Banda cearense Plastique Noir comemora 20 anos com turnê inédita na Europa e novo álbum

‘Orla Brutal’, novo trabalho de estúdio da banda de pós-punk cearense, tem lançamento previsto para o fim deste ano

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
Um dos principais nomes do pós-punk brasileiro, Plastique Noir completa 20 anos em 2025
Legenda: Um dos principais nomes do pós-punk brasileiro, Plastique Noir completa 20 anos em 2025
Foto: Kid Jr.

Um dos nomes mais longevos do rock nordestino, a banda de pós-punk e rock gótico Plastique Noir chega a um marco importante na carreira em agosto, quando completará duas décadas de atuação ininterrupta. Na esteira do momento de celebração, a agenda cheia e o oitavo álbum de inéditas, previsto para o segundo semestre, refletem as duas principais características do grupo, cada vez mais necessárias para prosperar no cenário underground brasileiro: persistência e inventividade.

Criada em 2005, num período em que diversas vertentes do rock alcançavam um novo boom – com destaque para estilos como pop punk, hardcore e new metal –, a Plastique Noir surgiu da parceria entre Airton S. (vocalista) e Márcio ‘Mazela’ Benevides (guitarrista da banda até 2012), contemporâneos de estudo na Universidade Federal do Ceará (UFC). Na época, os dois já tinham experiência com outros projetos artísticos e faziam parte do momento de fortalecimento da cena musical cearense.

“Tivemos outras bandas que, àquela altura, tinham encerrado atividades e o momento parecia propício para arriscar algo novo”, lembra Airton. “A diferença [da Plastique] estava no estilo, porque não havia ninguém tocando post-punk gótico por aqui”, completa.

Segundo o vocalista, no início dos anos 2000, só a Rebel Rockets – que também conta com integrantes da Plastique Noir e ensaia um retorno em breve – fazia um som semelhante ao que a banda propunha. A ideia do novo projeto era “romper um pouco com uma certa mesmice estilística centrada demais em metal e HC (hardcore)” que havia na Cidade.

A formação inicial da Plastique Noir contava com Airton S. (vocal), Danyel Fernandes (baixo), Márcio ‘Mazela’ Benevides (guitarra) e Max Bernardo (teclados, falecido em 2010). Em 2012, Márcio deixou a banda, Danyel assumiu a guitarra e Deivyson Teixeira entrou para comandar o baixo.

Desde então, mesmo com algumas mudanças na formação original, a banda nunca mais parou. “Ela pode, talvez, não ter crescido sempre à mesma taxa, mas nunca deixou de crescer”, ressalta Airton, que hoje acumula o papel de vocalista e gestor executivo da banda.

Veja também

Após duas décadas de alegrias e desafios, é justamente próximo ao 20º aniversário – o primeiro ensaio oficial do grupo ocorreu em 30 de agosto de 2005 – que um sonho antigo da Plastique se realiza: a primeira turnê na Europa, ventilada há anos e viabilizada somente agora, com um planejamento financeiro afiado e muita correria para fazer os shows acontecerem.

Anteriormente, o grupo já tinha se apresentado ao público internacional em duas turnês latino-americanas, nos anos de 2018 e 2024.

A série de quatro apresentações em solo europeu começou no último domingo (8), com público animado e casa cheia em Leipzig, na Alemanha, no festival Wave-Gotik-Treffen, considerado o maior evento de música gótica do mundo.

Os shows continuam durante todo este fim de semana. Nesta sexta-feira (13), a banda se apresentou em Paris, na França; neste sábado (14), aterrissa em Madri, na Espanha, e no domingo (15), no Porto, em Portugal.

Turnê viabilizada em meio a desafios

Banda é uma das precursoras do rock gótico cearense
Legenda: Banda é uma das precursoras do rock gótico cearense
Foto: Kid Jr.

Em entrevista ao Verso, o vocalista da banda, Airton S., conta que um dos grandes desafios para concretizar os esperados shows desta semana foi conseguir agendá-los em meio ao verão europeu, quando a circulação de bandas é maior e nomes com maior alcance costumam ser privilegiados por agências e contratantes. 

Por isso, apesar de agora fazer parte do cast de uma agência, a Plastique teve que negociar por fora para que a turnê se concretizasse. “Quando percebi que o embarque estava se aproximando e nossas datas ainda eram poucas, tive que correr de forma independente em busca de contatos”, explica o artista.

“Talvez tenha a ver também com o fato de que o Plastique Noir demorou para cruzar o Atlântico, então foram surgindo outros nomes recentemente, com mais hype e mais procura. Faria tudo diferente numa próxima”, pontua. “Mas está sendo um aprendizado valioso”, completa. 

A expectativa é que, além de poder levar shows aos fãs de outros países, as apresentações na Europa ajudem no aumento do ticket nos shows nacionais, possibilitando a sustentabilidade dos novos projetos da banda.

No retorno ao Brasil, a Plastique deve seguir com agenda intensa, com shows em diversos pontos do País no segundo semestre. Em julho, o grupo retorna ao Norte para duas apresentações, em Marajó e Belém, e volta a Fortaleza para shows especiais em tributo às bandas The Cure e The Smiths. Manaus (AM), São Paulo (SP) e Curitiba (PR) também integram a rota de shows deste ano.

Novo álbum traz “retrato crítico e solidário” de Fortaleza

Capa do novo álbum da Plastique Noir, previsto para o fim de 2025
Legenda: Capa do novo álbum da Plastique Noir, previsto para o fim de 2025
Foto: Reprodução/Plastique Noir

Previsto para o fim do segundo semestre, o álbum “Orla Brutal” terá dez faixas e busca fazer “uma leitura um tanto ácida, mas nem por isso menos orgulhosa desse lugar que pariu o Plastique Noir”, explica Airton. “É um retrato crítico e, ao mesmo tempo, solidário”, pontua.

A capa do disco, já divulgada pela banda, ilustra a Ponte Velha da Praia de Iracema e outro elemento que remete tanto à memória afetiva e histórica da Capital – um bode.

Na contracapa, um termômetro marcando 36ºC deixa claro que a música é, também, geograficamente localizada, abordando questões sob um ponto de vista diferente de outras cenas góticas do País. Faixas como “Nordeste, Palestina” complementam o recado.

Relação da banda com a cidade é um dos temas explorados no novo álbum
Legenda: Relação da banda com a cidade é um dos temas explorados no novo álbum
Foto: Kid Jr.

Segundo Airton S., “Orla Brutal” é “fruto de revisitação de rascunhos antigos de músicas que não ganharam a luz do dia”, assim como parte das faixas do álbum mais recente da banda, Iskuros (2021). As gravações e a conclusão da pré-produção devem ser finalizadas após a turnê na Europa e o resultado final deve chegar às plataformas no fim de 2025.

“Todas as faixas já existem nas suas estruturas completas: com letra, começo, meio e fim.  A pré-produção será da Vanessa Almeida, que canta e toca com o Danyel no Ariel Void”, conta Airton S. A mix, master e produção final será assinada por Jean Rié, parceiro musical antigo da banda.

Indo na contramão do formato que tem se consolidando na era do streaming, até a finalização do processo, a banda não pretende dar spoilers de novas músicas. “Não pensamos em singles até então. É capaz de sair tudo ‘vráu’, de uma vez só”, brinca o vocalista, que promete pelo menos um ou dois videoclipes como complemento do disco. 

“Eu curti muito escrever essas músicas: acho que nunca fui tão verdadeiro, tão honesto comigo mesmo, liricamente”, antecipa.

Fortalecimento da cena gótica cearense

Nos anos pós-pandemia, uma “nova onda” da subcultura gótica – anunciada como “espírito do tempo” – tomou conta da cultura pop, com novos filmes, livros e músicas voltados para o sombrio. Como parte desse movimento, a demanda por novos artistas góticos e o reconhecimento de quem já faz parte dessa história há tempos se fortaleceram nos últimos anos, incluindo a valorização de bandas nacionais alinhadas ao estilo.

Vista hoje como uma das capitais mais góticas do País, Fortaleza tem participado desse revival com novos eventos, artistas e entusiastas de gêneros musicais como o rock gótico, pós-punk e darkwave, o que pôs, novamente, a Plastique Noir em evidência.

Especialmente em redes sociais como o TikTok, onde baby goths da geração Z compartilham dicas de maquiagem, looks e artistas favoritos relacionados à subcultura, a banda tem feito sucesso em trends e vídeos que buscam “orientar” novos adeptos do mundo gótico.

“Sei que frequentemente aparece alguma influencer fazendo, por exemplo, prova de roupa ou dançando ao nosso som, e às vezes são vídeos com centenas de milhares de views e likes, e a galera me envia para que eu fique sabendo”, comenta Airton, que pouco usa o TikTok, mas se diverte com os vídeos e a nova leva de fãs.

“É gratificante, você sente que não foi à toa que ralou tanto. A cena hoje é muito maior que do que há dez anos, cresceu muito”, pontua.

Para o artista, de modo geral, o Brasil está bem posicionado no roteiro gótico mundial, recebendo pelo menos dois ou três grandes shows por ano – e o impacto chega até a terra natal do Plastique Noir. 

“Isso muito por conta da parceria entre o Madame Club [lendário clube gótico de São Paulo] e a Wave Records, sendo que pelo menos um desses é sempre a gente que abre. Esse crescimento rápido da popularidade do gênero se reflete aqui em Fortaleza também, onde a cena já nem depende mais do Plastique Noir para andar com as próprias pernas”, ressalta.

Serviço
Acompanhe a agenda e as novidades da banda: @plastiquenoir

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados