Aos 299 anos, Fortaleza é um diálogo entre tempo, natureza e o modo de vida de seu povo

De alguns milhares no século XIX aos quase 2,5 milhões hoje, são gerações que ergueram paredes, mas também afetos

Escrito por
Alexandre Queiroz Pereira producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 07:45)
Legenda: Não se celebra, aqui, a elevação de muralhas ou um decreto do século XVIII. A festa se renova porque Fortaleza pulsa: gente nasce, parte e chega; histórias se entrelaçam
Foto: Davi Rocha

A data é simbólica, quase um aniversário — como se a cidade fosse gente. Chamamos assim, talvez, pelo hábito de atribuir características humanas a lugares e coisas. No caso de Fortaleza, o afeto justifica: as memórias e os sentimentos que ela inspira tornam essa personificação não só tolerável, mas apropriada.

Comemorar seu aniversário, contudo, vai além de exaltar glórias passadas. É, sobretudo, um convite para enxergar o que está diante de nós. Se a cidade ganha contornos humanos, e se aniversários são momentos de reflexão, o 13 de abril abre espaço para perguntas essenciais: quem somos e que futuro queremos construir juntos?

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Não se celebra, aqui, a elevação de muralhas ou um decreto do século XVIII. A festa se renova porque Fortaleza pulsa: gente nasce, parte e chega; histórias se entrelaçam. De alguns milhares no século XIX aos quase 2,5 milhões hoje, são gerações que ergueram paredes, mas também afetos. Tempos transformados em ruas, monumentos e narrativas que resistem.

Fortaleza, como toda cidade, é um diálogo entre tempo, natureza e o modo de vida de seu povo. Apesar dos desafios — antigos e recentes —, seu maior tesouro é essa gente, numa trajetória quase tricentenária. Homens e mulheres de origens diversas, que moldam sua identidade a cada dia, criam riquezas e enfrentam adversidades com resiliência.

Nativos e adotados, os fortalezenses formam uma sociedade plural, cheia de diferenças, mas movida por uma energia vital que anseia por uma cidade mais justa. Isso, sim, merece celebração.

No entanto, a diversidade sociocultural, marca tão vibrante, é ofuscada por desigualdades persistentes. Aqui, a festa perde o brilho. A cidade com o maior PIB do Nordeste — "o maior bolo", na linguagem econômica — tem o dever de repartir melhor seus frutos. Um aniversariante próspero não exclui seus convidados: em vez de cerimônias vazias, o povo quer escolas, renda, saúde, lazer e segurança.

O verdadeiro sentido do 13 de abril está em reconhecer os que mais sofrem com as injustiças. Que sejam, então, os convidados de honra nesta confraternização coletiva.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.