O aquecimento do planeta e as enchentes

Estamos passando por um momento recorde de temperatura no planeta e várias enchentes têm ocorrido, a exemplo das cheias ao redor do Rio Maranguapinho e Rio Ceará em Caucaia

Escrito por
Ednardo Rodrigues producaodiario@svm.com.br
Legenda: A NASA divulgou um estudo onde mostra que o nível dos oceanos subiu 101 mm desde 1993. E está subindo cada vez mais rápido. Em 2024 o aumento foi de 5,9 mm enquanto o esperado era de 4,3 mm
Foto: Ray Bilcliff/Pexels

Recentemente a NASA divulgou um estudo mostrando que o nível dos oceanos está subindo. Isso afeta não só os países baixos, mas o litoral do Ceará. Nesta coluna desenvolvo uma relação contextualizada entre o derretimento das calotas polares na Antártica e o nível dos oceanos. 

Em épocas remotas da história humana, diversos contos de diferentes povos narram um grande dilúvio. O mais antigo deles é o Gênesis de Eridu, conhecido também como Dilúvio Sumério, um texto sumério escrito em tabloides de argila em cuneiforme por volta de 2300 a.C. Cuneiforme é conhecida como sendo a escrita mais antiga do mundo. 

Este é um texto muito interessante relatando um dilúvio global com muitas semelhanças com a narrativa de Noé, que acredita-se remeter-se a algum acontecimento no mesmo período segundo a datação pela genealogia dos patriarcas judaicos.

As semelhanças são claras, o deus do conhecimento sumério, Enki pede a um homem chamado Ziusudra para construir uma grande embarcação e colocar vários animais para salvá-los de um grande dilúvio. Contudo, há diferenças. A maior delas é que os sumérios eram politeístas. 

Esse tipo de conto não costuma sair do nada, algum fato deve ter ocorrido para ter sido interpretado assim. Eu estive estudando o clima deste período e encontrei que a Terra tinha passado por uma era glacial a 8 mil anos antes de Cristo. O nível dos oceanos era 120 metros mais baixo.
 
Isso porque uma grande quantidade de água estava congelada nas calotas polares. Aos poucos, com o derretimento das geleiras, o nível dos oceanos subiu até superar em 10 m o nível atual até os anos 2000 a.C., segundo o gráfico abaixo da Administração Nacional de Atmosfera e Oceano (NOAA) dos EUA.
 
Legenda: Nível do mar milhares de anos atrás.
Foto: NOAA
 
Após a última era glacial a 8 mil a.C., percebemos um aumento do nível do mar. Então existe um mecanismo. O derretimento das geleiras está claramente relacionado ao um aumento do nível do mar.
 
Esse aumento acima de 10m é em relação à média global, portanto, estamos falando de enchentes a 2300 a.C., em todo o planeta, apesar de não ter cobertura em todo o relevo da terra, esse aumento o nível dos oceanos foi sentido em todo litoral mundial. 

Existem fatores naturais e artificiais que provocam o derretimento das geleiras. Contudo, os fatores antrópicos, ou seja, provocados pela ação humana são capazes de acelerar o derretimento das calotas polares. A maior influência está na emissão de combustíveis fósseis como o CO2 das queimadas e monóxido de carbono dos veículos a gasolina e diesel.

Esses poluentes colaboram para o efeito estufa que retém as ondas de calor irradiadas pelo Sol e fazem a temperatura aumentar. Com aumento da temperatura média global, as calotas polares derretem desprendendo grandes icebergs e fazendo o nível dos oceanos subir. A disponibilidade de água excessiva no planeta e a alta taxa de evaporação devido ao calor provoca tempestades mais severas e enchentes mais de nível mais elevado. 

NASA divulgou um estudo onde mostra que o nível dos oceanos subiu 101 mm desde 1993. E está subindo cada vez mais rápido. Em 2024 o aumento foi de 5,9 mm enquanto o esperado era de 4,3 mm. 

Estamos passando por um momento recorde de temperatura no planeta e várias enchentes tem ocorrido. A exemplo das catástrofes na região Sul do país no ano passado, e as cheias ao redor do Rio Maranguapinho e Rio Ceará em Caucaia.

Comentei sobre as cheias que teríamos em uma coluna anterior e quão importante seria se preparar para armazenar esta água para o período de secas no futuro. Também precisamos dar suporte às famílias mais vulneráveis. Essas cheias devem ainda se repetir e ganhar mais intensidade até fim deste mês de abril até o mês de maio. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.