Com mistura de forró das antigas e pop, Vanessa A Cantora se destaca em grandes eventos e planeja EP

Após ganhar evidência no circuito de festas da noite de Fortaleza, Vanessa A Cantora planeja novo formato de shows e lançamento de EP para 2024

Ainda no município de Chaval, a 400 km de Fortaleza, a pequena Vanessa Carvalho dava asas à imaginação quando “brincava de cantar” com um microfone de plástico. Era, ali, a gênese de uma relação forte com a música que se estenderia pelas décadas seguintes. Hoje, aos 33 anos e se apresentando como Vanessa A Cantora, a artista desponta na noite fortalezense, em grandes eventos e planeja lançamento de EP com mistura de forró das antigas e pop

“Chaval é divisa com o Piauí e, ali, a gente não tinha muito acesso a arte. O contato era assistir a Xuxa (risos) e um canal de TV que passava muito o Michael Jackson. O mais próximo de arte que tinha era ouvir música: muito forró, meu pai ouvia muito Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano”, lembra Vanessa em entrevista ao Verso.

Do pop ao louvor

O panorama de referências e experiências ligadas à linguagem se alargou quando, aos sete anos, a cearense se mudou para Fortaleza com a família. “Aí já tinha outros artistas em quem eu me inspirava: Sandy e Júnior, as minhas divas pop como Mariah (Carey), Beyoncé, Whitney Houston”.

A prática na música, no entanto, veio a partir dos 10 anos, quando ela entrou na igreja evangélica por influência da avó e se inseriu em grupos artísticos da comunidade. Tendo começado a cantar, se firmou no Ministério de Louvor aos 13 anos.

Foi ao entrar no grupo que começou a fazer aulas de canto — motivada, a princípio, por um rumor espalhado pela mãe de uma colega também cantora. “Ela queria que só a filha dela fizesse parte. Eu cantava baixinho porque era tímida, mas a irmã começou a espalhar: ‘Ela não canta, devia sair’”, lembra Vanessa, que se diverte ao revelar a resolução do conflito.

“Como eu sempre fui do tipo ‘se você duvidar de mim, eu vou fazer’, eu reagi. ‘Ai, é?’, pois arranjei uma professora de canto e dali, meu amor, não deitei pra mais ninguém”, ri-se a artista. Como frutos, aprendeu a se impor e impostar a voz, talentos que levou consigo para a carreira artística que iniciou ao se desligar da igreja, aos 25 anos.

Barzinhos

“Pouco antes de eu sair, eu já estava cogitando começar a cantar em barzinho como forma de ganhar dinheiro. Só botei em prática depois, em 2018. Comecei bem devagar: conheci uma pessoa e outra, fui fazendo parcerias”, lembra Vanessa. 

O caminho que trilhava na noite foi barrado pela pandemia e ela chegou a pensar em deixá-lo de lado. “Fui trabalhar vendendo acessórios numa concessionária, terceirizada. Não pretendia voltar (a cantar)”, conta. Mas, em 2021, a música se impôs. “Começou todo mundo, um barzinho e outro, a me ligar querendo saber onde eu estava, se estava cantando de novo”, avança.

Foi a partir dessa procura que a cantora estruturou um formato de show baseado, inicialmente, nas referências iniciais de música que trouxe consigo de Chaval. “Resgato meu repertório de forró das antigas da minha vida. Quando fui montar, sabia de cabeça 100 músicas que trago comigo desde criança até agora”, reflete.

Acrescentando personalidade própria às músicas já conhecidas pelo público, Vanessa foi ganhando evidência em espaços como o Bar Lions e The Lights e eventos como a Feira Auê, a festa A Noite Mais Triste do Mundo e a XII Parada da Diversidade Sexual de Messejana e Região Metropolitana.

Nos palcos da Praia de Iracema

Com essa circulação, a artista foi, aos poucos, se introduzindo para novos públicos. O ápice — até agora — desse movimento se deu nestes primeiros meses de 2024, nos quais a artista apareceu como convidada em duas ocasiões durante grandes eventos da Capital.

Em janeiro, no Férias na PI, dividiu vocais em algumas músicas no show do cantor Getúlio Abelha. Já em fevereiro, participou do Carnaval de Fortaleza a convite do Bloco Mambembe. As duas apresentações ocorreram no palco do Aterrinho da Praia de Iracema.

“Quando Getúlio me convidou, meu Deus, foi uma oportunidade de milhões pra mim. Não imaginava cantar naquele palco. Pretendia fazer algo para estar lá nesse ano, mas não já no começo. E o convite do Mambembe… não esperava ter ido com o Getúlio, imagine voltar!”, descreve Vanessa.

“Foi muito significativo para mim, porque sei que muita gente me conhece e que muita gente não sabe nem ainda quem eu sou. Então, é uma oportunidade pra galera se ligar, saber que aquela moça existe e despertar a curiosidade de ir saber quem ela é”, reconhece a artista

Lançamento autoral 

Questionada se tem desejo de ocupar um palco como esse com um show próprio, Vanessa não titubeia para afirmar que sim. “No dia que essa oportunidade aparecer para mim, quero fazer algo muito meu”, antevê. Em movimentos recentes, a cantora tem testado um novo formato de show, com balé de pop e forró e também DJ. 

“Quero juntar o tradicional com o atual, envolvendo todes, fazer uma mistura. É, para mim, só um vislumbre, um gosto, do que quero trazer neste ano para, em nome de Jesus, o show da Vanessa na PI”, torce.

Em paralelo com o novo momento de shows, a cantora também planeja para 2024 o lançamento oficial do EP de estreia. O projeto está com financiamento coletivo aberto desde o início do mês e contará com produção do rapper Emiciomar.

“Vai ter música autoral minha, letra dele, versão trazendo música internacional para o português... Quero muito fazer uma mistura. A gente já tem uma ideia, mas não vai fugir do forró. Vai continuar forrozão, mas de cara nova”, adianta. Os primeiros resultados do processo de gravações, ela instiga, devem sair “em breve”.

Para Vanessa A Cantora, 2024 já vem se revelando como um ano de colher frutos — que, inclusive, estão excedendo as expectativas e pretensões da artista. Por isso, o período será também de plantar ainda mais.

“Quero que até o fim do ano o EP esteja pronto, com a nossa cara, e também levar meu show para locais que a gente não alcançou ainda", almeja. “Acredito que o que eu tô te falando está sendo bem humilde e, com fé, que venha a ser maior, porque realmente tudo que tenho pensado tem acontecido duas vezes mais”, celebra.

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