Dia Mundial do Rock: conheça festivais e novos palcos que mantêm o gênero vivo em Fortaleza
Entre novidades e eventos consagrados, Capital ainda conta com espaços que se dedicam ao rock
Que a capital cearense é sinônimo de forró, ninguém duvida. Mas há outros ritmos que definem, cada um a seu modo, a história de Fortaleza. É o caso do rock, que por aqui chegou com mais força nos anos 80 e 2000, seguindo o exemplo das paradas de sucesso nacionais, mas desde meados dos anos 2010 enfrenta desafios para permanecer relevante, com cada vez menos espaços e eventos dedicados ao gênero.
No entanto, nos últimos anos, a fidelidade do público, aliada ao trabalho de artistas consagrados e novas apostas do mercado de eventos, tem ajudado a impulsionar o rock autoral na Capital novamente.
Se no ano passado o crescimento no número de festivais deu o tom do “revival” do gênero musical localmente, neste ano são pequenas casas de show e os eventos que resistem que consolidam o estilo na Cidade.
Em alusão ao Dia Mundial do Rock, celebrado em 13 de julho, o Verso conversou com artistas e produtores para mapear os espaços que se dedicam ao gênero atualmente e traçar um panorama sobre como Fortaleza tem se relacionado com ele.
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‘Revival’ do rock é cíclico, mas nem sempre chega a artistas independentes
Para a cantora e compositora Mona Gadelha, essa “retomada” do rock em certos espaços não é um fenômeno novo, já que, periodicamente, novas épocas do gênero musical vão sendo redescobertas, algo facilitado atualmente pela possibilidade de “poder acessar arquivos, discografias, filmes – temos uma biblioteca e uma distribuidora de audiovisual nas mãos”.
O próprio ritmo, aliás, nunca parou de ser produzido, porém possui pouco incentivo. “Eu vejo o movimento intenso da cena musical e sei que em muitas regiões da cidade existem trabalhos de bandas de rock e outros subgêneros”, destaca.
“Quando a gente fala em música independente, as oportunidades sempre são mais escassas. Então, o dilema é como tornar essas oportunidades acessíveis para as mais diversas bandas e artistas”, completa. Para Mona, além de festivais temáticos, é preciso que o rock ocupe outros espaços, a exemplo dos centros culturais.
“Acredito que não se trata do gênero que vende mais ou alcança os maiores números nas plataformas, mas de um público fiel que ama o rock e seus muitos subgêneros. Acho que isso vai desde o indie rock aos shows de revival.”
“Pelo que observo, os espaços são os bares, as casas noturnas e os equipamentos das secretarias municipal e estadual da Cultura. Há também festivais, como o Rock Cordel, do Centro Cultural Banco do Nordeste”, elenca.
Apesar de alguns espaços abrirem as portas para o rock, os artistas lidam com dificuldades para conseguir ecoar suas produções artísticas. “Acho que os principais desafios são as estratégias de divulgação e contar com uma mentalidade aberta das curadorias dos espaços”, pontua Mona.
Espaços para o rock autoral
Para Amaudson Ximenes, produtor cultural e fundador do festival ForCaos, evento realizado há 26 anos pela Associação Cultural Cearense do Rock (ACR), além do desafio de conseguir espaço para o rock nos line-ups, as bandas do Estado lidam com outra questão: a de, quando esse espaço é garantido, serem preteridas em relação a grupos de outros estados.
“O público do rock existe e é muito fiel”, pontua. “Sobre os contratantes, estes precisam valorizar mais os músicos e artistas locais. Trabalham com uma lógica do lucro, de valorizar apenas o que vem de fora. Trabalham com a máxima do ‘Ceará Terra dos Outros’”, lamenta.
O músico e produtor relembra que, nos anos 80 e 2000, os espaços eram mais voltados para o rock autoral cearense, especialmente em praças e clubes nas periferias, a exemplo do Clube Tiradentes, no Parque Araxá, e do Internacional, no Monte Castelo.
Para ele, até hoje, com exceção de alguns palcos na região central da Cidade, como o Centro Cultural Banco do Nordeste e o Centro Cultural Belchior – que retomou o projeto “Sexta Rock” em junho, após a reabertura do espaço –, o destaque é de “inúmeras experiências coletivas nas periferias que se mantêm resistentes a ativas”, ressalta.
5 palcos para conhecer em Fortaleza
Apesar de boa parte dos equipamentos culturais e casas de shows da Cidade se dedicarem a eventos multigênero, tendo programações de rock apenas esporadicamente, ainda há alguns espaços que se dedicam inteiramente ao estilo ou tem eventos voltados para o gênero.
A maioria deles equilibra os line-ups com atrações autorais e covers, mas têm focado em abrir espaço para os artistas cearenses mostrarem seu talento em diversos estilos, do rock gótico ao indie, do hardcore ao metal. Confira:
1. Opera Music Bar
Na atividade desde agosto do ano passado, o Opera Music Bar, na Parangaba, hoje ocupa um dos espaços de destaque na cena de rock autoral da Cidade. Além de tributos a bandas de rock, o bar recebe intensa agenda autoral, com bandas cearenses, de outros estados e até internacionais – a exemplo da norte-americana Brujeria, que se apresenta na casa no próximo mês de outubro.
O espaço é gerido pelos dois sócios da M2F Produções, Emanuel Maido e Sérgio Henrique, e foi criado justamente porque a produtora não encontrava palcos que unissem espaço de bar e estrutura para shows de médio porte.
A casa tem capacidade para 600 pessoas e recebe de oito a 10 shows por mês, além de sediar festivais autorais, como Fortaleza Extreme e o Motorcycles Metal Fest. As apresentações contemplam diferentes estilos musicais, do metal ao rock alternativo.
Entre as próximas atrações de destaque estão o cantor Edu Falaschi e a próxima edição do Motorcycle Metal Fest, em agosto, e o Maiden Day, com tributo da banda Children of the Beast (SP).
Serviço
Endereço: Av. Godofredo Maciel, 470 - Parangaba
Mais informações: @operamusicbar
2. Snake Bar
Localizado no Benfica, o Snake surgiu em 2020 e, no pós-pandemia, se consolidou como um dos principais palcos underground da Cidade. Atualmente, o espaço funciona de quarta-feira a sábado e recebe shows de pequeno porte, de tributos a bandas famosas do rock mundial a atrações autorais cearenses, como a Plastique Noir.
Recentemente, o espaço lançou o projeto Snake Autoral, com o intuito de aumentar a grade de programação neste sentido. A casa ainda conta com noites dedicadas ao brega, ao karaokê e à discotecagem de clássicos do rock.
Serviço
Endereço: R. Carapinima, 1994 - Benfica
Mais informações: @snakebar2020
3. Covil Rock’n Bar
Também no Benfica, o Covil está em atividade há quase oito anos e reúne ampla programação autoral e de tributos, com atrações que vão do metal ao punk.
Entre os projetos fixos da casa estão o BatCovil, dedicado a shows e discotecagem de rock gótico, e eventos voltados para o punk rock, como o Covil dos Punk e a Feira Punk.
Serviço
Endereço: Av. Treze de Maio, 2120 - Fátima
Mais informações: @covilrocknbar
4. Esconderijo Rock Pub
No bairro Damas, o Esconderijo tem como foco os shows de bandas covers, mas também recebe bandas de sucesso no Estado e no País. Já passaram por lá, recentemente, grupos Pense (SP), Backdrop Falls (CE) e Lupe de Lupe (MG).
Serviço
Endereço: Av. João Pessoa, 4558 - Damas
Mais informações: @esconderijo.rockpub
5. Hard Noise
Casa underground conhecida pelas festas temáticas dedicadas a diferentes estilos do rock, como punk, emo e gótico, o Hard Noise funciona em um casarão antigo do Benfica e recebe bandas covers e autorais do Ceará e de todo o País.
Serviço
Endereço: R. Carapinima, 1884 - Benfica
Mais informações: @hardnoisebenfica
Dos veteranos às novidades, festivais ainda resistem na Capital
Ainda que eventos que fizeram história em Fortaleza tenham acabado ou entrado em hiato indefinido – caso do Ceará Music, Garage Sounds e Ponto.CE, entre outros –, a Cidade ainda conta com eventos para os entusiastas do rock. Neste segundo semestres, estão previstos pelo menos dois eventos do gênero: o veterano ForCaos, que chega à 26ª edição neste mês de julho, e o recente Eu Quero Rock, que estreou no ano passado e terá sua segunda edição no fim de novembro deste ano.
Conhecido pela descentralização das apresentações e pelo grande número de bandas cearenses no line-up, o ForCaos começa no próximo dia 16 e terá shows em quatro palcos da Cidade. Nos dias 16, 23 e 30, os shows ocorrem no Centro Cultural Banco do Nordeste; no dia 18, a festa é no Esconderijo Rock Pub. No dia 25, o festival chega ao Farol do Mucuripe, no Titanzinho; e, por fim, a Vila das Artes recebe as apresentações do dia 26 de julho.
Entre os artistas que integram esta edição estão Mad Monkees, Plastique Noir, Claudine, Facada, Corja! e Caixão. Ao todo, 23 bandas sobem aos palcos do festival, que tem acesso mediante doação de 1kg de alimento.
Com o intuito de ser um evento de rock voltado para o “público mainstream”, o Eu Quero Rock, organizado pela Underground Produções, chega à segunda edição no próximo dia 30 de novembro. Na primeira edição, o evento dedicou o line-up ao revival do emocore, com atrações como Di Ferrero, CPM 22 e Hateen; nesta, a organização decidiu ampliar os subgêneros e contemplar, além do emocore, o hardcore, o indie rock e o pós-punk.
Se apresentam no festival, que será realizado no estacionamento do Shopping RioMar, as bandas Fresno (SP), Menores Atos (RJ), Rancore (SP), Terno Rei (SP), Jovens Ateus (PR) e a cearense Backdrop Falls.
Segundo Fabrício Moreira, idealizador e produtor geral do evento, a ideia é que o festival se consolide como evento anual e supra uma demanda que existe em Fortaleza no momento. “Acho que a gente está sem festivais com essa pegada que eu estou querendo criar. A gente tem todo um intuito de fazer o festival crescer cada vez mais. Estamos com essa edição agora, mas eu já tô pensando até na terceira, que a gente quer fazer bem maior. Mas depende, primeiramente, de como vai ser essa segunda”, pontua.
O artista destaca que, apesar de produzir eventos underground há anos, especialmente voltados para o público do metal, acredita que ainda existem lacunas para quem curte outros subgêneros do rock no Ceará e em estados vizinhos. “Público nós temos, e ele vem de diversos cantos aqui do Ceará e até de outros estados também, como tem gente se movendo para vir”, ressalta.
“Existe sim uma demanda e um aumento [no interesse]. Até pensei que estava menor, mas ao frequentar bares e casas assim, comecei a ver que ainda existe, e que pode crescer ainda mais”, afirma Fabrício. Para ele, o sucesso de eventos do gênero é fruto, também, de um cena que acontece o ano inteiro e estimula as pessoas a acompanharem e conhecerem bandas, a exemplo dos bares de rock.
“Isso contribui para que chegue em mais gente e sempre estejam falando do rock, o que aumenta o público. Fazer esse festival também é uma forma de chamar outras pessoas para conhecer as bandas e ter um olhar diferente para eles. Aí, quando eles voltarem, vão ter um público maior, inclusive as bandas locais”, destaca.
Apesar de ter não ter tido o lucro esperado na primeira edição e ainda encontrar barreiras para obter patrocínios, Fabrício conta que decidiu apostar novamente no Eu Quero Rock por saber que ainda há espaço para eventos do gênero.
É preciso, no entanto, reconquistar o público e mesclar atrações, investindo em uma curadoria que una bandas de maior alcance, de médio porte e quem ainda está começando. “A gente tem que acreditar um pouco no público, que eu sei que tem, e correr atrás, pra tirar essa galera de casa”, brinca.
Serviço
Festival ForCaos
Quando: 16 a 31 de julho de 2025
Ingressos: Acesso mediante doação de 1kg de alimento não perecível
Mais informações: @forcaos
Festival Eu Quero Rock
Quando: 30 de novembro de 2025
Ingressos: A partir de R$ 100 | Vendas na Gallery Tattoo (RioMar Fortaleza), Planet CDs (Centro), Jazigo (Benfica) e online, no site Bilheto
Mais informações: @eu_quero_rock_