Conheça alunos do CE que se destacaram em provas de Humanas a Matemática no Enem 2024

Acerto de 170 questões, nota máxima em provas e redação de destaque são feitos que costuram as trajetórias de “sabidos” que nasceram ou se formaram no Ceará

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
(Atualizado às 12:01, em 20 de Janeiro de 2025)
Estudantes do Ceará que se destacaram no Enem
Legenda: Lucas, Bianca, Pedro e Samuel tiveram resultados de destaque no Enem 2024
Foto: Arquivo pessoal

Desde que o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 foi divulgado pelo Governo Federal, na segunda-feira (13), o movimento começou: notícias e posts em redes sociais se multiplicam estampando os sorrisos de cearenses que foram destaque na prova.

Teve quem acertou 170 das 180 questões do exame. Teve quem atingiu nota máxima em Humanas e em Matemática – ao mesmo tempo. Teve quem escreveu tão bem sobre a valorização da herança africana no Brasil que alcançou 980 pontos na redação. Teve mil.

As histórias de sucesso têm como protagonistas jovens que nasceram no Ceará ou vieram se preparar no Estado que é referência nacional em educação – três deles conversaram com o Diário do Nordeste e você conhecerá aqui.

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“Já consigo esperar a aprovação”

Pedro, estudante do Ceará
Legenda: Pedro é pernambucano, mas cursou todo o ensino médio no Ceará
Foto: Arquivo pessoal

A divisa entre Ceará e Pernambuco não é só geográfica. Em 2022, a vida de Pedro Arthur Cordeiro, 17, mudou do interior do estado vizinho e se instalou em Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, “em busca de melhores oportunidades de estudo”.

Foi em terras cearenses, então, que o adolescente cursou todo o ensino médio e se preparou para alcançar, no Enem de 2024, uma marca histórica: das 180 questões do exame, Pedro acertou 170, o equivalente a 94% de toda a prova.

“Fiquei muito surpreso e aliviado, porque sempre me dediquei e me esforcei bastante, mas ter essa quantidade de acertos eu não esperava. Fiquei com alívio imenso, já pude garantir que consegui minha aprovação. Já consigo esperar a aprovação”, projeta.

Com um gabarito quase fechado e 940 pontos na redação, Pedro, filho de mãe comerciante, pretende ingressar no curso de Medicina – seja na Universidade Federal do Cariri (UFCA), seja na Federal de Pernambuco (UFPE).

“A primeira opção vou colocar na UFPE, em Recife. A segunda, na UFCA, em Barbalha. Assim que entrei no ensino médio, comecei a ter mais contato com a Medicina, com o pessoal da minha família, que tem alguns médicos. Coloquei na cabeça que seria muito bom pra mim”, resume o adolescente.

Além dos diversos simulados e das várias horas diárias de estudos no Colégio Paraíso, instituição privada do Cariri que utiliza a plataforma SAS Educação, Pedro Arthur ressalta um ingrediente que considera “crucial” para quem está se preparando para vestibulares: “cuidar da própria cabeça”.

“Cuidar de si mesmo e fazer atividades fora do estudo. Na minha rotina, passava a manhã e a tarde estudando, e quando chegava umas 18h ia pra academia, assistia a algum filme ou série, saía com amigos, juntava um pessoal pra esfriar a cabeça, me divertir. Pra ter um bom desempenho nos estudos, é fundamental se preservar”, ensina o jovem.

Nota máxima em áreas opostas

Lucas, estudante cearense
Legenda: Cearense as 90 questões distribuídas entre as provas de Ciências Humanas e Matemática
Foto: Arquivo pessoal

Nem “de humanas”, nem “de exatas”. Sabido e ponto. Assim se pode descrever o cearense Lucas Maia, 17, que tirou nota máxima em duas das quatro provas objetivas do Enem 2024: o adolescente acertou todas as questões de Ciências Humanas e de Matemática, 90 no total.

“Quando conferi o gabarito, fiquei feliz, mas sem acreditar. Chequei o gabarito umas três vezes, fiquei muito feliz em ter tido um resultado tão bom”, relatou o estudante, em entrevista ao Diário do Nordeste.

Lucas, que é estudante do 3º ano do ensino médio da Organização Educacional Farias Brito, prestou o Enem pela segunda vez, e afirma que teve mais facilidade na resolução das questões aplicadas na última edição.

"Estudei muito em comparação ao ano passado. A teoria eu já tinha estudado bem em anos anteriores, então dediquei o 3º ano a fazer simulados e questões na prática”, relata, revelando a estratégia que utilizou para atingir o desempenho de destaque.

As notas máximas tão sonhadas não serão utilizadas na prática: o estudante não deseja ingressar em universidades por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O sonho do garoto é adentrar a uma lista seleta que, anualmente, inclui vários cearenses.

“O ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) é a instituição onde realmente quero estudar. Tenho grandes expectativas em conseguir esse objetivo, sonho em trabalhar na área de engenharia aeronáutica.”

“Corrigia erros para evoluir”

Bianca
Legenda: Bianca, estudante da rede estadual em Mombaça, no Sertão Central
Foto: Arquivo pessoal

Além da redação nota mil de um professor, o Ceará deteve um recorde na rede pública: entre os estudantes de escolas estaduais que prestaram o Enem 2024, 32 obtiveram notas iguais ou acima de 980. O maior número do Brasil.

Entre os dígitos está Bianca Lourenço, 18, aluna da Escola de Ensino Médio Professora Ananias do Amaral Vieira, no município de Mombaça, no Sertão Central. Na primeira vez que fez o Enem, a jovem conquistou 980 pontos na produção textual.

“Fiquei muito feliz quando vi a nota, minha família e meus amigos também. E mais feliz ainda porque vi a admiração que eles têm por mim e pelo meu esforço”, declara.

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Sobre como se preparou para conseguir o resultado, Bianca revela uma rotina que reforça: a prática leva à (quase) perfeição. “Me preparei com cursinho online e fazia uma redação por semana. Corrigia todos os meus erros pra evoluir na próxima”, diz.

A preparação técnica se aliou à mental: “não deixei que pensamentos negativos me invadissem. Sempre me imaginava tirando uma nota alta, não dei possibilidade de tirar uma nota baixa, mesmo que pudesse acontecer o contrário. E consegui isso”, orgulha-se.

Com a média do Enem, a jovem de mãe dona de casa e de pai que “trabalha na roça” pretende sair do distrito de Carnaúbas, onde mora, para a capital e ocupar uma cadeira nas salas de aula de Direito ou Engenharia Civil. O curso não decidiu, a instituição, sim. 

“Quero ingressar na Universidade Federal do Ceará (UFC).”

“Vou conseguir em algum momento”

Cinco edições. Esse foi o total de vezes que o estudante Samuel Viturino, 26, prestou o Enem na tentativa de ingressar no curso de Medicina. Egresso de escola pública e formado no ensino médio em 2015, o cearense chegou a conquistar uma bolsa de 100% do Programa Universidade para Todos (Prouni) para cursar Fisioterapia – e o fez.

Em 2024, porém, mesmo com o diploma de fisioterapeuta, decidiu tentar de novo: prestou o Enem para tentar entrar no curso com que sonha, para ser médico. A esperança de conseguir a vaga se renovou ao receber, com surpresa, a nota da redação: 960 pontos.

“Passei na prova do Curso Pré-Vestibular XII de Maio e tive que conciliar o último semestre da faculdade, a escrita de TCC, tudo aquilo, com o cursinho. Fiquei muito feliz pelo resultado, porque tirar uma boa nota na redação era um dos meus objetivos principais”, pontua.

“Comecei o ano escrevendo com pontuação de 640, em março. Em abril, eu já estava com 880, e em maio eu tirei o primeiro 920. Na última semana, antes da prova de redação do Enem, eu tirei 3 notas mil, com temas diferentes”, lembra, sobre a rotina de estudos.

Entre os principais argumentos da dissertação que escreveu estava uma crítica à falta de referências negras e indígenas no currículo do ensino básico. “A nossa história, por exemplo, que contam como descobrimento, foi muito mais invasão”, inicia.

“Como você vai cobrar que uma população valorize a herança africana, se quem escreveu os livros foram os colonizadores? Como cobrar isso se você não trabalha a base, não melhora os livros, não traz a narrativa de pessoas que, na verdade, tiveram que se adequar a uma religião, mudar os seus costumes alimentares, de rituais, de festas?”, completa.

“Cuidar da própria cabeça”, como recomendou o Pedro Arthur, que você conheceu no início desta reportagem, também foi providência tomada por Samuel ao longo do ano de estudo. A “possibilidade de não dar certo” e precisar tentar novamente, assim, precisou dividir espaço com a esperança.

“Eu vou conseguir em algum momento, porque é o meu objetivo. É o meu sonho, é o que eu quero fazer na minha vida”, sentencia.

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