Fortaleza registra primeiro paciente com febre oropouche, e doença já soma 310 casos no CE em 2025
Caso é considerado “importado”, porque a pessoa infectada esteve em Baturité, cidade com maior número de confirmações

A febre oropouche, arbovirose transmitida pelo mosquito maruim, já foi diagnosticada em pelo menos 310 pacientes do Ceará em 2025. Com circulação restrita ao Maciço de Baturité, a doença teve os três primeiros casos registrados fora da região: em Fortaleza, em Maracanaú, na Região Metropolitana; e em Quixadá, no Sertão Central.
As infecções são consideradas “importadas”, já que os pacientes estiveram em Baturité e contraíram a doença lá. A informação é de Antonio Lima Neto, o dr. Tanta, secretário Executivo de Vigilância da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Os dados mais recentes sobre a doença são da Sesa, atualizados até 5 de abril, e mostram que o total de infecções pela febre neste ano já é superior ao registrado em todo o ano de 2024, quando 255 pessoas testaram positivo para oropouche, a primeira delas em junho.
Veja também
O aumento expressivo em 2025 – só na primeira semana de abril, foram 86 novos casos – ocorre pela “migração do vírus para áreas que não tinham sido afetadas ano passado”, sobretudo a zona urbana de Baturité, como explica o secretário.
“A doença chegou à área urbana de Baturité, mas os casos não se concentram onde você não tem nichos pro vetor. Tem uma área urbana que se aproxima mais das vias fluviais, onde um morador planta uma banana, ciriguela, forma uma conjunção do micro habitat do maruim”, frisa.
De acordo com dados da Sesa, 72% dos casos de febre oropouche neste ano estão concentrados no município de Baturité, que tem 224 confirmações. Os demais foram detectados em:
- Aratuba (81);
- Fortaleza (1);
- Maracanaú (1);
- Capistrano (1);
- Mulungu (1);
- Quixadá (1).
Os casos de Maracanaú e Fortaleza, reforça, são de pessoas que estiveram na região do Maciço, “importados, e o local de infecção também foi Baturité. É um momento de fato que a doença chega na zona periurbana do município. Existe o mosquito na cidade, que é traçada por córregos”, pontua Tanta.
Durante o início do surto no Maciço, em 2024, a Sesa detectou que os locais de proliferação e reprodução do mosquito maruim (ou mosquito-pólvora), transmissor da febre oropouche, envolvem matéria orgânica disponível, sendo mais comum em áreas de plantio de banana e chuchu, por exemplo.
Febre oropouche pode se “espalhar”?
O secretário Tanta explica que o que mudou na dinâmica da doença entre o ano passado e 2025 foi a chegada do OROV a um “adensamento populacional”. Ele reforça: “o que chegou a Baturité não foi o maruim, foi o vírus”.
“Os criadouros de mosquitos já existem lá há décadas. O que facilitou foi a transmissão residual: pessoas portadoras da doença circularam nos municípios e, como já existe o mosquito nas regiões, houve a transmissão, que foi potencializada”, declara. A transmissão da doença ocorre apenas pela picada do mosquito.
“Em Aratuba, eram povoados de 40 a 90 famílias. Os casos se restringiam a essas pessoas. Agora, a transmissão ganha força, porque chega a um aglomerado populacional mais robusto”, observa Tanta.
Já na Grande Fortaleza, a realidade é distinta. Embora haja zonas de mangues e parques que podem ter a presença do maruim, “não representam importância de saúde pública”. “São áreas que não estão vinculadas nem às casas nem ao plantio de outras lavouras que favorecem a proliferação do mosquito, como os bananais”, elucida Tanta.
Além da vigilância, a Sesa tem intensificado ações de prevenção e educação em saúde, para orientar a população da região do Maciço de Baturité sobre o que é a febre oropouche, como se manifesta e quais as formas de prevenir.
“A expectativa é de que a gente esteja próximo de um platô (estabilidade de casos). Estamos trabalhando pra remover os criadouros dos mosquitos, água parada, folhas em solo, que é ambiente o ideal pra eles”, alerta o epidemiologista.
Gestantes e oropouche
No momento, “a preocupação mais importante são as gestantes”, como classifica o secretário. Já existem, neste ano, 3 casos confirmados da doença em mulheres grávidas, e outros 3 estão em processo de investigação.
“Até o momento não há desfechos desfavoráveis. Todas são de Baturité. Ainda estamos tentando mensurar com mais precisão, mas são gestantes que têm sido acompanhadas”, diz Tanta.
Em 2024, o Ceará registrou um óbito fetal decorrente da infecção da gestante pelo vírus oropouche.
Sintomas da febre oropouche
O diagnóstico da febre oropouche, que tem sintomas muito similares a outras arboviroses, como dengue, é feito por teste laboratorial. O Ministério da Saúde considera suspeitos casos com febre de mais de 5 dias, dor de cabeça forte e dois ou mais dos sintomas:
- Dor no corpo;
- Calafrios;
- Fotofobia (sensibilidade à luz);
- Tontura;
- Dor atrás dos olhos;
- Náuseas, vômitos ou diarreia;
- Meningoencefalite (inflamação no sistema nervoso), em casos graves;
- Manifestações hemorrágicas, em casos graves.
Como prevenir a febre oropouche
Apesar de causar sintomas parecidos com a dengue, as formas de prevenção são diferentes. A chave da proteção contra a oropouche não é o combate ao mosquito maruim, diferentemente do que ocorre em relação ao Aedes aegypti.
A melhor forma de prevenção é evitar o contato com o vetor, por meio de medidas individuais e coletivas, como:
- Evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição às picadas dos vetores (mosquitos);
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo, como mangas compridas, calças e sapatos fechados;
- Aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
- Limpar terrenos e locais de criação de animais;
- Recolher folhas e frutos que caem no solo;
- Usar telas de malha fina em portas e janelas.
“Uma das coisas importantes é que o culicoides, ao contrário do Aedes, não está dentro de casa. Ele vai pras varandas, procura as pessoas, e volta pro meio ambiente. A fêmea do Aedes vive conosco, procurando recipientes dentro de casa”, diferencia o secretário da Sesa.
Tanta reforça que “o futuro do controle da febre oropouche é a capacidade de bloqueio da entrada do mosquito em casa”.
>> Acesse nosso canal no Whatsapp e fique por dentro das principais notícias.