Transmissor da febre oropouche, mosquito maruim está em pelo menos 7 cidades do CE; veja onde

Vetor da doença tem preferência por áreas úmidas para depositar os ovos

Escrito por Nícolas Paulino e Lucas Falconery , ceara@svm.com.br
Legenda: Imagem ampliada do maruim e suas principais características, como manchas nas asas
Foto: Reprodução/Sesa-CE

Bem menor do que uma muriçoca comum, o maruim, mosquito pólvora ou “polvinha”, principal vetor de transmissão da febre oropouche, circula em pelo menos sete cidades do Ceará - e além do Maciço de Baturité, região que concentra os 122 casos confirmados até o momento no Estado. 

A informação foi divulgada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), na manhã desta segunda-feira (12), durante o seminário “Febre do Oropouche: como enfrentar a arbovirose no Ceará”, no auditório da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE).

O maruim pertence à espécie Culicoides paraensis, endêmica das Américas Central e do Sul. Segundo estudos analisados pela Sesa, desde 2019, ele já estava presente em sete municípios cearenses. No entanto, na prática, não representava uma ameaça.

“Até então, ele só causava incômodo, porque não tinha muita relevância para as equipes de entomologia. Não era nossa prioridade, que geralmente é o que está ocorrendo mais de imediato”, disse Luiz Osvaldo Rodrigues da Silva, biólogo e orientador da Célula de Vigilância Entomológica e Controle de Vetores (Cevet), durante a apresentação.

Conforme os levantamentos anteriores, o maruim foi detectado em:

  • Baturité
  • Mulungu
  • Guaramiranga
  • Pacoti
  • Redenção
  • Russas
  • Barroquinha

Chama a atenção a presença de Barroquinha, município do extremo norte do Ceará, e de Russas, no Vale do Jaguaribe, que ficam fora do Maciço. Até o momento, as duas cidades não confirmaram casos da doença.

Legenda: Tamanho do maruim em comparação com a muriçoca comum (Culex)
Foto: Reprodução/Sesa-CE

No entanto, como já passaram cinco anos desde o último estudo, Luiz Osvaldo aponta ser “muito provável” que o Culicoides paraensis também apareça em outros municípios.

A espécie pertence ao gênero Culicoides, que já tem mais de 525 espécies identificadas no Brasil. O mosquito pólvora é bem pequeno e recebeu essa alcunha porque as pessoas “sentem a picada, mas não enxergam”.

A Sesa detectou que os locais de proliferação e reprodução dele envolvem bastante matéria orgânica disponível, como:

  • beira de lagos
  • pequenos igarapés e rios
  • acúmulo de folhas e raízes
  • poças de água
  • sistemas de esgotos
  • túneis de drenagem
  • buracos em árvores

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Áreas úmidas

O epidemiologista Antonio Silva Lima Neto, secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, confirma que o vírus da febre oropouche começou a se disseminar com mais intensidade por vários Estados entre 2022 e 2023.

Provavelmente, essa força de transmissão decorreu de alguma mutação para torná-la mais rápida. As circunstâncias ainda estão em investigação.

Combater a doença, segundo o especialista, passa primeiro por entender como funciona o ciclo do maruim. No Ceará, ele foi mais detectado em áreas de mata úmida, próximas a plantios como banana e chuchu.

Uma das dificuldades de enfrentamento é que o inseto não vive dentro das residências, ou seja, não é possível eliminar os focos. Tampouco o controle químico - usando fumacê, por exemplo - é possível, porque ele vive na mata e pode colocar ovos inclusive em solo molhado.

“A proteção se torna muito individual”, resume o secretário.

Assim, sobretudo no caso das gestantes, ele defende usar repelentes e não se deslocar para áreas ao ar livre onde a circulação do mosquito já foi identificada. 

Sintomas da febre oropouche

Os principais sintomas que têm sido relatados pelos pacientes cearenses com a oropouche são febre, dor de cabeça e dores no corpo, comuns a doenças como dengue e chikungunya. Confira o que aponta o Ministério da Saúde:

  • Febre de início súbito
  • Dor de cabeça
  • Dor muscular
  • Dor articular
  • Tontura
  • Dor atrás do olhos
  • Calafrios
  • Fotofobia (sensibilidade à luz)
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Meningoencefalite (inflamação no sistema nervoso), em casos graves
  • Manifestações hemorrágicas, em casos graves.

Por causa da semelhança com outras arboviroses, as unidades de saúde realizam primeiro testes para essas doenças e, caso descartadas, investigam a presença do OROV. 

Como prevenir a febre oropouche

De acordo com o boletim epidemiológico da Sesa sobre a febre, todos os casos investigados no Ceará têm local provável de infecção em zona rural. 

A melhor forma de prevenção é evitar o contato com o vetor, por meio de medidas individuais e coletivas, como:

  • Evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição às picadas dos vetores (mosquitos);
  • Usar roupas que cubram a maior parte do corpo, como mangas compridas, calças e sapatos fechados; 
  • Aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
  • Limpar terrenos e locais de criação de animais;
  • Recolher folhas e frutos que caem no solo;
  • Usar telas de malha fina em portas e janelas.
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