Show do Guns N’ Roses reabre portas para turnês internacionais em Fortaleza?
Apresentação será a primeira internacional de grande porte realizada na capital cearense em quase dez anos.
Após o Guns N’ Roses anunciar que fará um show em Fortaleza em 2026, uma pergunta que há muito circula entre entusiastas da música do Ceará voltou a ecoar: o que falta para a Capital voltar a ser palco frequente de grandes turnês internacionais, como nos anos 2010?
Entre os fãs, a expectativa é que, com a vinda da banda de hard rock norte-americana, artistas e produtoras internacionais voltem a olhar para Fortaleza como um possível mercado a ser explorado. Mas será que a apresentação pode ajudar a colocar a capital cearense no mapa nacional de shows novamente? A resposta é complexa, envolve muitos fatores e pode ser resumida em: não necessariamente, mas é possível que sim.
Só entre 2010 e 2016, a capital cearense recebeu atrações internacionais como Jennifer Lopez, Evanescence, Paul McCartney, Beyoncé, Elton John e o próprio Guns N’ Roses, que veio a Fortaleza pela primeira vez em abril de 2014, para um show no Centro de Eventos. O show do Scorpions, em setembro de 2016, foi o último internacional que reuniu algumas milhares de pessoas.
Apesar de a realização de grandes shows de nomes estrangeiros envolver aspectos que vão além de haver público suficiente – como a disponibilidade de agendas dos artistas e a variação do câmbio, que costumam ser os maiores desafios –, a boa recepção do anúncio e a rapidez na venda dos ingressos para o show Guns N’ Roses podem colaborar diretamente para a recuperação do setor de grandes eventos.
Isso porque, segundo a Arte Produções, produtora responsável pelo show em Fortaleza, no dia da abertura da venda geral, 25 mil ingressos foram vendidos em apenas 30 minutos, uma demonstração clara de que há demanda para grandes shows por no Ceará e no Nordeste – já que são esperados milhares de turistas de estados vizinhos.
A produtora espera que até 50 mil fãs encham o Castelão no dia 18 de abril. Caso essa projeção se confirme, será o segundo maior público de shows no Castelão, perdendo apenas para Paul McCartney, que reuniu cerca de 55 mil fãs em 2013.
Até o fechamento desta reportagem, quase todos os setores estavam com ingressos esgotados. Segundo a assessoria do evento, 98% dos ingressos foram vendidos já no primeiro dia de venda geral, na última terça-feira (2).
Veja também
Apesar da projeção positiva para o show, outros fatores podem colaborar para a vinda de outras grandes turnês internacionais para a Capital nos próximos anos. Confira três dos principais pontos nesse sentido:
1. Recuperação do setor em andamento
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos - Ceará (Abrape Ceará), Colombo Cialdini, o principal aspecto que contribui para o retorno de Fortaleza ao mapa do turismo de shows internacionais é a recuperação do setor no pós-pandemia.
Para Colombo, ainda que o cenário ainda esteja longe do ideal – estima-se que a recuperação completa ainda leve cerca de uma década –, é fato que o setor já encontra certa estabilidade após os difíceis anos de crise. “Se nós não tivéssemos um franco crescimento e recuperação, a possibilidade desse show vir para cá era zero – esse ou qualquer outro”, destaca o presidente.
Cialdini ainda explica que, com o crescimento do mercado de shows internacionais na Capital, outras cidades também se beneficiam, já que o turista que vem a Fortaleza muitas vezes costuma ir também a praias como Preá, Canoa Quebrada e Jericoacoara.
“Um evento desse tem um impacto socioeconômico incomensurável. Um exemplo é que dezenas de milhares de fãs que não terão oportunidade de ir à turnê do Guns N’ Roses em outros estados, virão para Fortaleza e ficarão nos hotéis, comerão nos restaurantes, pegarão Uber, táxi, vão às barracas de praia”, completa.
Apesar das dificuldades advindas da reconstrução do mercado de eventos a nível mundial – alta do dólar, aumento de cachês e diversas questões logísticas, por exemplo –, Colombo afirma que “o setor de eventos está extremamente aquecido, gerando emprego e renda, palcos, infraestrutura, além de um volume enorme de profissionais de diversos segmentos” e que “o dinheiro está voltando a circular”, mesmo em estados fora do eixo dos grandes eventos, como o Ceará.
2. Repercussão do Guns N’ Roses
Além do impacto financeiro, um fator positivo na vinda de uma turnê internacional de grande porte tem a ver com a repercussão midiática que um show com milhares de pessoas costuma evocar.
Assim como as apresentações pós-reinauguração da Arena Castelão seguem no imaginário regional e nacional – e artistas de fora têm olhado com mais carinho para o Brasil depois de mega eventos como o “Gagacabana”, por exemplo –, as imagens de um estádio lotado para celebrar uma banda clássica do rock podem empolgar o mercado nacional e internacional. Afinal, a máxima “quem não é visto, não é lembrado” é ponto decisivo no turismo de shows.
“Nós vamos ter o Castelão lotado, indiscutivelmente”, aposta Colombo Cialdini. “Com isso, centenas de milhões de pessoas vão olhar para o estado do Ceará e a cidade de Fortaleza. Esses shows são repercutidos para o resto do mundo”, completa.
O presidente da Abrape Ceará relembra que Fortaleza nunca teve grandes problemas para receber mega turnês, tendo obtido sucesso tanto em logística, quanto em estrutura e na capacidade do setor de serviços.
Caso a apresentação do Guns N’ Roses corra conforme o esperado, como de costume, será mais uma conquista importante para o turismo de shows em Fortaleza.
3. Castelão com abertura para shows no gramado e agenda mais livre
Antes da megaturnê Caetano e Bethânia, que passou pelo Castelão em novembro do ano passado, o gramado da Arena Castelão só havia recebido um show de grande porte em maio de 2016, quando a banda Iron Maiden se apresentou em Fortaleza. Desde o show dos irmãos baianos, nenhuma outra apresentação ocorreu nesse formato, e apresentações musicais aconteceram apenas no estacionamento da arena.
A abertura para o show do Guns N’ Roses demonstra uma mudança importante nesse cenário. Apesar de nunca ter havido uma proibição oficial de shows pela gestão do Governo do Estado, o longo hiato sem grandes turnês e uma declaração do governador Elmano de Freitas (PT) de que a prioridade do espaço seria sempre o futebol em 2024, às vésperas do show Caetano e Bethânia, podem ter afastado o Castelão do mercado de shows nacional.
O pensamento, apesar de lógico, destoa do que fazem arenas em todo o País. “Hoje tem mais shows no Allianz Parque, do Palmeiras, do que jogo de futebol”, brinca Colombo Cialdini. “Existem tecnologias de ponta, de primeiro mundo, que permitem preservar o gramado, uma estrutura que rega a grama sem quebrar, mesmo tendo gente pisando e um volume grande de pessoas. Isso tem no mundo inteiro”, aponta.
Para o presidente da Abrape Ceará, é importante que a gestão aposte no Castelão também como um espaço para o mercado do entretenimento, como aconteceu nos anos 2010.
“Se forem inteligentes, se entenderem a importância desses shows para o Ceará a nível econômico, na geração de emprego e renda, o Governo do Estado do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza têm que dar todas as condições para que o estádio e o entorno estejam viabilizados”, comenta. “E não é só para receber o Guns N’ Roses não, é para receber o mundo inteiro do entretenimento”.
Em 2026, com os jogos de futebol da Série A mais espaçados, a arena deve ter mais datas livres para receber artistas – ainda que, com o calendário festivo do primeiro semestre e a Copa do Mundo 2026, a esperança resida no segundo semestre. Felizmente, é justamente esse o período do ano considerado o mais movimentado no mercado de shows.