YouTube exclui canal 'Bel para Meninas' e influenciadora anuncia protesto na Faria Lima, em SP

Jovem foi uma das citadas pelo youtuber Felca em vídeo sobre a "adultização" de crianças na internet

Escrito por
Paulo Roberto Maciel* paulo.maciel@svm.com.br
(Atualizado às 16:48)
Mulher com boné branco com escrito #JUSTIÇA e camiseta vermelha, ao fundo, uma pessoa segurando cartaz que diz 'YouTube não apague a nossa história', em campanha por justiça social.
Legenda: Jovem ficou famosa na internet ao produzir vídeos infantis desde os cinco anos
Foto: Reprodução/Redes Sociais

A jovem Bel Peres, de 18 anos, conhecida por gravar vídeos para a internet desde criança, anunciou um protesto em frente à sede da Google no Brasil, na avenida Faria Lima, em São Paulo, nesta sexta-feira (29). O ato seria uma resposta à remoção do canal dela, "Bel para Meninas", pelo YouTube nesta semana.

Bel utilizou as redes sociais para convocar os fãs para o movimento. No vídeo, ela utiliza um boné com a hashtag "#Justiça" e uma camiseta escrito "Salve Bel para Meninas". Ao final, ela mostra um cartaz contra a decisão do YouTube e afirma que tudo se trata de um "protesto pacífico por justiça".

Confira vídeo da Bel Peres:

Na legenda, a jovem diz estar "perdendo tudo" e cobra direitos. "Sozinha, eles não vão me ouvir. Mas com vocês… vocês são minha força, minha base. Com vocês e com a mídia eles vão ter que dar atenção a esse equívoco, a essa injustiça", escreveu.

O nome de Bel voltou a repercutir nas redes sociais após ela anunciar que o YouTube removeu o canal dela de circulação. A justificativa dada pela plataforma, segundo ela, é relacionada a denúncias de violação de diretrizes sobre conteúdo que envolva a sexualização de menores.

“Eu achei que fosse brincadeira, mas não é. Meu canal foi removido. Não tem nenhum conteúdo inapropriado, nunca falei coisa errada. Eu era uma criança e depois uma adolescente normal para a minha idade. Sempre segui as regras", desabafou Bel em um vídeo publicado na última terça-feira (26).

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Remoção aconteceu após vídeo de denúncia de Felca

O canal "Bel para Meninas" foi um dos citados pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, em vídeo sobre a "adultização" de crianças e adolescentes na internet. No material, ele relembra trechos de vídeos antigos da Bel ainda criança, em que ela aparenta estar desconfortável com as gravações.

Em um dos trechos, a mãe de Bel força a filha a experimentar uma comida com gosto ruim. A criança diz que não quer comer e quase vomita ao provar o alimento. Já em outro recorte, a jovem demonstra medo ao contrariar a mãe sobre a decisão de qual mochila ela utilizaria na volta às aulas.

Confira o pronunciamento da Bel:

Devido à repercussão do vídeo do Felca, Bel veio a público defender os pais e classificar o assunto como uma "campanha de difamação" contra a família dela.

O mesmo desejo que eu tinha com dois anos de idade é o mesmo que eu tenho agora com 18. [...] A internet me proporcionou muitas coisas boas. [...] Eu tive uma infância muito, muito boa. Óbvio que não foi algo legal a fake news, mas vocês têm que entender que eu teria outros tipos de trauma, todo mundo tem, a vida não é perfeita. E quem falhou comigo não foram os meus pais.
Bel Peres
Em vídeo no TikTok

Bel ainda afirmou, sobre os pais, que “se não tivessem me apoiado na carreira da internet, hoje em dia eu ia ser uma desempregada sem vocação. Para você ser famoso hoje em dia e ganhar visibilidade é muito difícil. Então começar lá no início foi a melhor coisa, e eu não trocaria por nada”.

Quem é 'Bel para Meninas'?

Criado no início dos anos 2010, "Bel para Meninas" registrou, por mais de 10 anos, o crescimento de Isabel Peres Magdalena desde os cinco anos. O canal era comandado pela mãe, Francinete Peres, e mostrava o dia a dia da menina, além de produzir brincadeiras e desafios.

A aposta da família de Bel em construir conteúdos infantis no YouTube dando protagonismo para as crianças deu certo. O canal chegou a superar a marca de sete milhões de inscritos e 50 milhões de visualizações mensais na plataforma, tornando-se um dos principais produtores na categoria kids em watchtime (tempo de visualização).

Em 2020, Bel se tornou o centro de uma grande polêmica na internet após usuários resgatarem clipes antigos do canal - os mesmos utilizados por Felca - para questionar se a jovem, que na época já era adolescente, se sentia confortável em gravar a própria vida.

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O assunto foi um dos mais comentados do, então, Twitter, principalmente após ser levantada a hashtag #SalvemBelparaMeninas. A repercussão foi tamanha que o Conselho Tutelar e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foram notificados para averiguar o caso.

Na época, uma equipe chegou a visitar a residência da família Peres para averiguar denúncias de violência psicológica e recebeu vídeos onde a criança aparecia desconfortável com algumas brincadeiras da mãe, como quebrar o ovo na cabeça da filha ou dizer à menina que ela seria adotada.

Bel minimiza preocupação dos fãs

Apesar das denúncias massivas feitas por internautas, nenhuma ação contra a família de Bel foi protocolada na Justiça. No mesmo depoimento sobre a participação dela no vídeo do Felca, Bel relembrou esse período e minimizou a preocupação dos fãs.

“‘Não, Bel, mas se não fosse verdade o Conselho Tutelar não ia na sua casa’. Gente, tem criança vendendo bala na rua e o Conselho Tutelar não vai lá. Eles estavam muito ocupados protegendo uma menina super privilegiada, com a família maravilhosa, tudo em dia, notas boas", disse.

Já no pronunciamento publicado nessa quinta-feira, o mesmo em que convoca o público para o protesto na Faria Lima, a jovem voltou a dizer que sempre teve autonomia para produzir conteúdos.

"É importante deixar registrado que jamais fui forçada ou obrigada a gravar vídeos. Em todas as gravações é possível constatar a minha felicidade e espontaneidade, pois gravar sempre foi a minha atividade favorita. Sinto uma grande indignação ao ouvir insinuações contrárias, já que é incoerente afirmar que eu era obrigada a realizar justamente aquilo que mais me faz feliz", finalizou.

*Estagiário sob supervisão da jornalista Mariana Lazari

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