Ceará é o 3º estado do Brasil com mais data centers; confira ranking

Empreendimentos projetados para processar, armazenar e distribuir grandes volumes de dados

Escrito por
Bruno Leite bruno.leite@svm.com.br
(Atualizado às 18:28)
Data center na região da Praia do Futuro, em Fortaleza, cidade onde estão concentrados 12 instalações do tipo
Legenda: A maioria dos empreendimentos está na Praia do Futuro, na Capital
Foto: Divulgação / Governo do Ceará

O Ceará se notabilizou como um dos principais destinos para a implantação de data centers entre os estados brasileiros, sendo o principal na região Nordeste. Ao todo, estão instaladas em território cearense 12 infraestruturas do tipo, todas situadas na Capital.

A informação é da plataforma Data Center Map, que registra aspectos sobre esse mercado. Os data centers são centros de processamento de dados que abrigam equipamentos de computação, como servidores e sistemas de armazenamento, além de redes de comunicação e infraestrutura de suporte.

O levantamento mostra que Fortaleza abriga empresas nacionais e estrangeiras, entre elas: Angola Cables, Ascenty Data Centers, Hostweb, IPXON Networks, Lumen, ProveNET Internet Services, Scala Data Centers, Tecto Data Centers e Ultranet Telecom. Algumas dessas companhias operam mais de um data center na cidade.

A maioria está localizada nas imediações da Praia do Futuro. Mas a plataforma menciona, na área de influência de Fortaleza, o data center da empresa Casa dos Ventos, em implantação na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no município de Caucaia, na Região Metropolitana.

Esses empreendimentos são projetados para processar, armazenar e distribuir grandes volumes de dados, sendo essenciais para o funcionamento de serviços online.

  

Por que o Ceará se destaca neste mercado? 

A predileção dos investimentos em data centers pelo Ceará está relacionada com a concentração de cabos submarinos de fibra óptica ao nível mundial. Nesse cenário, Fortaleza se destaca como o segundo principal ponto focal dessas conexões em todo o globo, ficando atrás somente de Shima, no Japão. 

Conforme informações da Empresa de Tecnologia e Informação do Ceará (Etice), vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado, em fevereiro de 2023, Fortaleza concentrava 18 cabos submarinos de dados.

Ao lado de Fujairah (Arábia Saudita) e de Singapura, a capital alencarina constitui a maior conectividade de dados por meio submarino. Essa infraestrutura, que conecta o Brasil à América do Norte, Europa e África, fez da cidade um ponto estratégico para empresas de tecnologia interessadas em baixa latência e alta conectividade.

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Ao Diário do Nordeste, o professor José Maria da Silva Monteiro Filho, do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), descreveu que “a consequência direta desse hub de cabos submarinos é a construção de data centers para o fornecimento de serviços usados na internet”.

Segundo o professor, torna-se viável tanto o consumo de massa — para streaming e redes sociais — quanto o consumo de nicho — como serviços financeiros. “Dessa forma, uma empresa consegue replicar no território nacional seu serviço, com risco do investimento controlado”, continuou, destacando ainda a busca por mão de obra qualificada.

E, devido à atratividade do Ceará para esses investimentos, projetos futuros para o transporte de bilhões de dados e informações, a exemplo do Waterworth, da Meta (big tech detentora de plataformas digitais como Instagram, WhatsApp Facebook), são considerados.

Ele ainda mencionou pontos negativos destas instalações, em especial o impacto para o meio ambiente. “Os data centers têm migrado para o foco em serviços com uso de inteligência artificial, logo esse novo contexto requer uma escala maior de consumo energético”, pontuou.

O docente também falou da busca por “soluções para resfriamento desses equipamentos”, já que o consumo energético aumenta. “Importante destacar que tanto a demanda energética quanto o arrefecimento fazem parte do custo de operação, logo as empresas buscam soluções que visem otimizar esses recursos”, ponderou.

Brasil tem 186 data centers, com São Paulo liderando o ranking

No Brasil, de acordo com o levantamento, existem 186 data centers. Entre os estados, a maior concentração está em São Paulo. Na unidade da Federação, os empreendimentos estão distribuídos entre a capital paulista (64), Campinas (19), Tamboré (8), Cravinhos (1), Ribeirão Preto (1) e São José do Rio Preto (1).

Em seguida, na segunda posição no ranking de estados concentradores dessas instalações tecnológicas está o Rio de Janeiro, que possui 25 data centers distribuídos pela capital fluminense. E, logo após o Ceará, no quarto lugar, está o Rio Grande do Sul, com 11, concentradas em Porto Alegre (10) e Santa Maria (1).

Paraná (9), Minas Gerais (8), Distrito Federal (7), Santa Catarina (6), Espírito Santo (3), Pernambuco (3), Amazonas (2), Paraíba (2), Goiás (1), Piauí (1), Sergipe (1) e Tocantins (1) aparecem na listagem da Data Center Map nas posições seguintes. 

O que esperar do mercado nos próximos anos

No último dia 18 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou, durante a visita que fez ao Ceará, uma medida provisória que obriga o uso exclusivo de energia renovável em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) em todo o País. 

A iniciativa deve impulsionar a instalação da Casa dos Ventos na ZPE Ceará e outros negócios futuros. Na ocasião, Lula afirmou que tomou a decisão que o estado “consiga ser o primeiro estado a ter um data center de grande porte e sirva de estímulo para outros estados fazerem a mesma coisa”.

O estímulo se deve porque o Brasil, sobretudo o Nordeste, é reconhecido pela abundância de fontes renováveis. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) indica que os estados nordestinos, juntos, têm uma potência outorgada de 40,7 milhões de kW de energia solar e eólica. Em todo o país são 51,9 milhões de kW outorgados por essas fontes.

A oferta de fornecimento elétrico se apresentava como um entrave para a concretização do empreendimento na Região Metropolitana de Fortaleza. Em abril, se tornou pública a negativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para ligação da Casa dos Ventos na rede elétrica nacional.

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Para ampliar a competitividade, o Governo Federal tem planos para lançamento da Política Nacional de Data Centers, que prevê um regime especial para conceder vantagens tributárias para grandes empresas. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera-se mobilizar R$ 2 trilhões em investimentos em dez anos.

A gestão ainda realiza uma consulta pública para criação da Política Nacional de Cabos Submarinos. Segundo o Ministério das Comunicações, a iniciativa “busca fortalecer a infraestrutura digital brasileira, ampliar a conectividade em regiões carentes” e “posicionar o Brasil como protagonista no cenário global das telecomunicações”.

Os planos nacionais convergem com os do BRICS, que planeja um estudo de viabilidade para uma rede de comunicação de alta velocidade por meio de cabos submarinos ligando os membros do bloco. A ideia, incluída na Declaração Final da 17ª Reunião de Cúpula, realizada em julho, é reduzir a dependência de países do Norte Global. 

O que é um data center

Um data center, conhecido também como centro de processamento de dados, é uma instalação destinada ao armazenamento e processamento massivo de informações digitais.

Nele, uma infraestrutura robusta composta por servidores, dispositivos de armazenamento e demais equipamentos de rede processa grandes volumes de dados, desde transações financeiras a conteúdos multimídia. 

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