Luta e reflexão

No centro de "Brenda Lee e o Palácio das Princesas", estão a luta das travestis nas ruas de São Paulo, a escassez de oportunidades que as impele à prostituição, e o apoio dado por Brenda, que acolheu, na própria casa, as doentes de Aids numa época em que quase nada se sabia sobre a doença. 

"É muito importante ressaltar que a gente está mantendo viva uma memória", disse Verónica em entrevista ao Diário do Nordeste no ano passado. Na noite desta quinta-feira, ela reiterou: "Se quisermos estar aqui e vivermos de arte, podemos sim".

Legenda: Brenda Lee se tornou um marco na luta por direitos LGBTQIAP+, e é reverenciada no espetáculo por uma equipe de peso
Foto: Reprodução/Instagram

A atuação da cearense no espetáculo, inclusive, rendeu outro pioneirismo: ela foi a primeira travesti a vencer na categoria Melhor Atriz no prêmio Bibi Ferreira pelo mesmo papel, em 2022.

Na ocasião, festejou: “Ver o sucesso da peça e o reconhecimento do nosso trabalho – principalmente nesses tempos atuais, e a partir desse prêmio, o maior do teatro musical do Brasil – é incrível. É uma legitimação muito forte do nosso trabalho”.

Verónica Valenttino é natural de Fortaleza, e estudou Artes Cênicas no Instituto Federal do Ceará (IFCE). Começou a carreira em 2004. Tanto amor pela terra-natal a fez parafrasear Belchior ao término do discurso no Shell: "Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro. Travestis vivas!".

 

Lista completa dos vencedores do Prêmio Shell 2023

Seleção Rio de Janeiro

DRAMATURGIA
Henrique Fontes e Vinicius Arneiro por “Peça de Amar”
Gilson de Barros por “Riobaldo”
Cecilia Ripoll por “Pança”
Elisandro de Aquino por “Eu Amarelo”
Rodrigo Portella por “Ficções”
Marcio Abreu e Nadja Naira por “Sem Palavras” (VENCEDORES)

DIREÇÃO
Renata Tavares por “Nem Todo Filho Vinga” (VENCEDORA)
Enrique Diaz e Marcio Abreu por “O Espectador”
Rodrigo Portella por “Ficções”
Paulo de Moraes por “Neva”
Marcio Abreu por “Sem Palavras”
André Paes Leme por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”

ATOR
Reinaldo Junior por “O Grande Dia”
Milton Filho por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”
Cridemar Aquino por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia” (VENCEDOR)
Gilson de Barros por “Riobaldo”
Fábio Osório Monteiro por “Sem Palavras”
Mario Borges por “A Última Ata”

ATRIZ
Ana Carbatti por “Ninguém Sabe Meu Nome”
Vera Holtz por “Ficções” (VENCEDORA)
Vilma Melo por “Mãe de Santo”
Andrea Beltrão por “O Espectador”
Vitória Jovem Xtravaganza por “Sem Palavras”
Viní Ventania Xtravaganza por “Sem Palavras”

CENÁRIO
J.C. Serroni por “Morte e Vida Severina”
André Curti e Artur Luanda Ribeiro por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes” (VENCEDORES)
João Marcelino por “Candeia”
Bia Junqueira por “Ficções”
Cachalote Mattos por “Turmalina 18 - 50”
Marcio Meirelles por “Do Outro Lado do Mar”

FIGURINO
Wanderley Gomes por “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino” (VENCEDOR)
João Pimenta por “Ficções”
Ticiana Passos por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”
Julia Vicente e Gabriel Vieira por “Peça de Amar”
Marie Salles por “O Espectador”

ILUMINAÇÃO
Cesar de Ramires por “Morte e Vida Severina”
Artur Luanda Ribeiro por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”
Gabriel Fontes Paiva e André Prado por “Um Precipício no Mar”
Alexandre O. Gomes por “A Jornada de um Herói” (VENCEDOR)
Maneco Quinderé por “Neva”
Fernanda Mantovani por “Caim”

MÚSICA
Jorge Maya pela direção musical de “Luiza Mahin ... Eu Ainda Continuo Aqui”
Itamar Assiere pela direção musical de “Morte e Vida Severina” (VENCEDOR)
Chico César e Marcelo Caldi pela direção musical de “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”
Ananda K pela direção musical de “Candeia”
Claudia Elizeu e Wladimir Pinheiro pela direção musical de “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”
Azullllllll pela direção musical de “Cão Gelado”

Seleção São Paulo

DRAMATURGIA
Dione Carlos por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos” (VENCEDORA)

Soraia Costa por “Sete Cortes até Você”
Ronaldo Serruya por “A Doença do Outro”
Viviane Dias por “Tarsila ou A Vacina Antropofágica”
Lucas Moura por “Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar”
Paola Prestes por “Bata Antes de Entrar”

DIREÇÃO
Miguel Rocha por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”
Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio por “O Método Grönholm”
Ruy Cortez e Marina Nogaeva Tenório por “A Semente da Romã” e “As Três Irmãs” (VENCEDORES)
José Fernando Peixoto de Azevedo por “Um Inimigo do Povo”
Janaina Leite por “A História do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-noir”
Rogério Tarifa por “O Que Nos Mantém Vivos?”

ATOR
Clayton Nascimento por “Macacos” (VENCEDOR)
Paulo Marcello por “O Fazedor de Teatro”
Rodrigo Pandolfo por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”
Luis Lobianco por “O Método Grönholm”
Odilon Wagner por “A Última Sessão de Freud”
Zécarlos Machado por “Papa Highirte”

ATRIZ
Verónica Valenttino por “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” (VENCEDORA)

Assucena por “Mata Teu Pai – Ópera Balada”
Ana Lucia Torre por “Longa Jornada Noite Adentro”
Sara Antunes por “Anjo de Pedra”
Clara Carvalho por “Um Inimigo do Povo”
Laila Garin por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”

CENÁRIO
Fabio Namatame por “A Última Sessão de Freud”
Daniela Thomas e Felipe Tassara por “Molly Bloom”
Bira Nogueira por “Meu Reino por um Cavalo” (VENCEDOR)
Luiz André Charubine e Mandy por “Pérsia”
Zé Henrique de Paula por “Sweeney Todd”
Chris Aizner por “Outono, Inverno ou O Que Sonhamos Ontem”

FIGURINO
Claudia Schapira por “Na Solidão dos Campos de Algodão”
Marichilene Artisevskis por “Mary Stuart”
Karen Brusttolin por “Gaslight, uma Relação Tóxica”
Anne Cerutti por “Consentimento”
João Pimenta por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)” (VENCEDOR)
Silvana Marcondes por “Nzinga”

ILUMINAÇÃO
Wagner Pinto por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”
Cesar Pivetti por “Brilho Eterno” (VENCEDOR)
Aline Santini por “Na Solidão dos Campos de Algodão”
Cibele Forjaz por “Altamira 2042”
Wagner Antonio por “Com os Bolsos Cheios de Pão”
Wagner Freire por “Mary Stuart”

MÚSICA
Marco França pela direção musical de “Tatuagem”
Tom Zé e Maria Beraldo pela música de “Língua Brasileira”
Alisson Amador, Amanda Abá, Denise Oliveira e Jennifer Cardoso pela execução musical em “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos” (VENCEDORES)
Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva pela direção musical de “Hip Hop Blues”
Felipe Botelho, Amanda Ferraresi, Guina Santos, Caê e Wallie Ruy pela execução musical em “Wonder – Vem pra Barra Pesada”
Dan Maia pela música de “Tebas”

 

 

 

 

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