Cria da Sabiaguaba, multiartista Mumutante se destaca na música com expressividade e parcerias

Cantora, compositora, atriz e palhaça, cearense Mumutante traz na sua arte a força do trabalho coletivo.

Escrito por João Gabriel Tréz , joao.gabriel@svm.com.br
A multiartista cearense Mumutante une música, atuação, dança e palhaçaria na trajetória
Legenda: A multiartista cearense Mumutante une música, atuação, dança e palhaçaria na trajetória
Foto: Thiago Gadelha

Os grupos de cultura popular da Sabiaguaba foram a base inicial do florescimento na arte para Muriel Cruz, 24 anos. Daquele solo fértil, ela se encaminhou para experiências de formação em diferentes linguagens, construindo a multiplicidade de expressões que marca a atuação da hoje cantora, compositora, atriz e palhaça. Para 2024, a multiartista aponta como prioridade a música — na qual assina como Mumutante —, adianta planos de lançamentos e celebra os caminhos marcados por coletividade.

“O primeiro contato com arte foi justamente onde nasci, na Sabiaguaba. Lá tinha grupos de reisado, pastoril, quadrilha. Eu assistia e queria muito fazer parte”, inicia Muriel em entrevista por telefone ao Verso

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O desejo foi atendido muito por conta da disposição da menina às práticas artísticas diversas. “O povo ficava me colocando pra tudo que aparecia porque eu estava sempre muito disposta a fazer qualquer personagem, qualquer coisa. Amostrada mesmo”, ri-se.

A partir de 2016, as experiências no bairro se somaram àquelas que Muriel passou a buscar em diferentes espaços da Cidade — do Theatro José de Alencar, onde foi aluna dos cursos Princípios Básicos de Teatro e Iniciação em Dança Contemporânea, ao Centro Cultural Bom Jardim, equipamento no qual usufruiu de um curso de palhaçaria.

Os contatos iniciais de Mumutante com a arte se deram na Sabiaguaba, onde ela nasceu e cresceu
Legenda: Os contatos iniciais de Mumutante com a arte se deram na Sabiaguaba, onde ela nasceu e cresceu
Foto: Thiago Gadelha

Mumutante na música

“Nessa época, na minha cabeça, eu queria ter formações. Formações e informações. Daí me jogava nesses cursos”, explica. A diversidade de linguagens experimentadas moldou o caráter múltiplo de atuação da artista, que hoje assume reconhecer na música o caminho principal.

“Todas (as artes) se ajudam muito, mas a música atualmente é o que tem me dado mais retorno de sobrevivência. Vivo fazendo ‘bicos’ na arte, mas ela é o que tenho levado mais a sério e tem sido a frente do meu caminho”, reflete, ressaltando o impulsionamento mútuo entre as linguagens.

Entre eventos de música nos quais Mumutante circulou com a Família Fazeno Rock, estão o cearense Festival Zepelim (na foto) e o paulista Primavera Sound em 2023
Legenda: Entre eventos de música nos quais Mumutante circulou com a Família Fazeno Rock, estão o cearense Festival Zepelim (na foto) e o paulista Primavera Sound em 2023
Foto: Tainá Cavalcante / Divulgação

Afinal, nos shows que faz atualmente — sejam os no formato solo ou nas turnês com o amigo e parceiro artístico Mateus Fazeno Rock —, o conhecimento de atuação ajuda na performance; já no musical “Caetanas”, com o qual também circulou pelo Ceará e pelo País, as artes cênicas se encontram com a música.

Primeiros lançamentos 

A gênese dessa relação hoje central se deu na internet, quando Muriel gravava e postava vídeos de covers. Os conteúdos viralizavam de maneira positiva, mas viver daquilo parecia impossível. A virada se deu em 2020, já na pandemia.

Se antes a artista se arriscava como cantora e compositora, seja na igreja ou em rodas de sarau, o passo seguinte natural foi gravar. “Lancei minha primeira música, ‘Baculejo’, e foi muito doido. A galera começou a dar muito streaming, me seguir. Estava chegando numa bolha que não conhecia muito, que era a da música”, relembra. 

De lá para cá, Muriel lançou outras faixas próprias e em parcerias, como “formatei-me” (2020), “Vai Dá Bom” (2021, com Emiciomar) e “eu te amo” (2022). Ela tem acompanhado, ainda, a chamada Família Fazeno Rock, grupo de artistas que se soma ao projeto musical de Mateus Fazeno Rock, no qual atua como backing vocal.

“Tem sido uma experiência muito incrível, a gente tem conhecido muitas pessoas, lugares e culturas — e muitos perrengues também (risos), uns que a gente nunca imaginou que ia passar, mas que estamos superando a cada dia com mais maturidade”, avança Muriel.

O coletivo, ela adianta, está trabalhando junto em prol dos próximos passos da carreira dela. Ao Verso, Muriel adianta os planos de lançamento de um single para depois do Carnaval — “uma coisa quarta-feira de Cinzas, pós-festa”, instiga — e ainda um novo EP, este sem previsão de data.

Enquanto as novidades não chegam, Muriel vem circulando com apresentações musicais. “Ano passado foi a primeira vez que cantei num festival com o show solo, no Elos. Tive um retorno positivo, muita gente gostou, chegou junto, e também surgiram vários convites”, celebra.

Legenda: "A música atualmente é o que tem me dado mais retorno de sobrevivência", compartilha a cantora e compositora Mumutante
Foto: Thiago Gadelha

“Em bando”

A coletividade marca não apenas este momento atual da artista, mas toda a trajetória: dos grupos de tradição da Sabiaguaba às turmas dos cursos realizados por ela, passando ainda por experiências como as das festas Crioula e A Noite Mais Triste do Mundo, nas quais Muriel também se engaja.

“Quando a gente se junta, consegue não apenas distribuir o peso da caminhada, mas distribuir um retorno que vai ajudar no dia a dia”, aponta. “Estamos construindo com pessoas que tem família, filhos, que tem que ajudar parentes. São pessoas que têm um caminhar e vêm de um lugar parecido com o da gente, então trazemos conforto pros nossos e pra gente”, ressalta.

“A Fazeno Rock é uma família mesmo
Legenda: “A Fazeno Rock é uma família mesmo", diz Mumutante sobre o grupo de artistas que se soma ao projeto musical de Mateus Fazeno Rock
Foto: Reprodução / Instagram

Para Muriel, o caminho feito em conjunto é essencial. “A Fazeno Rock é uma família mesmo, a gente compartilha muita coisa, se impulsiona e se ajuda em muitas questões. Estar junto, muitas vezes, é um dos únicos motivos para aliviar algumas coisas nos espaços que a gente frequenta e nos perrengues que a gente passa”, credita a artista.

"Passar por essas situações em bando gera mais segurança, porque em lugares em que se entra só, a gente é seguido, olhado, mas quando entra em bando consegue ir mais longe sem medo”, finaliza.

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