Com protagonismo feminino e amplo acervo de Ariano Suassuna, Espaço Cultural Unifor abre três exposições
Mostra "Armorial 50" e exposições individuais das fotógrafas Delfina Rocha e Jane Batista podem ser conferidas pelo público a partir desta sexta-feira (21)
Uma celebração à arte feita no Nordeste ontem e hoje. Assim pode-se resumir a nova temporada de exposições do Espaço Cultural Unifor, inaugurada nesta quinta (20) em cerimônia para convidados e aberta ao público nesta sexta-feira (21). Ao todo, o equipamento recebe três novas exposições, duas individuais e uma coletiva, que seguem em cartaz até 29 de junho.
Durante a abertura das exposições, a presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, destacou a importância das novas mostras, que trazem contribuições valorosas para o cenário das artes visuais da Cidade.
"Hoje celebramos não apenas a abertura de três exposições extraordinárias, mas também reafirmamos um compromisso que há décadas move as nossas ações: a valorização da arte e da cultura como pilares essenciais da educação e da formação humana", ressaltou.
Parte do projeto Trajetórias Artísticas Unifor, que reconhece e projeta artistas cearenses ou cuja produção é feita no Ceará, duas das mostras trazem o olhar feminino como protagonista na fotografia: “Imagens em trânsito: memória, fotografia e identidade”, da fotógrafa cearense Delfina Rocha, e “Um oceano dentro de mim”, de Jane Batista, fotógrafa e poeta piauiense radicada no Ceará.
Nessas exposições, os processos curatoriais foram conduzidos por Alexandre Sequeira (Imagens em Trânsito) e Aldonso Palácio (Um Oceano Dentro de Mim) e contam duas histórias bem diferentes, mas que dialogam no debate sobre identidade, território e memória.
De um lado, há uma investigação pessoal de Delfina, cuja exposição é uma espécie de álbum de família que passeia por temas como a infância, os laços afetivos construídos durante os anos de formação e a busca pela ancestralidade.
Parte da mostra faz um paralelo entre as lembranças que a autora tinha da casa onde morou quando criança e o estado atual do imóvel, numa investigação sobre o que é real e o que é ficção, o que é lembrado e o que é esquecido ao longo da vida.
“Apesar de ser uma casa [que foi] minha, da minha intimidade, reverbera muito nas pessoas, porque todo mundo teve uma casa, aquele espaço familiar onde vai se desenvolvendo. Então, acaba sendo parte de um universo coletivo”, declarou.
De outro lado, há Jane, que começou a fotografar o cotidiano no Titanzinho, onde vive, há cerca de cinco anos, com o celular, e desde então vem se “descobrindo” artista – não só para o público, mas dentro de si.
Entre autorretratos e imagens que retratam o cotidiano de pescadores e outros moradores da região, a artista propõe uma reflexão político-afetiva sobre a luta pela permanência dos moradores na região e pela proteção do meio ambiente, além de destacar os laços familiares e de amizade que ali se fortalecem.
“Guardo esses momentos, que fico registrando na praia, pela minha sobrevivência, pela sobrevivência de todos nós que não queremos sair de onde estamos, pela sobrevivência dos animais – os peixes – e pela sobrevivência do próprio mar. Faço esses registros observando todas as mudanças e procuro olhar coisinhas pequenininhas, mesmo, que às vezes passam despercebidas pelas pessoas”, comentou.
Lenise Queiroz Rocha destacou que esta edição do projeto Trajetórias Artísticas busca formar novos públicos e diálogos e celebrar “a potência das mulheres no mundo das artes e a fotografia como expressão artística”.
Lenise comentou que, ao visitar a exposição de Delfina, deparou-se com memórias de sua própria história. “Quando vejo essas imagens, não apenas admiro a sensibilidade da artista, mas também me reencontro com lembranças que marcaram a minha vida, pois aquela casa, hoje retratada, era da família do meu esposo, Cláudio Rocha, irmão de Delfina”, contou. “A arte tem esse poder: ela resgata o que pensamos ter perdido e nos devolve fragmentos de nós mesmos”, completou.
Para a presidente da Fundação, a poética visual de Jane Batista traz uma forte mensagem. “Com sua câmera de celular, Jane nos mostra que a arte transcende barreiras, sejam geográficas, sejam materiais, porque a arte mora dentro do artista”, declarou.
Armorial 50: das obras-primas de Ariano aos ecos do movimento pelo Nordeste
A terceira exposição inaugurada nesta quinta-feira é a mostra “Armorial 50”, que recebeu mais de 420 mil visitantes e encerra a etapa Nordeste da mostra itinerante. Uma homenagem a Ariano Suassuna e o movimento cultural que ele idealizou em 1970, a exposição possui 140 obras expostas, que incluem trabalhos de artistas como Ariano e Zélia Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico, J. Borges e a cearense Côca Torquato.
Há, ainda, uma sala dedicada a tradições populares como o maracatu de baque solto, o reisado e o folguedo. Segundo a curadora da mostra, Denise Mattar, o período de exibição também contará com recitais, debates, palestras com os curadores e outras atividades interativas que demonstram a relevância e a atualidade do Movimento Armorial.
A mostra “Armorial 50” é idealizada por Regina Rosa de Godoy e conta com a consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior. O projeto tem patrocínio oficial da Petrobras e é realizado pelo Ministério da Cultura (MinC), por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
“Ariano era uma pessoa que defendia a nordestinidade – hoje até está se começando a fazer isso de novo, mas na época de Ariano, não. Na época de Ariano, pelo contrário, você ser nordestino era uma coisa pejorativa. E era contra isso que ele se insurgia, querendo mostrar que não, que o Nordeste tinha uma raiz muito importante que estava na origem do Brasil”, destacou Denise.
A chegada da mostra em Fortaleza inclui peças exclusivas, como rabecas do Mestre Salustiano, e obras que dialogam com o Ceará, a exemplo de uma pintura e uma escultura de Côca Torquato e um tríptico de Gilvan Samico que retrata o Padre Cícero Romão. Essa troca, apontou Denise, também faz parte da história de Ariano, que nasceu em João Pessoa (PB), mas foi criado em Taperoá, no Cariri paraibano.
“Como ele foi criado em Taperoá, que é o sertão do Cariri, todas as referências do Ariano são sempre muito parecidas com as coisas aqui do Ceará, porque ele está se falando desse mesmo sertanejo resiliente, que consegue tirar a beleza do nada”, concluiu.
Serviço
Projeto Trajetórias Artísticas Unifor: Delfina Rocha – “Imagens em Trânsito: Memória, Fotografia e Identidade” e Jane Batista – “Um Oceano Dentro de Mim”
Onde: Espaço Cultural Unifor (av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz)
Visitação: de terças a sextas, 9h às 19h; sábados e domingos, 12h às 18h
Palestra com artistas e curadores: 25 de fevereiro, às 9h30, no Núcleo Diálogos (piso superior do Espaço Cultural Unifor)
Acesso gratuito
Exposição “Armorial 50”
Onde: Espaço Cultural Unifor (av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz)
Visitação: de terças a sextas, 9h às 19h; sábados e domingos, 12h às 18h
Palestra com artistas e curadores: 21 de fevereiro, às 9h30, no Núcleo Diálogos (piso superior do Espaço Cultural Unifor)
Acesso gratuito