Aos 299 anos, Fortaleza é um diálogo entre tempo, natureza e o modo de vida de seu povo
De alguns milhares no século XIX aos quase 2,5 milhões hoje, são gerações que ergueram paredes, mas também afetos

A data é simbólica, quase um aniversário — como se a cidade fosse gente. Chamamos assim, talvez, pelo hábito de atribuir características humanas a lugares e coisas. No caso de Fortaleza, o afeto justifica: as memórias e os sentimentos que ela inspira tornam essa personificação não só tolerável, mas apropriada.
Comemorar seu aniversário, contudo, vai além de exaltar glórias passadas. É, sobretudo, um convite para enxergar o que está diante de nós. Se a cidade ganha contornos humanos, e se aniversários são momentos de reflexão, o 13 de abril abre espaço para perguntas essenciais: quem somos e que futuro queremos construir juntos?
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Não se celebra, aqui, a elevação de muralhas ou um decreto do século XVIII. A festa se renova porque Fortaleza pulsa: gente nasce, parte e chega; histórias se entrelaçam. De alguns milhares no século XIX aos quase 2,5 milhões hoje, são gerações que ergueram paredes, mas também afetos. Tempos transformados em ruas, monumentos e narrativas que resistem.
Fortaleza, como toda cidade, é um diálogo entre tempo, natureza e o modo de vida de seu povo. Apesar dos desafios — antigos e recentes —, seu maior tesouro é essa gente, numa trajetória quase tricentenária. Homens e mulheres de origens diversas, que moldam sua identidade a cada dia, criam riquezas e enfrentam adversidades com resiliência.
Nativos e adotados, os fortalezenses formam uma sociedade plural, cheia de diferenças, mas movida por uma energia vital que anseia por uma cidade mais justa. Isso, sim, merece celebração.
No entanto, a diversidade sociocultural, marca tão vibrante, é ofuscada por desigualdades persistentes. Aqui, a festa perde o brilho. A cidade com o maior PIB do Nordeste — "o maior bolo", na linguagem econômica — tem o dever de repartir melhor seus frutos. Um aniversariante próspero não exclui seus convidados: em vez de cerimônias vazias, o povo quer escolas, renda, saúde, lazer e segurança.
O verdadeiro sentido do 13 de abril está em reconhecer os que mais sofrem com as injustiças. Que sejam, então, os convidados de honra nesta confraternização coletiva.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.