Quais os espaços culturais mais conhecidos e frequentados de Fortaleza? Veja ranking

Pesquisa selecionou dez espaços culturais de cada capital para avaliar o quanto são conhecidos; em Fortaleza, equipamentos no Centro lideram preferência da população

Escrito por
Diego Barbosa diego.barbosa@svm.com.br
Na imagem, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Legenda: Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi apontado por 76% dos entrevistados como o principal equipamento cultural de Fortaleza
Foto: Ismael Soares

Estar em uma cidade sem mergulhar na cultura é desperdício de prazer e conhecimento. Dito isto, para onde você vai em Fortaleza quando quer se alimentar de arte? A pesquisa “Cultura nas Capitais” aponta pistas. Realizado pelo Ministério da Cultura, JLeiva, Itaú e Instituto Cultural Vale em parceria com a Fundação Itaú, o levantamento elegeu o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura como o mais conhecido e frequentado pela população fortalezense.

O número é expressivo: 76% dos entrevistados afirmaram que conhecem e já foram ao equipamento, enquanto 19% conhece e nunca foi, e apenas 5% não conhece. Na sequência, quem aparece é Theatro José de Alencar (67%), Cineteatro São Luiz (51%), Biblioteca Pública Estadual do Ceará (38%) e Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (19%).

A pesquisa perguntou a todos os entrevistados qual espaço cultural eles mais frequentam na capital onde moram. A resposta era aberta – as pessoas poderiam citar qualquer local. Em Fortaleza, foram nomeados 91.

Além dos já citados, aparecem recantos como Espaço Cultural Unifor, Centro Cultural Canindezinho, Mercado dos Pinhões, Centro Cultural Banco do Nordeste, além de lugares indefinidos, a exemplo de praças, bares, quadras e escolas.

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Abaixo, você confere o ranking completo com os principais equipamentos eleitos:

  1. Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (76% conhece e já foi, 19% conhece, mas nunca foi, 5% não conhece)
  2. Theatro José de Alencar (67% conhece e já foi, 29% conhece, mas nunca foi, 5% não conhece)
  3. Cineteatro São Luiz (51% conhece e já foi, 33% conhece, mas nunca foi, 16% não conhece)
  4. Biblioteca Pública Estadual do Ceará (38% conhece e já foi, 34% conhece, mas nunca foi, 28% não conhece)
  5. Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (19% conhece e já foi, 38% conhece, mas nunca foi, 44% não conhece)
  6. Caixa Cultural Fortaleza (14% conhece e já foi, 24% conhece, mas nunca foi, 62% não conhece)
  7. Vila das Artes (13% conhece e já foi, 33% conhece, mas nunca foi, 54% não conhece)
  8. Pinacoteca do Ceará (11% conhece e já foi, 31% conhece, mas nunca foi, 58% não conhece)
  9. Centro Cultural Bom Jardim (10% conhece e já foi, 22% conhece, mas nunca foi, 69% não conhece)
  10. Casa de Juvenal Galeno (7% conhece e já foi, 27% conhece, mas nunca foi, 66% não conhece)

Espaços que se relacionem com o público

“Acredito que é valiosa para uma cidade a diversidade de equipamentos e atividades culturais, o que gera a possibilidade de atender a um maior número de pessoas com programações diversas, capazes de dialogar com múltiplas expressões da arte e da cultura”, situa Francis Wilker, diretor, curador e professor do Instituto de Cultura e Arte da UFC.

Não à toa, para ele é fundamental pensar em como a gestão dos equipamentos pode criar estratégias de diálogo com os territórios e, assim, desenvolver linhas de curadoria mais assinaladas, com possibilidade de ampliação dos próprios públicos. “Podemos pensar que cada espaço pode ter uma identidade e se relacionar com determinado segmento”, diz.

Na imagem, o Theatro José de Alencar
Legenda: Conforme pesquisa, 67% dos entrevistados conhecem e frequentam o Theatro José de Alencar
Foto: Fabiane de Paula

“Existem espaços que carregam uma carga histórica e simbólica que ajudam a contar a história da vida cultural do próprio Estado, como o Cineteatro São Luiz e o Theatro José de Alencar. Analisar como trazer à fala essas camadas de memórias impregnadas naquelas paredes pode também ser um interessante vetor de curadoria"
Francis Wilker
diretor, curador e professor do Instituto de Cultura e Arte da UFC

Ele cita o Mauc-UFC como exemplo de equipamento que consegue, ao mesmo tempo, olhar para dentro e para fora do Ceará. Se, por um lado, as salas de exposições permanentes valorizam e reconhecem artistas do Estado, por outro criam exposições com obras de outros artistas e geografias, ampliando a experiência com as artes e desenvolvendo um programa educativo com continuidade.

Por que o Dragão do Mar é tão lembrado

Questionado sobre por quais motivos o Centro Dragão do Mar desponta como mais lembrado e frequentado pela população de Fortaleza, Francis aposta no fato de o lugar ter algo fundamental para o vínculo com a cidade: a ação continuada, ou seja, a permanência da oferta de programação cultural que se inscreve no imaginário das pessoas.

Além disso, na visão dele, é um centro que opera com diversas linguagens artísticas, o que amplia a capacidade de mobilizar públicos. De igual modo, a arquitetura também se inscreve como elemento atrativo – ela mesma um ícone da paisagem da Capital, espécie de símbolo vinculado à cultura e ao turismo.

“Diria que essa identidade está para além do Ceará. Em outros Estados é comum esse equipamento cultural ser uma referência”.

Na imagem, o Cineateatro São Luiz
Legenda: Cineateatro São Luiz foi um dos eleitos pela própria população de Fortaleza como um dos mais importantes equipamentos culturais da cidade
Foto: Kiko Silva

Artista e pesquisadora, docente dos cursos de  dança e do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFC, Thereza Rocha, por sua vez, considera que tempo, continuidade e consistência são fatores fundamentais em qualquer política pública de cultura, e o Dragão tem que ser isto: uma política de cultura, não somente um equipamento cultural que compra e exibe programação. 

“Ao longo dos anos a continuidade e a consistência foram se constituindo, e a cidade, então, tomou o centro cultural para chamar de seu a ponto de referir-se ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura carinhosa e resumidamente como ‘Dragão’”, contextualiza a estudiosa.

Conhecer para saber

Apesar dos significativos números da pesquisa, há que se considerar um fato inconveniente: ainda há muitos espaços culturais de Fortaleza desconhecidos ou quase nunca frequentados por boa parte da população – caso de recantos como a Casa de Juvenal Galeno, o Centro Cultural Bom Jardim e a Pinacoteca do Ceará.

Como esse não-conhecimento impacta não apenas na cultura das pessoas, mas também na forma de aproveitamento dos diferentes lugares da cidade? Thereza Rocha tem um ponto. “Eu implico um pouco com a ideia de ‘Centro’, sabe? Abro uma única exceção para o CCBJ e os CUCAS, que se chamam centro e estão na periferia. Em termos da produção e do consumo de arte e cultura, estão literalmente na periferia da capital”, analisa.

Na imagem, a Casa de Juvenal Galeno
Legenda: Fachada da Casa de Juvenal Galeno, no Centro de Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

“Parte dessa perversa lógica será revertida quando os orçamentos dos equipamentos de cultura forem equiparados independentemente se centrais ou periféricos. A memória das pessoas de Fortaleza em relação a seus lugares de arte e cultura situados e pertencentes às bordas da cidade é diretamente proporcional ao quanto desejamos lembrar deles”.

Francis Wilker, por outro lado, acredita que a avaliação da operação de um equipamento cultural não pode ser analisada sem olharmos o contexto maior das dinâmicas da cidade para além do âmbito de gestão de uma secretaria de cultura, por exemplo. É preciso pensar a inscrição desses espaços e programações a partir da aplicação de políticas multissetoriais

“Como é a mobilidade urbana em Fortaleza? Como os diferentes bairros podem acessar certos equipamentos em diferentes horários? Como a segurança pública ou a falta dela impacta a nossa visita a determinado espaço? Como as políticas de educação consideram o campo da arte e da cultura e a relação com os equipamentos culturais? Como podemos ver, não basta ter o equipamento cultural e uma programação, diversos outros aspectos interferem na relação com os espaços”, tensiona.

Na imagem, o Centro Cultural Bom Jardim
Legenda: Centro Cultural Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, também foi mapeado na pesquisa
Foto: Ismael Soares

“Além disso, é preciso continuidade e tempo para pertencer aos imaginários. A Pinacoteca, o MIS e a Estação das Artes são os equipamentos mais recentes da cidade e oferecem programação de excelência. Não tenho dúvidas sobre o modo como trabalho continuado e programação de qualidade, bem como ampliação das estratégias de diálogo com diferentes públicos e escolas, farão desses equipamentos ícones da paisagem das artes na capital”.

Na visão do pesquisador, o desafio está em ampliar e fortalecer os equipamentos culturais em outros bairros, sobretudo nas periferias, e conseguir articulá-los numa ideia de circuitos de produção e difusão. Para isso, cita o Centro Cultural Bom Jardim, “equipamento de muita qualidade, com interesse na formação, criação e difusão, e que transforma realidades”. 

“Minha expectativa atual é de que os Cucas possam ganhar um novo sentido com a nova gestão do município, e serem fortalecidos no papel que cumprem em cada território”, torce.

Manter a importância

Haja vista a relevância dos espaços culturais para o cotidiano da capital cearense, várias medidas devem ser avaliadas como modo de preservar o legado e assegurar o prosseguimento das ações deles em nosso meio. Uma perspectiva importante, conforme Thereza Rocha, é melhorar a performance nas redes sociais. 

“Deixar de encará-las como meio de divulgação e promoção, afinal MacLuhan já disse que o ‘meio é a mensagem’, e isso há mais de 50 anos. É o caso de entendê-las também como ‘centros de arte e cultura’. Quando digo isso, não se trata de disputar narrativas ou substituir o lixo produzido por influencers, coachs e especialistas de internet. É o caso de pensar a atuação nas redes sociais também ela como política pública de arte e cultura”, sustenta.

Na imagem, a Caixa Cultural Fortaleza
Legenda: Para pesquisadora, várias medidas devem ser avaliadas como modo de assegurar o prosseguimento das ações dos equipamentos culturais em nosso meio
Foto: Fabiane de Paula

Outra medida apontada pela professora seria trabalhar a partir de corredores culturais e roteiros mediados com acesso gratuito a transporte de qualidade levando em conta um trabalho de mediação iniciado ali mesmo. “Vamos pedir ao Silvero Pereira, à Renata Saldanha, ao Mateus Fazeno Rock, à Amelinha, ao Fausto Nilo, ao Leo Suricate, um mapa de sua Fortaleza em termos de arte e cultura, um roteiro psicogeográfico que possa ser percorrido pelas pessoas”, sugere.

“Há muitas iniciativas possíveis. Há que se acreditar que é possível sonhar com a cidade onde queremos viver. É mais que urgente que a cidade passe de partida à partilha”.

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