Ator Carlos Francisco celebra projetos no cinema cearense e pernambucano

Homenageado da 19ª CineBH participa de produções como “Morte e Vida Madalena” (CE) e “O Agente Secreto” (PE)

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 11:25)
Mineiro Carlos Francisco fala sobre presença em produções do Ceará
Legenda: Mineiro Carlos Francisco fala sobre presença em produções do Ceará
Foto: Leo Lara / Divulgação

Não é de hoje que os cinemas do Ceará e de Minas Gerais se “visitam” mutuamente e é a partir desse histórico que desponta uma das presenças que melhor simboliza essa relação: a do ator mineiro Carlos Francisco, homenageado da 19ª CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte.

Com participação especial na comédia “Morte e Vida Madalena” — que será exibida no Cine Ceará nesta sexta-feira (26) e na CineBH no sábado (27) — e destaque em “Estranho Caminho” (2023), ambos do cearense Guto Parente, o artista irá compor os novos trabalhos de Luciana Vieira e Allan Deberton no Estado.

Além das produções do Ceará, Carlos também está em “O Agente Secreto” (2025), do pernambucano Kleber Mendonça Filho, com quem repete parceria após “Bacurau” (2019). Em entrevista ao Verso, o ator celebra as parcerias com cineastas do Ceará e Pernambuco e avalia o cenário descentralizado da produção audiovisual nacional.

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Relação de “admiração e amizades”

É assim que Carlos define a relação com o Ceará. O início dela, ele explica, ocorreu quando o cineasta Guto Parente trabalhava na montagem do longa mineiro “No Coração do Mundo” (2019), de Gabriel e Maurílio Martins, ao lado dos diretores.

A relação entre os realizadores remonta ao curta “Meu Amigo Mineiro”, de 2012, codirigido por Gabriel e Victor Furtado e também montado por Guto. 

“Algum tempo depois (de ‘No Coração do Mundo’), me convidou a integrar o elenco de ‘Estranho Caminho’, filme também importante em minha trajetória. Se iniciava assim minha relação cinematográfica com o Ceará”, narra Carlos.

Carlos Francisco em cena no longa 'Estranho Caminho', de Guto Parente
Legenda: Por "Estranho Caminho", do cearense Guto Parente, Carlos Francisco venceu prêmios de atuação no Rio de Janeiro e em Nova Iorque
Foto: Divulgação

O premiado longa cearense que marca a estreia da relação dele com a produção cearense acompanha um jovem cineasta (Lucas Limeira) que retorna à cidade natal em meio à pandemia e se vê obrigado a se reconectar com o pai, vivido pelo mineiro.

Pelo papel, ele recebeu os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante no Festival do Rio e de Melhor Performance Estrangeira no Festival de Tribeca, em Nova Iorque.

“Guto, além de um grande diretor, se tornou um amigo querido. É sempre muito bom trabalhar com ele e a equipe que lhe cerca", ressalta. A lista é grande:

"A produtora Ticiana Augusto Lima, a fotógrafa Linga Acácio, o fotógrafo Ivo Lopes, a diretora de arte Taís Augusto, pra citar alguns dos amigos que fiz a partir dos trabalhos com Guto Parente, um diretor criativo que conduz o set com muita generosidade”
Carlos Francisco
ator

A parceria se repetiu em “Morte e Vida Madalena”, novo longa do cineasta cearense. Nele, destaca o ator, “não foi diferente”, ainda que a participação seja mais pontual.

A obra, protagonizada pela atriz Noá Bonoba, acompanha uma produtora de cinema grávida de oito meses que precisa lidar com a morte do pai e a produção caótica de uma ficção científica.

Ainda inédito nas salas, o longa venceu o troféu da crítica no 58º Festival de Brasília, ganha exibição especial no Cine Ceará nesta sexta (26) e compõe a mostra em homenagem a Carlos Francisco na CineBH no sábado (27).

Ator de cinematografias descentralizadas

Aos 64 anos, Carlos Francisco tem colhido as principais repercussões pelo trabalho no cinema na última década. Nascido em Belo Horizonte, ele primeiro atuou ligado ao teatro, até engrenar sucessivas obras audiovisuais especialmente a partir dos anos 2010.

Naturalmente, boa parte desses projetos se deu no contexto mineiro, como o já citado “No Coração do Mundo”, outras obras da produtora Filmes de Plástico — como os curtas “Rapsódia para o Homem Negro” (2015) e “Nada” (2017), ambos de Gabriel Martins — e “Arábia” (2017), de João Dumans e Affonso Uchoa.

Todas, em diferentes níveis, projetaram a produção do estado a nível nacional e internacional, ganhando prêmios e sendo exibidas em diferentes festivais.

Ingrid Trigueiro e Carlos Francisco em cena de 'Bacurau', de Kleber Mendonça Filho
Legenda: Ingrid Trigueiro e Carlos Francisco em cena de "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho
Foto: Divulgação

Antes da aproximação com o cinema cearense, porém, Carlos Francisco foi destaque na produção pernambucana “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho. “A participação teve fundamental importância em minha carreira, eu diria que foi um dos pontos de virada”, reconhece o mineiro. 

A “grande virada”, compreende, veio com a produção mineira “Marte Um” (2022), também de Gabriel Martins, parceiro criativo constante. O filme, no qual interpreta o pai de uma família negra de classe média baixa no Brasil pós-eleições de 2018, recebeu prêmios e representou o País na tentativa de chegar ao Oscar de 2023.

Em 2025, Carlos está novamente no elenco do representante brasileiro na premiação, vivendo o projecionista de cinema Alexandre em “O Agente Secreto”, repetindo a parceria com Kleber.

“Desde a sua estreia no Festival de Cannes, tem sido muito bem recebido pelo público e pela crítica em suas exibições pontuais. Escolhido para representar o Brasil no Oscar, tem grandes chances de se destacar nesta premiação”, confia. 

Sendo presença constante em cinematografias relevantes na produção contemporânea, inclusive como exemplos de descentralização do eixo Rio-São Paulo, o mineiro celebra o momento do cinema nacional, mas também ressalta demandas por mais espaço de exibição.

“Há uma imensa produção autoral com seus vários sotaques, geografias e olhares exibidos em filmes pertinentes, que carecem de um mercado exibidor igualmente potente para concorrer com os cinemas de shopping, ocupados em geral com produção comercial estrangeira”
Carlos Francisco
ator

Projetos em cartaz e futuros

Além da circulação no circuito de festivais de “O Agente Secreto” — cuja estreia comercial ocorre em 6 de novembro — e “Morte e Vida Madalena”, Carlos Francisco pode também ser visto no longa mineiro “Suçuarana”, de Clarissa Campolina e Sergio Borges.

O filme, pelo qual foi premiado como Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília do ano passado, está em cartaz em Fortaleza no Cinema do Dragão. Em breve, irá aparecer também no terror “Enterre Seus Mortos”, de Marco Dutra, que chega aos cinemas em 4 de outubro.

Ator mineiro está no elenco do novo longa de Allan Deberton e do novo curta de Luciana Vieira
Legenda: Ator mineiro está no elenco do novo longa de Allan Deberton e do novo curta de Luciana Vieira
Foto: Leo Lara / Divulgação

Já há a previsão, ainda, de novas produções cearenses com Carlos Francisco.

“A convite da produtora e diretora cearense Luciana Vieira, integrei o elenco de ‘Joqueta’, curta-metragem assinado por ela, que também me recomendou para ‘Feito Pipa’, de Allan Deberton”, adianta.

O novo trabalho do diretor cearense, define o ator, é “um filme sensível que fala de afeto e carinho a partir da relação de uma senhora e seu neto”. “Com um grande elenco, certamente irá comover e divertir e tem tudo pra se tornar um grande sucesso”, antevê.

Finalmente, entre outros projetos em fase de finalização, o ator destaca três: a série "O Natal dos Silva", com direção de Maurílio Martins, Gabriel Martins e André Novais Oliveira, e o longa "Vicentina pede desculpas", com direção de Gabriel, ambos mineiros; e o paulista "Filme do Medo", de Thiago B. Mendonça.

*O repórter viajou para Belo Horizonte a convite do evento

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